Goiano que descobriu segredo da China para a ‘prosperidade’
Diário da Manhã
Publicado em 27 de maio de 2018 às 00:16 | Atualizado há 4 meses
- Edival Lourenço Júnior diz que Deng Xiao Ping, pai das reformas, afirma que socialismo não é sinônimo de pobreza e que enriquecer seria glorioso
- PIB dos EUA, hoje, é de U$ 20 tri e cresce a 2,3%. PIB chinês é de U$ 13 tri e cresce a 6,5%. Se esses números se mantiverem, 10 anos para ultrapassagem
- Richard Nixon e Mao-Tsé-tung promoveram degelo, porém, relações econômicas e comerciais aceleraram pós-reformas promovidas no ano 1989, observa
Graduado em administração de empresas pela PUC [GO], com MBA Internacional pela Universidade de Pequim, Edival Lourenço Júnior mudou-separaaChinaem2011. Agressivo no mercado, virou executivo de uma empresa. Gigante estatal da área ferroviária. Ele faturou dinheiro por atacado. Um sonho acalentado por dez entre dez empreendedores no Brasil e no Mundo. O gestor empresarial explica, com exclusividade, o segredo da receita do espetacular crescimento da economia do País. O pontapé teria sido o degelo, de Richard Nixon [EUA] e Mao-Tsé-tung, em 1973, temperado com as reformas promovidas por Deng Xiao Ping, pós-1989, e o ingrediente novo do pé no acelerador de Xi Jin Ping. Um mix que produziu a explosão do PIB, o Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas do País, hoje em 13 trilhões de dólares, com crescimento de 65,% ao ano. Um economia em franca expansão que poderá ultrapassar os Estados Unidos das Américas, a maior e mais robusta economia do Planeta Terra, até 2025.
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O que explica o crescimento explosivo da China de 1976 a 2018?
Edival Lourenço Jr. – No final da década de 70, Deng Xiao Ping disse “socialismo não é sinônimo de pobreza. Enriquecer é glorioso. Não importa se o gato é branco ou preto, contanto que ele cace ratos” em uma referência à disputa conceitual entre capitalismo e socialismo. A China vivia em profunda miséria. Deng é o pai das reformas econômicas. Com o conceito de socialismo de mercado. Ele criou as Zonas Econômicas Especiais e atraiu capital estrangeiro para investir na China. Empresas multinacionais viram nisso uma oportunidade de se beneficiar da mão de obra barata e um mercado gigantesco. O resultado foi um crescimento estrondoso, quase que milagroso, sem precedentes na história moderna. Da costa leste rumo ao centro do território foram feitos investimentos pesados em infraestrutura e incentivo à exportação. Nesta década, a fonte do crescimento têm migrado para o consumo interno.
É possível a China superar os EUA em crescimento econômico?
Edival Lourenço Jr. – É possível e provável. É uma questão de tempo. Hoje, o PIB americano é da ordem de U$ 20 trilhões e cresce a 2,3%, enquanto o PIB chinês já é de U$ 13 trilhões e cresce a 6,5%. Se esses números se mantiverem, levará 10 anos para isso ocorrer. O dia em que isso se materializar, este fato, mesmo que isoladamente, será extremamente relevante para o contexto mundial. A primeira vez, desde o Séc XVIII, que um País não ocidental, não democrático-liberal e de língua não inglesa, como a maior economia do globo.
Como conceituar o modo de produção da China? Não seria capitalismo de Estado sob monopólio do PCC [Partido Comunista Chinês]?
Edival Lourenço Jr. – Socialismo de Mercado ou Comunismo no molde chinês. A China é complexa. Complexidade gera singularidade. Não se pode tentar entender a China com conceitos pré-definidos. Não há um modelo de desenvolvimento ideal. Tampoucoumsistema econômico e político que sirva a qualquer país. Ao contrário dos soviéticos, os chineses conseguiram criar umaformadecomunismoquefunciona economicamente, que evolui e progride. Há quem diga que os chineses foram os únicos que leram Karl Marx e entenderam. Uma vez que Marx jamais sonhou em eliminar o lucro do sistema produtivo. Existem, sim, setores considerados estratégicos para o Governo e neles operam somente as Estatais Chinesas raras exceções -, por exemplo, setor financeiro, de transporte, de energia, de imprensa, segurança e telecom.
Richard Nixon e Mao-Tsé-tung teriam promovido o degelo nas relações econômicas e comerciais entre os dois países?
Edival Lourenço Jr. – Sim, aquele encontro foi histórico e pode, sim, ser chamado de degelo. Porém, na prática, asrelaçõeseconômicasecomerciaiscomeçaram a existir de fato após as reformaspromovidasporDengXiao Ping já no ano 1989. O presidente Mao tinha uma visão mais protecionista, mais fechada. O mérito da abertura foi de Deng, inclusive ocorreu contra a vontade da “ala Maoísta”. Que alegava que fábricas estrangeiras somente iriam explorar os trabalhadores chineses. A história provou que a abertura era necessária, inclusive para perpetuação do Partido Comunista.
