Política

Lava Jato chega em Goiânia

Diário da Manhã

Publicado em 22 de janeiro de 2016 às 21:49 | Atualizado há 9 anos

Empresa envolvida na Operação Lava Jato tem negócios milionários na Prefeitura de Goiânia que estão na mira dos investigadores da Operação Lava Jato

Investigadores da Operação Lava Jato estiveram esta semana em Goiânia para levantar dados sobre as operações da empresa Trana Tecnologia na Prefeitura de Goiânia, seus contratos milionários e as ramificações de sua atuação. A Trana é do mesmo grupo da EIT – Empresa Industrial Técnica e herdou dessa segunda os contratos para exploração de fotossensores e fiscalização móvel de velocidade com a Secretaria Municipal de Trânsito.

Os contratos já foram alvo de investigação em outros tempos pelo Ministério Público e também pela Câmara de Vereadores. As denúncias de que os proprietários da Trana são os mesmos da EIT acenderam as luzes de alerta entre os Procuradores e Policiais Federais que trabalham na Operação Lava Jato. Os proprietários são Marcus Pinto Rôla e Alexandre Pinto Rôla [pai e filho], empresários do Ceará, que operam no País inteiro.

A EIT reinou absoluta nas últimas décadas na Prefeitura de Goiânia operando fotossensores e limitadores de velocidade, além e fiscalização eletrônica nos semáforos, o que chegou a ser chamada de “indústria da multa”. O grande volume de multas aplicadas e a avidez por recursos oriundos dessa cobrança gerou até galhofas em outras Unidades da Federação com gozadores distribuindo adesivos para veículos com a seguinte inscrição: “visite Goiânia e ganhe uma multa”.

Marcus Pinto Rôla, com muito dinheiro em caixa foi às compras e adquiriu a EIT com seus contratos e numa tentativa de esfriar as investigações e tirar a empresa do foco das suspeitas passou a tocar os serviços com a Trana Tecnologia. Tudo ia bem até que estourou a Operação Lava Jato e as atenções se viraram para a Petrobras e seus contratos milionários.

A primeira grande bolada foi desferida pela Controladoria-Geral da União (CGU) que instaurou processo administrativo para apurar os contratos de grandes empresas com o governo, dentre elas a EIT. Elas foram citadas pelo doleiro Alberto Youssef como participantes do “Clube das Empreiteiras” para combinar e fraudar licitações, pagar propinas pelos contratos superfaturados e fazer grandes volumes de lavagem de dinheiro.

A Trana foi arrastada para a investigação por conta das ligações de Marcus Pinto Rôla com envolvidos no esquema milionário de corrupção e todos tiveram seus sigilos bancário e fiscal quebrados pela CPI da Petrobras. As informações e detalhes dessa quebra foram repassados para as investigações da Lava Jato, sob comando do juiz federal Sérgio Moro.

Com incomum vocação para problemas o diretor optou por entrar em um esquema criminoso para se livrar da cobrança de impostos devidos e não pagos. Caiu na malha da investigação da Operação Zelotes por ter pago propinas para ser beneficiado em julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão da Fazenda responsável pela análise de débitos com o governo federal e também principal alvo da Operação Zelotes, da Polícia Federal. A EIT negociou uma dívida de R$ 116,6 milhões para se ver livre e foi flagrada pagando propina para isto.

O que os investigadores da Lava Jato buscaram em Goiânia, segundo fontes que auxiliaram no trabalho, são indícios de lavagem de dinheiro e de corrupção. “Até mesmo contratos com preços abaixo dos praticados no mercado podem ser passados a pente-fino porque ensejam uma manobra para esquentar recursos oriundos de outras atividades, como a corrupção e serviços superfaturados em outros órgãos e até Estados”, disse um investigador.

Em Itajaí, Santa Catarina, uma investigação do Ministério Público sobre o mesmo serviço de radares móveis e fotossensores levou para a cadeia dois funcionários da Trana e o diretor Marcus Pinto Rôla teve sua prisão decretada na Operação Parada Obrigatória. A juíza, no decreto de prisão observou que todos são suspeitos de se associarem para “para praticar crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro”.

Direcionamento

A presença dos investigadores da Lava Jato atiçou a brasa que havia ainda sobre investigações do Ministério Público de Goiás acerca das ações da Trana e seus contratos na Prefeitura de Goiânia. A promotora de Justiça Villis Marra, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público retomou um procedimento que tinha instaurado para apurar as circunstâncias dos contratos.

Nos últimos anos a Trana teve seguidamente seus contratos milionários renovados e está em gestação um edital de licitação apontado a possibilidade de que os termos técnicos e certificações beneficiariam basicamente a Trana ou mesmo sua subsidiária EIT.

Câmara

Há na Câmara Municipal de Goiânia uma Comissão Especial de Inquérito literalmente na geladeira que serviria para investigar as atividades da Trana e seus contratos. Segundo o vereador Djalma Araújo (Rede) a instalação da CEI depende de ato da presidência para que as bancadas indiquem seus integrantes e possam levantar como a Trana consegue ficar tanto tempo prestando o mesmo serviço sem ser incomodada, sem ser fiscalizada e sem ser submetida a novo processo licitatório.

“Se existirem mais indícios de irregularidades nos contratos da Trana com a Prefeitura de Goiânia e se a licitação for comprovadamente favorável a ela não podemos nos eximir da responsabilidade de proteger o patrimônio dos goianienses”, observou o vereador.

Há ainda uma outra suspeita grave sobre a Trana e suas relações com a Prefeitura de Goiânia. Um contrato firmado sob o manto de “Ata de Registro de Preços” está guardado em absoluto sigilo. A licitação foi feita em outro Estado e aproveitada como legítima para firmar o contrato.


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