Política

“Daniel Vilela não sabe conviver com o contraditório”, diz prefeito de Turvânia

Redação

Publicado em 19 de abril de 2018 às 01:41 | Atualizado há 4 meses

Não foi só no PSDB que a intervenção em diretórios municipais causou des­conforto entre os correligionários. No MDB, o presidente do partido e deputado federal Daniel Vilela surpreendeu o prefeito de Turvânia, Fausto Mariano (MDB), ao imple­mentar uma comissão provisória do partido no município. Ele foi o primeiro prefeito a declarar apoio à pré-candidatura do senador Ronal­do Caiado (Democratas) ao gover­no de Goiás e também o primeiro a ter o diretório destituído na cidade, o que causou revolta.

Em entrevista exclusiva ao Diário da Manhã, Fausto Mariano comen­tou a decisão e questionou a adoção de velhas práticas políticas no MDB que está sob comando de Daniel Vilela. “Ele não sabe conviver com o contraditório, com pensamentos divergentes e programáticos. São sinais de pura imaturidade política”, afirmou. “A história já provou que os absolutistas que dissolvem partidos não representam o novo e sim a ve­lha política”, resumiu o emedebista.

Além de Turvânia, outros dire­tórios do MDB foram substituídos, caso de Anápolis, onde o presidente Eli Rosa anunciou apoio à pré-can­didatura de Ronaldo Caiado ao go­verno de Goiás. Outros prefeitos e líderes políticos integram o grupo dissidente do MDB, entre eles Adib Elias (Catalão), Ernesto Roller (For­mosa), Paulo do Vale (Rio Verde) e Renato de Castro (Goianésia).

O presidente estadual do MDB, Daniel Vilela diz que a executiva não pretende expulsar os prefeitos e li­deranças infiéis, mas que o Conse­lho de Ética vai apreciar os pedidos de exclusão que forem protocolados.

 

 

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

O senhor foi surpreendido com a implantação de uma comissão provisória do MDB em Turvânia. Acredita que o fato está relacionado ao apoio que o senhor declarou recentemente a Ronaldo Caiado?

Claro que fui surpreendido. Nosso partido tem suas origens nos grandes movimentos demo­cráticos desse País. Porém, infe­lizmente, o MDB há muito perdeu sua verdadeira essência e princí­pios pelos quais foi fundado. O deputado Daniel Vilela, que hoje preside o partido em Goiás, não consegue conviver com o contra­ditório, com pensamentos diver­gentes e programáticos. São sinais de pura imaturidade política, cor­roborada com perseguições àque­les que não concordam com seus interesses políticos pessoais.

O senhor avalia que uma candidatura dele ao governo é movida por interesses pessoais?

Daniel Vilela quer se candi­dato a qualquer custo, sem ou­vir as vozes das ruas, a vontade do povo. Tem apenas 6% das in­tenções de votos segundo a últi­ma pesquisa Serpes e ficaria em terceiro lugar na disputa pelo go­verno este ano. Ele não tem o direi­to de levar o MDB de Goiás à sua maior derrota, de colocar em risco a vitória da Dona Iris para depu­tada federal. Depois das eleições sobrará, como sempre, ao gran­de líder Iris Rezende recolher os cacos, pois o MDB, nas mãos do Daniel Vilela, virou um partido pequeno. Ele perdeu prefeitos im­portantes, vereadores, dois im­portantes deputados estaduais, o ex-deputado José Essado e vá­rias outras lideranças.

Tem faltado espírito democrático no comando do partido?

Com certeza. Daniel Vilela e Maguito Vilela faltaram às aulas de democracia direta e indireta representativa, que fala que os partidos políticos são plurais e orgânicos, passíveis de corren­tes com pensamentos e pontos de vistas divergentes, inclusive salutar ao crescimento do pró­prio partido, senão vira autori­tarismo. Política se constrói con­versando com o povo, captando o seu sentimento por mudan­ça e dialogando com todos as siglas de oposição, es­tabelecendo critérios re­publicanos para a es­colha do candidato a governador que represente as ver­dadeiras forças oposicionistas.

Acredita então que houve mesmo retaliação no caso de Turvânia?

Não tenho dúvidas que esse ato autoritário e arbitrário de dissolução do diretó­rio do MDB de Turvânia foi uma retaliação à mi­nha posição de querer o melhor para o meu Estado de Goiás, pois fui o primeiro prefei­to do MDB a declarar apoio Ronaldo Caiado, um aliado político do MDB goiano. Trabalha­rei para que o Ronaldo Caiado te­nha, em Turvânia, a sua maior votação proporcional no Esta­do de Goiás.

Como o senhor e os emedebistas do município receberam essa notícia de dissolução do Diretório do MDB de Turvânia?

Perplexos e sem compreender. Daniel Vilela e o ex-prefeito Ma­guito Vilela já divergiram várias vezes dentro do próprio MDB. Em 2014, na pré-campanha, eles de­fenderam com unhas e dentes a candidatura do Júnior do Friboi para o governo de Goiás e nunca foram retaliados pelo presidente do partido à época, o ex-deputa­do Samuel Belchior. Em 2010 eles defendiam a candidatura do en­tão ministro Henrique Meirelles para governar Goiás, atendendo pedidos da alta cúpula do MDB em Brasília. Quando o Maguito Vilela foi candidato a governa­dor em 2006 eu o apoiei, porém o mesmo divergiu outra vez e não quis realizar coligação alguma. Relembro também que quando o MDB, liderado pela Dona Iris, realizava caravanas da oposi­ção no Estado, Maguito Vilela, na época prefeito de Aparecida de Goiânia, vivia dizendo ser seu so­nho era votar em Marconi Peril­lo para Presidente da República.

