Mais atuação das mulheres na OAB e no Judiciário
Diário da Manhã
Publicado em 23 de março de 2018 às 01:59 | Atualizado há 7 anos
Pela primeira vez na história, a seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO) tem mulheres inscritas em sua lista sêxtupla para o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) na vaga do quinto constitucional da advocacia.
As inscritas, que poderão ser indicadas pelo presidente da entidade para as seis vagas, são: Arlete Mesquita, Antônia Chaveiro Martins, Rosângela Magalhães e Sônia Caetano Fernandes. Os nomes que compõem a lista devem ser encaminhados ao TJGO, que criará uma lista tríplice três e enviará ao governador do Estado, a quem cabe a tarefa de nomear o novo desembargador.
Em defesa de mais mulheres no Judiciário goiano e que a lista sêxtupla da OAB contemple as advogadas mencionadas, a fundadora da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ) em Goiás e conselheira na Federação Internacional das Mulheres Juristas, Maria José das Neves Duarte, tem trabalhado para que mais mulheres participem e ocupem espaço nesta área. “O que tenho brigado muito e o que quero são mais mulheres no quinto constitucional da OAB. Sempre estou lutando pelas mulheres, é uma coisa que aprendi com Consuelo Nasser. Briguei, quando era presidente nacional, por mais mulheres nos conselhos da OAB”, ressaltou em entrevista ao Diário da Manhã.
Maria José reforça que qualquer uma das advogadas inscritas são competentes e representarão muito bem a Ordem. “Entendo que a vaga, agora, é da mulher. Rosângela Magalhães, Sônia Caetano, Antônia Chaveiro e Arlete Mesquita, temos essas quatros mulheres e acredito que qualquer uma delas estaria representando bem”, destacou a conselheira que ainda enfatizou: “Acredito que a vaga para desembargador deve ser da OAB, de advogado militante e, principalmente, das mulheres”.
A conselheira internacional revelou que teve a oportunidade de se inscrever, no passado, na lista sêxtupla da OAB goiana, mas recuou, por ser uma época de mais machismo e que a mulher não tinha tanto espaço. “Achei que não tinha competência. Era advogada do Ministério do Trabalho, assistente jurídico, me senti limitada. Meu trabalho, especificamente, era na organização sindical e na área trabalhista, me sentia limitada e achava que não preenchia os requisitos para disputar uma vaga para desembargador. Hoje, estamos com quatro mulheres jovens, em plenas atividades profissionais, e acredito que a vaga tem que ser de uma mulher”, assegura Maria José.
MAIS MULHERES
A defensora de mais mulheres no judiciário acredita que a OAB entrará para história caso indique ao TJGO as quatro advogadas inscritas e reforça seu empenho para que isso aconteça. “Estou indo através de todos, já estive com o presidente da OAB, pedindo por mais mulheres. Em todos os lugares que vou digo: ‘precisamos de mais mulheres’. Quero que a OAB fique na história e coloque as quatro mulheres inscritas na lista sêxtupla e encaminhe para o Tribunal de Justiça e o governador quem decide”.
Maria José critica a forma como a decisão para o cargo é feita atualmente, já que quem decide quem será o desembargador é o chefe do Executivo. “Acredito que deveria ser mais democrática, porque o governo indica as pessoas mais próximas dele politicamente. Quero brigar por elas e, se eu tiver a oportunidade, quero falar até com o governador”, declarou.
Em relação como iniciou sua defesa por mais mulheres na advocacia, Maria José revelou que vem desde 1989 com a criação da ABMCJ em Goiás. “Em 1995, quando era presidente, fizemos um congresso nacional aqui em Goiás, tive apoio do prefeito Darci Accorsi, que concedeu o Centro de Convenções, do governador Maguito Vilela que concedeu um coquetel para mil pessoas, a polícia militar com seus alunos com farda de gala com as bandeiras de cada estado, tive o apoio do procurador geral de justiça, do presidente da OAB. Trouxemos grandes nomes do direito, como Ada Pelegrini, Roberto Batoque”, relembrou.
Maria José reforçou que desde aquela época aos dias atuais a participação das mulheres aumentou e a representatividade também. “Avançou muito. Incentivamos tanto que nos conselhos dos estados há muitas mulheres. No Judiciário temos até mais mulheres, proporcionalmente. Fico feliz ao ver uma Procuradora da República que é mulher e do nosso estado, vejo uma presidente do STJ que também é do nosso estado. Vejo a Advogada Geral da União, que pela primeira vez tem uma mulher”, destacou e completou: “Somos como formiguinhas, começamos cada uma nos seus estados e crescemos. A ABMCJ cresceu no Brasil inteiro. Avançamos muito, mas precisamos avançar muito mais. Ainda é preciso as mulheres ocuparem mais espaços”, enfatizou Maria José.
INSCRIÇÕES
As inscrições para participar do processo seletivo para formação de lista sêxtupla constitucional da advocacia goiana encerra nesta sexta-feira, às 18 horas. A vacância do cargo foi confirmada pelo TJGO em dezembro de 2017, com a confirmação da aposentadoria do desembargador Geraldo Gonçalves da Costa. Dos 36 desembargadores do Tribunal, apenas oito são mulheres.