Política

“É preciso acabar com o foro privilegiado”

Diário da Manhã

Publicado em 17 de fevereiro de 2018 às 22:09 | Atualizado há 4 meses

Após o carnaval, o nosso país terá mais dois grandes mo­mentos de muita emoção no ano que principia: a Copa do Mundo e as eleições do mês de ou­tubro, quando serão decididos os nossos destinos. Por meio da pa­lavra fácil, com o plano de governo na ponta da língua e praticamente pronto, o senador Álvaro Dias (Po­demos-PR) recebeu a reportagem do Diário da Manhã, quando mos­trou, com todas as letras, que sua candidatura é pra valer.

Sua experiência administrativa como governador do Paraná, além de sua atuação na vida pública por mais de quatro décadas e, sem má­culas, certamente o credenciam a pleitear a presidência da República com chances reais de ir para o segun­do turno e até vencer a disputa. Com­batente da corrupção que tomou conta do país nos últimos anos, o presidenciável luta contra o foro pri­vilegiado e não admite que o país seja de brasileiros de primeira e segunda classe. Ele complementa afirmando que a justiça tem que ser igual para todos: para o peão de obra e tam­bém para o presidente da República.

No seu discurso construído de forma cuidadosa e com um por­tuguês escorreito, o senador pa­ranaense diz que as reformas es­senciais são fundamentais para o desenvolvimento pleno da nação brasileira, tais como a previdência social, tributária e educacional. Em seu entendimento, a economia tem que crescer à medida em que se dá a distribuição de rendas. Desta for­ma favorecerá efetivamente todos os segmentos de nossa sociedade. Veja abaixo a entrevista com o pa­ranaense, que acredita numa vitória semelhante à de Davi contra Golias.

DM: Como está a receptividade em suas andanças Brasil afora, com vistas ao pleito de outubro de 2018?

Álvaro Dias: “Estamos preo­cupados com a postura que deve ser adotada, pois o povo brasilei­ro já sofreu demais. Sofreu com a corrupção que se alargou com a incompetência do governo. Hoje o povo espera uma alternativa que possa significar a recupera­ção de suas esperanças. Alternati­va que possa reviver a fé perdida durante esses anos de corrupção e incompetência. É grande a res­ponsabilidade e nós não podemos frustrar mais uma vez a popula­ção. Por isso, estamos preocupa­dos, em primeiro lugar, em apre­sentar como patrimônio a nossa trajetória e como fizemos. Preten­demos mostrar para todo o país qual foi o nosso desempenho na administração do Estado do Pa­raná. É evidente que para gover­nar o país é preciso ter experiên­cia administrativa”.

DM: O que acha que a população espera como candidato ideal?

Álvaro Dias: “A população é sábia e, nas pesquisas de opinião, fica patente que é preciso ter ex­periência administrativa e passa­do limpo. Isto é mais importante que as propostas. Você pode ob­servar aqui na minha mesa de trabalho, que estes enormes volu­mes de papel encadernados são parte de nosso projeto. Estamos elaborando com muita atenção um plano de governo para apre­sentar nossas propostas ao povo brasileiro. Os referidos volumes são subsídios para um projeto que atendam aos clamores da popu­lação nos quatro cantos de nos­so país. Com isso, vamos chegar à opinião pública com o que dizer. Vamos contar para o Brasil o que nós pretendemos fazer se chegar­mos à presidência da República. Esse tem sido o nosso trabalho, no início de pré-campanha eleitoral”.

DM: Fernando Collor lançou sua pré-candidatura no plenário do Senado, quando falou de forma clara sobre a mão pesada do Estado na segurança pública. O mesmo tema é o carro-chefe do projeto rumo ao Palácio do Planalto do também presidenciável Bolsonaro, que defende com unhas e dentes a segurança pública, inclusive sugerindo que o cidadão ande armado. Como encara os dois candidatos?

Álvaro Dias: “Não basta falar apenas que vai botar a mão pesada na segurança pública e que o povo precisa necessariamente de andar armado. Onde estão suas propos­tas? Até agora eu não vi a apresen­tação de propostas de nenhum dos dois pré-candidatos para a seguran­ça pública, nem dos demais pré­-candidatos. Acredito que quem apresentar propostas, dizendo o que tem que fazer, precisa dizer também como vai fazer. Dizer de onde virá o dinheiro, pois sem di­nheiro ninguém fará nada pela se­gurança pública. É preciso dinheiro para equipar as polícias; é preciso dinheiro para preparar e classificar tecnicamente os profissionais da segurança pública; é preciso de di­nheiro para remunerar bem a po­lícia, pois polícia mal remunerada não será uma polícia eficiente.

