Mau humor do eleitor aguarda candidatos em 2016
Redação DM
Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 15:13 | Atualizado há 10 anosUm eleitor mau humorado é o que aguarda os candidatos a prefeito e a vereador no próximo ano. O eleitor está com muita desconfiança da classe política. É o que mostram pesquisas feitas pelos institutos Ibope e DataFolha nos meses de outubro e novembro, quando 50% dos eleitores rejeitaram a classe política e 81% pediram a cassação do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Junta-se a isto, o desgaste dos atuais prefeitos, que em face das dificuldades econômicas do país, tem deixado a desejar, na visão de seus eleitores. Para Mário Rodriguew Filho, do Instituto Grupom o cenário em 2016 vai exigir muita estratégia e informação para os partidos e os candidatos.
Mário avalia que a “velha política” vai ter muita dificuldade para ter sucesso no cenário que se vislumbra em 2016. As mudanças nas regras eleitorais, com o STF (Supremo Tribunal Federal) proibindo doação de empresas nas campanhas, criam dificuldades para aqueles políticos acostumados a “comprar voto”, pois aquele eleitor contumaz em “vender o voto”, tende a ficar indiferente ao processo eleitoral.
No Senado e na Câmara Federal também foram aprovadas mudanças nas regras eleitorais. A campanha ficou mais curta. O programa eleitoral reduziu-se de 45 dias para 30 dias. Mudou-se também o prazo final de filiações. Antes, a lei exigia que aqueles que pleiteiam um cargo eleitoral fossem filiados num partido num período igual ou superior a um ano. A nova regra permite filiações no mês de março do ano da eleição. Mario Filho avalia que o tempo mais curto de campanha favorece aqueles candidatos com mais tempo de vida político-partidária. “O tempo é curto para apresentar novidades. Isto é ruim para a renovação da política”, analisa. A mudança do tempo de filiação vai movimentar o “mercado da política”, dando às grandes máquinas partidárias a oportunidade de cooptar novos filiados, e aos pequenos partidos, a chance de receber filiações de última hora.
Mas num cenário de descrédito da classe política e de dificuldades para todos os níveis de administração (federal, estadual e municipal), os atuais prefeitos e vereadores tendem a ser muito cobrados pelos eleitores. E é por isto que esta eleição deverá apresentar dificuldades para os candidatos à reeleição no Executivo e no Legislativo. “Os prefeitos terão dificuldades na reeleição ou em fazer seus sucessores. As prefeituras não têm dinheiro, e por isto não estão fazendo o dever de casa e isto já se reflete em pesquisas: 80% dos prefeitos apresentam nota abaixo de cinco (5) na avaliação do eleitor e por isto tendem a ser reprovados nas urnas”, adverte Mário Filho. A tendência, segundo Mário Filho, é que as próximas eleições favoreçam aqueles ex-prefeitos que tiveram um bom desempenho durante o seu período como administradores municipais.
Eleitor crítico
O primeiro alerta sobre o mau humor do eleitor veio com a pesquisa do Instituto Ibope, publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em 26 de outubro: metade dos entrevistados rejeitou todos os nomes apresentados como possíveis candidatos à presidência. Considerando a margem de erro de dois pontos percentuais, o ex-presidente Lula (PT), com 55% de rejeição, foi tão rejeitado quanto os tucanos Geraldo Alckmin (52%) e José Serra (54%) e o pedetista Ciro (52%). Apenas o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e Marina Silva (REDE), derrotados na corrida contra Dilma Rousseff (PT), aparecem em patamar inferior de rejeição: 50% diseram que não votariam de jeito nenhum na mentora da Rede, e 47% não consideram Aécio uma opção.
Esta rejeição aos políticos é estimulada principalmente no noticiário. Os eleitores estão contaminados com o bombardeio de notícias negativas, principalmente através da Rede Globo, sobre corrupção na Petrobrás (Operação Lava Jato), economia (desemprego) e o pedido de impeachment oficiado pelo presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ocorre que Cunha é rejeitado por 81% dos brasileiros!
Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 25 e 26 de novembro revelou que 81% dos brasileiros defendem que Cunha deveria ter o mandato cassado. O parlamentar é investigado pela Operação Lava Jato, acusado de ter recebido US$ 5 milhões de propina. Ou seja, cinco dias depois da divulgação desta pesquisa, Eduardo Cunha – acusado de corrupção e e visto como inepto para o cargo por 81% dos brasileiros pediu o afastamento da presidenta Dilma Roussef (PT). Ou seja, Cunha confirmou aquilo que pensam os eleitores: usa do cargo para tirar vantagens indevidas.
Impeachment e eleição
O pedido de impeachment vai influir nas próximas eleições? Mário Filho, do Instituto Grupom, entende que não. O prejuízo maior será se o processo se arrastar até o primeiro trimestre de 2016, causando prejuízos à economia. Mas o STF, por exemplo, pode considerar o pedido indevido, e a ação ser paralisada no nascedouro. Para Mário, historicamente os eleitores dos municípios estão afeitos às questões locais: buracos no asfalto, falta de iluminação, qualidade dos serviços de saúde e educação.
