Magal: MP aponta esquema de corrupção
Redação DM
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 01:15 | Atualizado há 4 meses
A Operação Negociata, que resultou na prisão do prefeito Evandro Magal (PP) e mais oito pessoas, apura fraudes em pelo menos dez licitações realizadas pela Prefeitura de Caldas Novas, no sul goiano.
Segundo o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), empresas fantasmas chegaram a ganhar os processos, que geraram, pelo menos R$ 1 milhão de vantagem indevida. “São várias licitações, cerca de dez, mas com as buscas, percebemos que outras também podem ter sido fraudadas. Só com uma planilha que a gente tem, levantamos que a vantagem indevida chega a R$ 1 milhão”, disse o promotor de Justiça Luís Guilherme Gimenes, coordenador da operação.
O prefeito Evandro Magal, por meio da assessoria jurídica, informa que “se encontra à disposição da Justiça e que colaborará com as investigações coordenadas pelo MP-GO”. Já o advogado dele, Caio Alcântara, disse que “não há provas contra ele [prefeito] apresentadas nos autos”. Disse ainda que “os supostos atos a ele imputados são inverídicos e serão, sem dúvida, esclarecidos perante a Justiça”.
A Operação Negociata foi realizada na quinta-feira (13) e cumpriu nove mandados de prisão contra, além do prefeito, servidores, um ex-secretário é empresários em cidades de Goiás e Santa Maria, Minas Gerais. Também foram cumpridos 32 mandados de busca e apreensão.
A investigação começou há cerca de 2 anos e apura licitações realizadas entre 2015 e 2017. De acordo com os promotores, elas envolvem empresas que forneceriam matérias elétricos para iluminação pública, da área de informática e serviço de assessoria. Eles afirmam que os estabelecimentos pertencem a pessoas ligadas ao prefeito.
“Havia um grupo que, comandado pelo Executivo, obviamente comandado pelo prefeito, que é o chefe do Executivo, direcionava algumas licitações para determinadas empresas e, algumas dessas empresas eram de pessoas ligadas ao prefeito”, afirma o promotor de justiça Tiago Galindo, coordenador Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO.
Segundo a investigação, para manter o esquema, processos licitatórios chegaram a ser adiados. “Quando supostamente aparecia alguém para concorrer nessas supostas licitações, eles davam um jeito de cancelar ou revogá-la para fazer posteriormente, quando só essa empresa que eles gostariam, que estava no esquema, venceria a licitação”, aponta Galindo.
Os promotores afirmam que há fortes indícios do envolvimento do prefeito, que foi eleito em 2012 e reeleito em 2016.
O prefeito está diretamente ligado, ele tinha ciência, tinha direcionamento”Promotor de Justiça Tiago Galin
O prefeito está diretamente ligado, ele tinha ciência, tinha direcionamento”
Promotor de Justiça Tiago Galindo
Trocas de favores e lavagem de dinheiro
De acordo com o MP-GO, alguns empresários se beneficiavam com a atuação ilícita dos agentes públicos e estão sendo investigados pelo pagamento de propina.
Conforme os promotores, há indícios de que o prefeito de Caldas Novas, que foi reeleito em 2016, recebeu dinheiro de empresas do ramo do turismo, em 2015, para a expansão do perímetro urbano da cidade, favorecendo os empresários.
“Alguns grupos beneficiados do setor turismo por ato do Poder Executivo fizeram elevadas doações de campanha para o prefeito, de forma documental, estamos apurando se também houve o famoso caixa 2”, disse Galindo.
Galindo explicou que não pode divulgar mais detalhes da investigação porque o procedimento está em sigilo. Ele afirmou que a equipe trabalha na análise do material apreendido para, em seguida, colher os depoimentos dos envolvidos. “A investigação continua, ontem fizemos mais de 10 oitivas de outras pessoas. Com a deflagração da operação, vamos aprofundar não só nestes, mas em outros fatos”, disse o promotor. Gimenes explicou que tudo indica que o grupo tinha funções definidas, mas ainda é preciso definir quem as exercia.
PRISÕES E APREENSÃO DE DÓLARES
A operação foi realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado e pelo Centro de Inteligência do MP-GO, em parceria com as polícias Civil, Militar e Federal.
O prefeito Evandro Magal foi preso no Residencial Saint Paul, prédio em que mora com a família, em Caldas Novas. Ele e outros sete investigados foram detidos na manhã de quinta-feira e um deles, que estava foragido, se apresentou ao órgão à tarde.
Cinco das prisões foram feitas em Caldas Novas, duas em Goiânia e uma em Santa Vitória. Todos passaram pelo Instituto Médico Legal (IML) da capital e depois foram levados ao Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde passaram a noite.
Os promotores também encontraram durante a operação US$ 120 mil. O MP-GO não revelou a quem pertence a casa em que o dinheiro estava, mas a TV Anhanguera apurou que a quantia foi achada na casa de um empresário, em um condomínio de luxo em Goiânia. Além das notas, a operação apreendeu um revólver de calibre 38, cheques e documentos em endereços de Goiânia, Caldas Novas, Morrinhos, Itumbiara, Aruanã e Aparecida de Goiânia.
Entre os locais alvos da operação estão os prédios da Prefeitura de Caldas Novas e do Poupa Tempo, um centro de serviços oferecidos para a população e o gabinete de um vereador, que não teve a identidade revelada.
Na capital, policiais cumpriram mandados na sede nacional de uma empresa investigada, que fica no Setor Esplanada do Anicuns, na região norte da capital.
AFASTAMENTO
Evandro Magal e o vice dele, Fernando de Oliveira Resende (PPS), foram afastados dos cargos no dia 17 de janeiro deste ano, após serem condenados por abuso de poder por meio de veículo de comunicação por pagarem anúncios em um jornal em período pré-eleitoral. No entanto, reassumiram os postos um dia depois, após liminar do TSE.
Em nota, a assessoria de imprensa dos políticos informou na época que o “entendimento jurídico é que o prefeito de Caldas Novas, Evandro Magal, e o vice-prefeito, Fernando Resende, foram, mais uma vez, afastados de forma irregular pelo TRE-GO. O prefeito eovice-prefeito entendem que, novamente, o TSE resguardou o Direito.