Política

Derrota frustra governistas, e aliados do Planalto avaliam abandonar CPI do INSS

DM Redação

Publicado em 22 de agosto de 2025 às 08:46 | Atualizado há 30 minutos

Caio Spechoto – Folha Press

A derrota sofrida pelo governo na eleição para o comando da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do INSS deixou aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) frustrados e sem ânimo para se desgastar no colegiado defendendo a gestão petista. Ao menos dois integrantes da comissão de inquérito indicaram nos bastidores que querem deixar o grupo.

Tratam-se dos senadores Eduardo Braga, líder do MDB, e Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente do Senado. Nenhum dos dois era entusiasta da CPI desde o início, mas a perda do comando do colegiado deixou a permanência de ambos insustentável, na avaliação de congressistas ouvidos pela Folha.
Havia um acordo, costurado com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que o senador Omar Aziz (PSD-AM) presidisse a CPI e o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) fosse o relator.

Tanto Aziz quanto Ayres têm proximidade com a gestão Lula. Mas o plano de colocá-los na cúpula do colegiado precisava ser confirmado em uma eleição no primeiro encontro oficial dos integrantes da comissão.

O governo se descuidou enquanto a oposição se organizava. Aziz perdeu a eleição de presidente da CPI na quarta-feira (20) para o senador Carlos Viana (Podemos-MG), que escolheu Alfredo Gaspar (União-AL) como relator. O comando de opositores sobre a comissão de inquérito deixará muito mais desgastante o trabalho de quem quiser defender o governo.

Braga e Renan devem ter conversas com a bancada de senadores emedebistas nos próximos dias para comunicar a vontade de deixar o colegiado e, provavelmente, escolher dois substitutos.

Caso a troca seja confirmada, é provável que haja um enfraquecimento político do grupo lulista na comissão. Braga e Renan estão entre os integrantes mais poderosos do Senado.

O plano governista para proteger a gestão Lula na CPI inclui a participação de congressistas com densidade política também foram indicados para o colegiado outros três líderes de bancada governistas, Cid Gomes (PSB-CE), o próprio Aziz (PSD-AM) e Rogério Carvalho (PT-SE).

Depois da derrota, ainda na quarta-feira, congressistas aliados de Lula foram ao Palácio do Planalto para uma reunião com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, responsável pela articulação política. Em seguida, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), falou a jornalistas que a culpa pela derrota havia sido dele próprio.

Randolfe também afirmou que os aliados do governo têm maioria na CPI e podem decidir quais requerimentos para convocar depoentes ou quebrar sigilos bancários serão aprovados.

As contas da oposição convergem com as do governo, mas há uma nuance. A maioria seria apertada e, graças ao fato de bolsonaristas e lulistas integrarem formalmente o mesmo bloco na Câmara, deputados suplentes de direita podem votar no lugar de deputados governistas caso esses estejam ausentes.

Isso acontece porque houve um arranjo político na Câmara para quase todos os partidos, inclusive PT e PL, ficarem no mesmo bloco usado para dividir os principais postos de poder na Casa. A aliança não tem nada de programática: era apenas para dividir cargos, mas acabou servindo para que a oposição tomasse o controle da CPI.

Agora, setores da direita querem usar o colegiado para desgastar Lula mais ou menos como a CPI que investigou as ações do governo federal na pandemia de Covid-19, em 2021, desgastou o então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um dos principais alvos do grupo bolsonarista é José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico. Ele é irmão de Lula e vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), uma das entidades citadas no escândalo de descontos ilegais em aposentadorias.

Opositores do governo, como o senador Izalci Lucas (PL-DF) e o relator da CPI, Alfredo Gaspar, já apresentaram requerimentos de convocação e até de quebra de sigilo bancário de Frei Chico. As primeiras votações no colegiado são aguardadas para a semana que vem.

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