O que provocou o desaceleramento da economia da China, pós-2008, com a redução das importações de comoditties do Brasil?
Edival Lourenço Jr. – Na verdade, do ponto de vista do crescimento de economia, de 2008 até 2011, a China seguiu crescendo a uma média de 10%. A crise mundial não chegou a afetar a China naquele momento. Após isso, de 2011 em diante, já no comando do novo presidente Xi Jin Ping, o ritmo de crescimento veio desacelerando. Eu já estava na China e vi isso ocorrer na prática. Inclusive lembro que se falava muito em “hard land” ou “soft land” [pouso brusco ou pouso macio] em referência a uma potencial situação de crise gerada pela desaceleração. Xi assumiu o comando tendo um grande desafio de implementar reformas. Até então, o modelo vigente era com base em um forte investimento governamental em infraestrutura e uma economia voltada para exportação, aproveitando-se da ainda mão de obra barata. Daquele momento em diante iniciava-se uma nova fase. Um modelo mais focado no aumento de renda e consequente incentivo ao consumo interno. Quanto à redução da importação de comoditties, a redução de investimento em infraestrutura acarreta na redução da compra de minério de ferro. Era uma situação óbvia, uma vez que se tem um aeroporto, ou uma ferrovia, não necessariamente se precisa construir outra no curto espaço de tempo. Já nas comoditties agricolas, a demanda segue crescente.
Como se dá suas relações trabalhistas na China?
Edival Lourenço Jr. – No meu caso, como estrangeiro, me incluo em uma categoria chamada de Foreigner Expert [Especialista Estrangeiro]. O conceito desta categoria é que eu tenho conhecimento ou habilidades que não se encontrariam em um Chinês. No meu caso, o conhecimento de mercado da AméricaLatina e habilidades linguisticas.
Qual o eixo de sua palestra, em Goiânia?
Edival Lourenço Jr. – Como se trata de um Fórum de Empreendedorismo, vou falar das novidades tecnológicas e do ecossistema para empreender na China. Tentar mostrar um novo eixo de desenvolvimento global. Como sou um brasileiro [Goiano] que mora na China desde 2011, acredito que tenho algo a contribuir com esse ângulo de visão. Convidarei as pessoas a visitar a China e olhar para o país de uma forma mais positiva.
É possível um brasileiro, de Goiás, empreender, hoje, na China?
Edival Lourenço Jr. – Sim, perfeitamentepossível. Eupessoalmente optei pela carreira executiva. Porém, tenho amigos estrangeiros que optaram por empreender, registrar empresa, contratar pessoal e tal. Estão bem.
Conte-nos a sua experiência?
EdivalLourençoJr.– Me mudeipraChinaem2011. Inicialmenteparaestudar um MBA pela Universidade de Pequim. Já em 2012 fui convidado para me mudar para cidade de ZhuZhou. Província de HuNan, centro-sul, para trabalhar para uma subsidiária do grupo CRRC China Railway Rolling Stock Corporation Maior empresa do setor ferroviáriochinês, consequentemente, do mundo. Atualmente, ocupo o cargo de Gerente Sênior de Negócios para América Latina.
A sua experiência obteve êxito financeiro?
Edival Lourenço Jr. – Sim! Afinal foram anos de dedicação. Não veio nada de graça. Em especial fui bastante beneficiado pelo câmbio. Em 2011, um yuan chinês comprava 0.25 reais, hoje um yuan chinês compra 0.60 de reais. A moeda “real” tem se desvalorizado muito. Ser remunerado em moeda estrangeira neste contexto tem suas vantagens.
Qual a sua área de atuação?
Edival Lourenço Jr. – Atuo prioritariamente no setor ferroviário. Porém, também temos negócios no setor automotivo e de energia.
O que todo empreendedor quer saber: o senhor ganhou dinheiro na China?
Edival Lourenço Jr. – Muito menos do que eu gostaria. [Risos]
Data, horário, local e como participar de sua palestra sexta-feira, em Goiânia?
Edival Lourenço Jr. – O Fórum Mundial de Empreendedorismo será nos dias 24 e 25 de Maio na UNIALFA Perimetral. Eu participarei do Painel “Goianos no Mundo”. Mais informações no site do organizador FAJE GOIÁS Federação das Associações de Empreendedores e Empresários do Estado de Goiás.
PERFIL
Nome Completo: Edival Lourenço Jr.
Idade: 35 anos
Formação acadêmica: Administração de Empresas pela PUC-GO e MBA Internacional pela Universidade de Pequim
Domínio de línguas: Português, Mandarim, Inglês e Espanhol.
Pensadores e escritores que lê, hoje: Gavin Menzies – Livro: 1421–O ano em que a China descobriu o mundo