DM: Onde os candidatos podem arrumar o dinheiro?

Álvaro Dias: “Onde se vai bus­car o dinheiro, pois o caixa do Te­souro Nacional está vazio. Falar em segurança pública começa em Brasília com a refundação da Re­pública. Esta é minha proposta! Nós temos que refundar a Repú­blica promovendo uma grande reforma no Estado, enxugando o Estado. Desta forma os chupins da República estão consumindo toda a receita do País e não sobra dinheiro para a segurança públi­ca. Neste sentido, eu aprovei um projeto no Senado, que está na Câ­mara, parado. O referido proje­to obriga a aplicação integral dos recursos do orçamento na segu­rança pública, sob pena de cri­me de responsabilidade sujeito ao ministro da Justiça e ao pre­sidente da República. Este proje­to está parado estrategicamente na Câmara e nunca é aprovado. Portanto, recurso é fundamen­tal e é evidente que depois temos que trabalhar o aparelhamento do Estado para defender o cida­dão. No meu entendimento, te­mos que armar é o Estado para ele defender o cidadão, sem pre­juízo do uso de arma. Claro, quem quiser usar uma arma, certamen­te vamos flexibilizar essa legisla­ção para permitir o uso correto de uma arma. Contudo, quem não puder se armar, como fazer? São 52% da população abaixo da linha da pobreza. A maioria dos bra­sileiros não tem sequer dinheiro para comprar alimentos e remé­dios. Por isso, nós temos que ar­mar o Estado. O Estado tem que defender ricos e pobres”.

DM: Como resolver o problema do desemprego de imediato.

Álvaro Dias: “Também o início é solucionado em Brasília e com a refundação da República. Todas as reformas necessárias precisam ser implementadas. A reforma tri­butária, o sistema federativo, a reforma da previdência e a refor­ma da educação. Todas essas cer­tamente são reformas essenciais que vão alavancar o progresso e o desenvolvimento com geração de emprego e renda. A reforma tri­butária, por exemplo, é um ins­trumento poderoso para a gera­ção de empregos. Se reduzirmos a carga tributária, a economia vai crescer mais. Com o crescimento da economia, indiscutivelmen­te vai gerar a oportunidade de trabalhos e salários. Obviamen­te, o governo vai arrecadar mais com a população pagando me­nos impostos, portanto a receita será maior. Por isso é uma refor­ma essencial. Quando se fala em política econômica e geração de empregos, a reforma tributária é fundamental”.

DM: O Brasil nunca passou por uma limpeza tão grande como a da Operação Lava Jato, que se arrasta desde março de 2014. Na sua opinião, a Lava Jato está chegando ao final e seu papel foi cumprido?

Álvaro Dias: “Está cumprindo exemplarmente o seu papel, mas falta algo para complementação, ou seja: o fim do foro privilegiado. A manutenção do foro privilegia­do ao final vai deixar uma sen­sação de impunidade, pois mui­tas autoridades não serão sequer julgadas. As ações prescreverão e a impunidade derrota a justiça! Para comemorar o surgimento de uma nova justiça no Brasil, nós precisamos de acabar, já, com o foro privilegiado. O meu projeto foi aprovado no Senado. Se a Câ­mara aprovar o fim do foro pri­vilegiado, a Operação Lava Jato será um sucesso retumbante, pois as autoridades com mandato tam­bém poderão ser presas e respon­sabilizadas civil e criminalmen­te, e colocadas na prisão”.

DM: Sobre a possível prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, condenado pelo TRF-4 em segunda instância. O que acha se, no caso de prisão, ela ocorrerá breve ou se vai demorar

Álvaro Dias: “A legislação man­da a prisão do Lula ser efetivada e nós temos que respeitar. Se nós advogamos o estado de direito, obviamente temos que respeitar a legislação vigente. A procura­dora-geral da República Raquel Dodge, no dia 14 de fevereiro, en­caminhou ao Supremo o seu pa­recer contra o habeas corpus que tenta impedir a prisão do ex-presi­dente Lula. Ela foi taxativa e disse que condenado em segunda ins­tância tem que ir para a prisão. Dodge disse mais, que a prisão do ex-presidente Lula extingue a cons­trangedora distorção existente na legislação do processo penal. Por­tanto, se nós queremos consolidar o processo democrático em respei­to ao estado de direito, temos que cumprir a legislação, e ninguém está acima da lei, mesmo sendo um ex-presidente da República”.

DM: Muitos analistas falam sobre o crescimento econômico priorizando o social. Qual sua opinião sobre o assunto?