Em 2016 Daniel Vilela adotou a mesma prática ao dissolver diretórios municipais que não quiseram lançar candidaturas próprias a prefeito.

Esse assunto tam­bém domino e cito exemplo. Daniel Vilela, já presi­dente do MDB, dissolveuodire­tóriodopartido em Firminó­polis, onde o MDB iria ter candi­dato competitivo para disputar a eleição. Daniel Vilela, numa cane­tada só, rachou o MDB de Firmi­nópolis e o entregou para coligar com o PP, partido aliado do ex­-governador Marconi Perillo e do governador José Eliton, que havia presidido o PP em Goiás. Resulta­do: o prefeito do PP foi eleito com margem apertada dos votos com a ajuda do MDB e do Daniel Vile­la. A história já provou que os ab­solutistas que dissolvem partidos não representam o novo e sim a ve­lha política, pois não conseguem conviver com ideias divergentes e fazem de grandes siglas partidos cada vez menores e mais fracos.

No último pleito o MDB conseguiu elegerpoucosprefeitosemcomparação com eleições anteriores. O senhor acreditaqueagestãodeDanielVilela à frente do MDB tem diminuído o partido, como chegou a dizer o prefeito Adib Elias?

O Daniel Vilela como presidente regional do MDB é um desastre, a começar pela forma como ganhou a elei­ção para o diretório, de forma to­talmente truculenta, com inter­pelações na justiça, com atos de afronta e desrespeito à Dona Iris, ao Nailton, ao Iris Rezende, com direito a tiros dentro da sede do Diretório Regional do MDB. To­dos as ações imaturas do Daniel à frente do MDB tem diminuído o partido. Além de o MDB estar perdendo em quantidade de lí­deres, temos perdido principal­mente em qualidade.

Maguito Vilela afirmou em 2015 que só os partidos nanicos é que dissolvem os seus diretórios. O senhor concorda?

Por incrível que pareça, até en­tão eu concordava que somente os partidos nanicos que dissolviam di­retórios ou comissões provisórias; que não respeitavam seus prefeitos, vereadores, presidentes e líderes das mais variadas representações. Porém o Daniel Vilela, talvez por estar voltado a diminuir o MDB, resolveu adotar essa sórdida prá­tica autoritária. Nunca teve num palanque político em Turvânia para ajudar os candidatos. Já o Ronaldo Caiado percorreu o Esta­do ajudando os prefeitos do MDB a ganharem as eleições.

Acredita que a instabilidade nos diretórios pode prejudicar a chegada de novas lideranças, que não ficariam seguras em relação ao posicionamento do MDB?

Lógico que sim. Quem vai que­rer vir para o MDB que aprendeu adotar práticas autoritárias de des­tituição de diretórios e que nunca chamou um prefeito para expor suas ideias por serem contrárias às do presidente? O partido nas­ceu da ebulição das mais varia­das ideias democráticas e repu­blicanas, o MDB não tem e nunca terá dono! Ouvi do prefeito Adib Elias inúmeras vezes que Da­niel Vilela é o único pré­-candidato ao governo que não gosta de sen­tar à mesa para conversar. O Adib tentou inúmeras vezes uma agen­da para o Daniel Vilela receber nosso grupo formado e ele nunca nos recebeu em conjunto. Nosso grupo defende e sempre defendeu a união das oposições em Goiás.

Com esse quadro, qual pode ser a perspectiva do partido se chegar com a candidatura isolada para o governo de Goiás?

O MDB perdeu importantes aliados nas últimas semanas. Na­cionalmente o partido vive o seu pior momento, com personagens comoRenanCalheiros, ValdirRaup, Eliseu Padilha, Sarney, Romero Jucá, Moreira Franco, Eduardo Cunha, Gedel Vieira Lima e o pre­sidente Michel Temer ocupando há anos os noticiários com inú­meros indícios de corrupção, al­guns já condenados e presos pela Operação Lava Jato. Não é difícil entendermos que, para essa elei­ção de 2018, onde a ética e a ho­nestidade serão bandeiras princi­pais, o MDB é, de fato, a segunda maior vergonha nacional, só está atrás do PT, isso se não estiver em pé de igualdade.

O senhor acredita que decidir as coisas em convenção seria mais democrático do que dissolver diretórios?

Lógico que decidir o futuro de um partido nas convenções é um ato por demais democrático, sa­lutar ao partido. Ali estaremos discutindo ideias e plataformas de governos, alianças, quem será o melhor candidato para pro­mover o crescimento e desenvol­vimento de Goiás, quem possui mais experiência, mais partidos que o querem, uma melhor cha­pa proporcional e majoritária. Porém, o Presidente Daniel Vile­la prefere as dissoluções dos dire­tórios no interior. Como o Daniel Vilela quer ser o novo na políti­ca se não aceita ideias contrá­rias às suas, é intolerante, não gosta de dialogar com aqueles que pensam na importância da união das oposições?

 

 

 



O deputado Daniel Vilela, que hoje preside o partido em Goiás, não consegue conviver com o contraditório, com pensamentos divergentes e programáticos. São sinais de pura imaturidade política, corroborada com perseguições àqueles que não concordam com seus interesses políticos pessoais.”

 

A história já provou que os absolutistas que dissolvem partidos não representam o novo e sim a velha política, pois não conseguem conviver com ideias divergentes e fazem de grandes siglas partidos cada vez menores e mais fracos.”

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