Política

Justiça revoga aval de gestões Lula e Castro e veda reativação de banco sob influência política

DM Online

Publicado em 30 de maio de 2025 às 13:30 | Atualizado há 1 dia

Duas decisões da Justiça Federal neste mês anularam o aval dado pelas gestões Lula (PT) e Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, para a reativação de um banco tido como extinto há mais de 60 anos. A instituição está envolvida numa disputa de valores bilionários em precatórios e terrenos na zona oeste carioca.
Na terça-feira (27), o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), anulou a decisão do secretário nacional de Microempresas, Maurício Juvenal, que validou atos da Junta Comercial do Rio de Janeiro para a reativação do antigo Banco de Crédito Móvel.
Três dias antes, o juiz federal Wilney Silva, da 16ª Vara Federal do Rio de Janeiro, havia proferido decisão semelhante.
Os governos federal e fluminense haviam dado aval às atas de assembleias dos sócios da empresa BCM Ativos Imobiliários, que se apresenta como sucessora do Banco de Crédito Móvel. Os herdeiros dos antigos sócios da instituição financeira alegam que ela foi extinta em 1964.
Os dois grupos disputam a titularidade de um precatório avaliado em cerca de R$ 1 bilhão.
Em nota, os sócios do BCM Ativos afirmaram ter recebido “com estranheza as recentes decisões e já está tomando providências nas devidas esferas para revertê-las”.
“A instituição reitera mais uma vez que seguiu todos os trâmites necessários para voltar a operar e tem certeza de que assim será. O BCM e seus diretores acreditam na Justiça, no direito e que a verdade irá prevalecer”, afirma a nota.
As decisões de Catta Preta e Silva apontam que a Justiça do Rio de Janeiro já havia confirmado a dissolução do banco em 1964. Eles rejeitaram a alegação dos sócio do BCM Ativos de que o fato de o banco ainda responder a ações judiciais tornou a extinção inócua.
“Eventual pendência patrimonial não tem o condão de afastar a extinção de sociedade que não subsiste há cerca de 60 anos, mormente quando já reconhecido no âmbito judicial que a referida empresa não dispõe mais de qualquer ativo e que a legislação civil prevê hipóteses e prazos para pleitear direitos perante sociedade em liquidação ou já liquidada”, escreveu Silva.
O Banco de Crédito Móvel era o dono da área que abrange parte da Barra da Tijuca, Recreio e Vargem Grande em 1964, quando foi registrada sua dissolução. A região é hoje foco da expansão imobiliária com forte disputa de terras, em alguns casos envolvendo milícias.
A disputa teve início após um grupo de advogados conseguir reativar os registros do banco na Jucerja (Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro), contrariando parecer da Procuradoria do Estado, sob o nome BCM Ativos Imobiliários.
A escolhida para atuar como diretora jurídica da empresa, Mariana Felippe, é atualmente responsável pela regularização fundiária no Instituto de Terras do governo estadual. Ela é casada com o deputado estadual Jorge Felippe Neto (Avante), aliado de Castro. Uma das atas de assembleia do BCM fala de “grande quantidade de negociações e tratativas políticas” envolvendo a empresa.
Eles reivindicam a propriedade dos antigos terrenos do banco e os valores decorrentes da desapropriação de duas áreas na década de 1960. Esses precatórios estão atualmente em nome dos herdeiros de Holophernes Castro e Pasquale Mauro, antigos sócios da instituição que adquiriram parte dos terrenos da região.
Os familiares de Pasquale Mauro recorreram ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração contra a decisão da Jucerja de validar (arquivar, na linguagem técnica) as atas das assembleias e, na prática, reativar o banco. O órgão é vinculado ao Ministério do Empreendedorismo e da Microempresa, comandado por Márcio França (PSB).
Em fevereiro, a diretora do órgão, Flávia Gonçalves, decidiu cancelar o registro das atas do BCM. Argumentou que a dissolução da instituição ocorrera em 1964 e foi confirmada em decisão judicial de 2018, quando houve a primeira tentativa de reativação do banco na Jucerja.
Em abril, Juvenal reviu a decisão da diretora e determinou a validação das atas.
Além das decisões judiciais, a Junta Comercial de Brasília, para onde o banco foi transferido após ter as atas validadas na Jucerja, também decidiu bloquear o cadastro do BCM em seus arquivos.

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