Álvaro Dias: “É evidente que houve uma época em que se ad­vogava o crescimento do bolo pri­meiro, para depois dividi-lo. Foi na época do ex-ministro da fa­zenda Delfim Netto. Hoje nós te­mos que trabalhar com as duas vertentes: o crescimento da eco­nomia e a distribuição de renda. Neste caso, eu volto à reforma tri­butária, que é um instrumento poderoso de distribuição de ren­da. Nós podemos fazer a econo­mia crescer distribuindo renda, por meio do imposto de renda. Nós podemos reduzir e enxugar o sistema tributário. Temos mais de 70 itens entre taxas, impostos e contribuições sociais. Podemos criar o imposto de movimentação financeira, extinguindo todas as siglas de impostos e adotar o im­posto de renda só para os ganhos mais elevados. Com isso, nós va­mos distribuir rendas, fazer jus­tiça social e obviamente reduzir o preço dos produtos. Ao reduzir a carga tributária, vamos redu­zir o preço dos produtos que são consumidos. Certamente a arre­cadação não sofrerá prejuízo, pois continuará inteira e poderemos trabalhar uma alíquota para o imposto de movimentação finan­ceira, que corresponda às neces­sidades atuais. Neste caso, todos pagarão. Quem ganhar mais pa­gará mais e, quem ganhar menos pagará menos. A economia cres­cerá mais e o governo arrecadará muito mais. Isto é essencial e po­deremos promover uma política efetiva de distribuição de renda”.

DM: Apesar de ser um importante debatedor no Congresso Nacional, o senhor pertence a um partido pequeno e com pouco tempo de rádio e televisão. O senhor conseguirá unir partidos para ampliar o seu espaço nos meios de comunicação, que permitam ao senhor mostrar seu projeto para todo o país antes do dia da eleição?

Álvaro Dias: “Estou tentando quebrar paradigmas. O lógico para ganhar uma eleição presidencial é ter uma ampla coligação e estrutu­ras alargadas. Nós pensamos dife­rente e achamos que o eleitor está muito mais ligado do que antes e certamente vai dispensar os inter­mediários. Ao nosso ver será estabe­lecida uma relação direta do elei­tor com o candidato. Desta forma, as estruturas perderão para o con­ceito, para a imagem, para a pos­tura e para as propostas também; sobretudo, para o histórico e o pas­sado vivido. Eu acredito firmemen­te que a nossa história nesta eleição será como a de Davi contra Go­lias. É isso que poderá acontecer! Davi derrotou Golias e, nesta elei­ção um candidato de um partido menor, mas com o passado lim­po e preparo para governar, po­derá derrotar candidatos com am­plas alianças, mas que não têm o histórico que o povo almeja. Neste sentido, a população está atenta e sabe que o bolo fica muito peque­no para todo mundo comer. Se to­dos estão do lado de lá: os políticos tradicionais, os partidos podero­sos, entre outros; a população po­derá vir para o lado de cá, pois ela é inteligente! Estou apostando na inteligência das pessoas, e precisa­mos substituir este sistema, ou seja: o sistema das coligações amplia­das que têm custado muito caro ao Brasil pelo fato de elas serem cons­truídas na base do toma lá, dá cá! Vale lembrar que o loteamento de cargos puxa para baixo a qualida­de da gestão. É por isso que o Bra­sil está mal. Nós esperamos que a nossa comunicação forte, coeren­te e verdadeira mude o tradicional pelo necessário e melhor. Se houver a possibilidade de uma coligação menor, com partidos que aceitem as novas propostas de mudança, o rompimento com o sistema atual, aceitaremos os novos companhei­ros. Não vamos negociar nossas convicções e não vamos alterar nossas propostas”.

DM: Qual sua palavra de esperança para o povo brasileiro?

Álvaro Dias: “Eu vou aqui res­suscitar a canção de Raul Sei­xas: ‘Tenha fé em Deus, tenha fé na vida, e tente outra vez.’ A de­cepção é grande, a desesperança campeia, mas é preciso reviver a fé perdida. É preciso ressuscitar as esperanças que foram sepulta­das. É preciso caminhar esse ca­minho difícil de caminhar, mas que vai nos levar ao futuro. Nós temos que trabalhar a coesão na busca de um destino, um destino melhor para o Brasil. Acho que te­mos que ter esperança.

 



Para comemorar o surgimento de uma nova justiça no Brasil, nós precisamos de acabar, já, com o foro privilegiado”

É preciso ressuscitar as esperanças que foram sepultadas”

 


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias