Líderes de protestos fazem lobby pró-impeachment
Diário da Manhã
Publicado em 11 de agosto de 2015 às 23:11 | Atualizado há 10 anosLíderes dos principais movimentos de rua contra apresidente Dilma Rousseff estão investindo no corpo a corpo com parlamentares do Congresso para convencê-los a declarar posição favorável ao afastamento da petista. O “lobby pró-impeachment” tem até placar virtual, atualizado periodicamente.
O MBL (Movimento Brasil Livre) atua em duas frentes. Há um grupo que investe em ações mais midiáticas, perseguindo parlamentares pelo Congresso com uma câmera em punho e divulgando as reações nas redes sociais.
A segunda frente faz um trabalho de bastidor, investindo no contato discreto com líderes de diversas bancadas, medindo a temperatura pró-impeachment. No MBL, esse trabalho é capitaneado por dois dos “cabeças” do movimento: Renan Santos, 31, e o advogado Rubens Nunes, 26.
Os dois se revezam no contato com parlamentares que os atualizam dos bastidores do Congresso – especialmente da Câmara, Casa que autoriza ou não a tramitação de um pedido de impeachment.
Nas últimas semanas, focaram em parlamentares do PP e do PR, ainda reticentes ao impeachment. Eles também avaliam que o PSB está muito dividido sobre o tema.
A relação mais próxima e menos beligerante com os parlamentares é uma evolução no modo como os movimentos de rua passaram a lidar com o Congresso.
“De fato houve um amadurecimento, até dos próprios parlamentares, que se deram conta de podemos ser um interlocutor respeitável com esses setores da sociedade”, avaliou Renan.
O resultado desse trabalho é publicado na internet, no portal de nome “Placar Fora Dilma”. Na última segunda, ele contabilizava 120 votos a favor do pedido de impeachment, e 181 contra.
Nas redes, os nomes dos deputados que se declaram contrários ao afastamento de Dilma é publicado junto aos seus endereços de e-mail. A ideia é que manifestantes usem os dados para ampliar a pressão sobre os deputados.
Um expediente diferente vem sendo usado com o mesmo objetivo por outros grupos, como o Vem Pra Rua. Em vez do corpo a corpo, eles fazem contato com deputados e senadores de diferentes partidos para medir a tendência do Congresso em temas que julgam pertinentes.
Fizeram isso, por exemplo, para balizar a campanha que patrocinaram na internet a favor da redução da maioridade penal.
Renan não considera afastamento como prioritário
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse, ontem, que não trata como pauta prioritária um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“As pessoas perguntam sobre impedimento, perguntam sobre apreciação de contas dos governos anteriores e deste governo. E tenho dito que isso não é prioridade. Na medida em que o Congresso tornar isso prioritário, nós estaremos pondo fogo no Brasil. Não é isso que a sociedade quer de nós”, afirmou Renan.
Na última quinta-feira (6), o plenário da Câmara dos Deputados aprovou contas de parte dos mandatos de Itamar Franco (1992-1994), de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).
As contas foram colocadas em pauta pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A ação foi vista como uma “limpeza” do caminho para a avaliação das contas da presidente Dilma relativas a 2014.
A rejeição das contas de Dilma pelo Tribunal de Contas da União é um dos cenários que podem desencadear um processo de impeachment.
JANOT
O presidente do Senado afirmou que a recondução de Rodrigo Janot para a chefia da Procuradoria-Geral da República deve ser analisada com celeridade pela Casa.
“Como já dissemos, tão logo chegue no Senado a indicação, mandaríamos para CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Conversarei com líderes para apreciarmos no mesmo dia que o indicado for sabatinado na CCJ”, disse.
Legitimidade
Em meio à crise política que traga seu governo, a presidente Dilma Rousseff teve de ouvir um misto de conselho e desabafo do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), que renunciou ao mandato de presidente em 1992 para escapar do impeachment. “A senhora foi legitimamente eleita, mas eu também fui”, disse Collor a Dilma diante de outros líderes partidários, na reunião que antecedeu ao jantar no Palácio da Alvorada.
Em tom queixoso, Collor criticou várias vezes o que chamou de “judicialização da política” e à “instabilidade das instituições”, provocada, segundo ele, pela condução da Operação Lava Jato, na qual é investigado.
Collor teve bens, como carros de luxo, apreendidos em ação da Polícia Federal determinada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem dirigiu um palavrão na tribuna do Senado na semana passada.