Este é o mesmo pensamento do pesquisador Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi. Em sua coluna na revisa Carta Capital, Coimbra lembrou que neste ano de 2016 o Brasil completa 30 anos de eleições ininterruptas, desde a redemocratização, e apesar das turbulências na política nacional, na hora do voto para prefeito, prevalecem os temas locais. Segundo Coimbra, pesquisa recente do Instituto Vox Populi traz elementos para se interpretar essa dissociação entre imagem nacional e voto municipal.:
“Perguntados a respeito da possibilidade de votar em um candidato a prefeito do PT em 2016, pouco mais de um terço dos entrevistados respondeu que não havia “nenhuma” possibilidade, seja por nunca terem votado no partido, seja por estarem hoje decididos a não votar.
Cerca de 10% disseram que votariam com certeza, pois sempre votaram em candidatos a prefeito da legenda. E 50% responderam que “se o PT tiver um bom candidato ou candidata, poderiam votar nele ou nela. Isso vale da menor cidade do Brasil à megalópole São Paulo,” informa.
Coimbra explica que esta indiferença do eleitor tem haver com capacidade das pessoas de absorver informação: “Na sociedade contemporânea, em que os indivíduos são permanentemente bombardeados por informações e mensagens, é difícil a qualquer emissor manter a atenção do público. Especialmente em assuntos a respeito dos quais há sólidos estereótipos. Quanto mais cada nova informação somente reitera algo “conhecido” e quanto menos consegue se reapresentar como ‘nova’, menor é o espaço dado pelos cidadãos à medida que transcorre o tempo”, salienta.
Lava Jato e votos
De acordo com Marcos Coimbra, pesquisa do Instituto Vox Populi feita no começo de novembro sugere que esta tendência de saturação do bombardeio de informações afeta também a operação Lava Jato. Ela mostra como o impacto da
se reduziu significativamente, depois de haver começado como algo que motivava a maioria dos brasileiros. Claro está que a quase totalidade dos entrevistados apoia sua realização, tanto quanto concordaria com qualquer medida de moralização e combate à corrupção. Somos iguais ao restante da população mundial e extraordinário seria se alguém se manifestasse a favor da corrupção e contrariamente a seu combate.
A respeito de quanto se interessavam pela Lava Jato no início (sem especificar uma data), 67% dos entrevistados responderam “muito”. Dos 33% restantes, 14% afirmaram ter tido “algum interesse”, 17% “não tinham qualquer interesse” e 2% garantiram que “nunca tinham ouvido falar” da operação.
Em relação à situação de agora, os números são diferentes. A proporção daqueles que permanecem “muito interessados” caiu para 26%, menos da metade do levantamento anterior. Os desinteressados mais que dobraram e passaram a ser maioria, 42%. Aqueles com “algum interesse” são 30% e restam os 2% que “nunca ouviram falar” no assunto.
A experiência internacional com pesquisas de opinião sugere que resultados desse gênero devem ser considerados com cautela, pois não são raros os entrevistados que “negociam aparências”. Dizem-se interessados a respeito de temas sabidamente relevantes, por suporem que tal comportamento se espera de “cidadãos conscientes”.
Seria possível dizer, segundo Coimbra, que o “público atento” à Lava Jato representa hoje, no máximo, cerca de um quarto da população. O resto, que somaria no mínimo 75%, tem pequeno ou nenhum interesse. De qualquer maneira, a parcela “atenta” permanece expressiva, ainda que em queda.
Os entrevistados “atentos” não são iguais aos demais do ponto de vista das opiniões políticas e inclinações eleitorais. Na
, quase 90% o consideram “ruim” ou “péssimo”. Na intenção de voto na próxima eleição presidencial, a resposta mais frequente é “ninguém, branco ou nulo”, seguida, a distância, por qualquer nome. Não deixa de ser coerente: os “muito interessados” na Lava Jato tendem a ser mais críticos do que a média em relação ao governo e mais descrentes dos “políticos” como um todo.
O problema para os responsáveis pela operação é o fato de a redução do tamanho e as idiossincrasias ideológicas do segmento que permanece “atento” colocarem em xeque a estratégia de usar a opinião pública como ferramenta para forçar o sistema político a ceder. Obriga a gestos crescentemente espetaculosos para atrair a maioria, que perdeu ou nunca teve interesse. Empurra seus orquestradores a estreitar a aliança com os grupos controladores dos meios de comunicação e, à medida que aumenta sua dependência em relação a eles, mais os fragiliza.
“Pode ser paradoxal, mas em vez de indício da força, os últimos acontecimentos são sinais dos problemas da operação”, finaliza. (Com informações dos sites da Carta Capital, Congresso em Foco, Brasil247 e Pragmatismo Político)