Política

Mercado de dados falsos

Diário da Manhã

Publicado em 11 de outubro de 2018 às 03:51 | Atualizado há 4 meses

  •  Doutor em História da UFG, David Maciel diz que as fake news constituem a manifestação mais visível e disseminada da cultura da Pós-Verdade
  •  A notícia falsa é um dos instrumentos da Pós- Verdade, insiste Welliton Carlos. Sob a luz do Direito, é crime, afirma. Uma violência simbólica, explica
  •  O imenso papel protagonizado, hoje, pela rede mundial de computadores traz um poder proporcional da relativização da verdade, acredita Tom Alves

 

Comunista. Sem religião. Ateu. Com um programa que irá autorizar o MST [Movimento dos Trabalhadores Ru­rais Sem Terras] a invadir as pro­priedades rurais. Além de acionar o MTST [Movimento dos Trabalha­dores Sem Teto] a ocupar imóveis nas capitais. Assim seria o PT, a le­genda da estrela vermelha, funda­da em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion. No Mercado dos Da­dos Falsos. Das Fake News. Uma avalanche de informações inverí­dicas invadiu, como nunca na His­tória desse País, as redes sociais, a conversa de boteco e as rodas de amigos. Como nos EUA, que ele­geram Donald Trump. Já no Brasil a estratégia é eleger Jair Bolsonaro.

– As fake news constituem a ma­nifestação mais visível e dissemina­da da cultura da pós-verdade.

É o que afirma o doutor do De­partamento de História da Universi­dadeFederaldeGoiás[UFG], David Maciel. A Pós-verdade impõe uma relativização absoluta às informa­ções e opiniões, explica o pesqui­sador. É a expressão literal da cri­se de sentido da sociedade liberal, aponta o escritor. Não é capaz de mostrar uma perspectiva de futu­ro minimamente integradora e de­mocrática, relata o professor. O que abre brecha para uma consciência social depressiva, sublinha o mar­xista do Tempo Presente. Descren­te de tudo, mas ao mesmo tempo agressiva e hiperindividualista, diz. As ideias de Jair Bolsonaro brotam no caldo dessa crise cultura, atira.

– Com a grave crise cíclica do ca­pitalismocontemporâneo, odesespe­ro e a ausência de esperança se ape­gam à uma mensagem messiânica de um suposto salvador da pátria.

A análise é da professora de História Magda Borges, integrante do Co­letivo de Mu­lheres Ana Monte­negro. Sob o terror e pânico, o medo se tor­na um elemento de construção de uma hegemonia e de dominação conservadoras, pontua a analista de cenário. A propagação de mentiras é marca da Pós-Verdade, no século 21, destaca. A mentira é uma arma es­tratégica antiga, dos Tempos Passa­dos, fuzila. Averdadenãoimportade fato, desabafa. É sombrio, lamenta. Fake News é presente de grego, sem xenofobia ou racismo étnico, dispa­ra a intelectual gauche.

O Cavalo de Troia se propa­ga com facilidade, a sua história se repete, frisa.

– A notícia falsa é um dos instru­mentos da Pós-Verdade.

Graduado em Jornalismo e Di­reito, mestre em Comunicação e em Direito e doutor em Sociologia, especialista em Jurisprudência em Berkeley, Estados Unidos das Amé­ricas, Welliton Carlos da Silva afirma que a notícia é produto e estratégia depoder. APós-Verdadefazcadavez mais uso das Fake News, admite um dos maiores estudiosos do tema no Centro-OestedoBrasil. Motivo: para adulterar a noção de Tempo, Espa­ço e Fato, esclarece.

Como se fosse uma armadilhasocial, metralha. Umjogo que desafia a sociedade a saber se o fato é real ou não, fuzila. Sob a luz do Direito é muita vezes crime, conta. Umaviolênciasimbólica, registraele.

– As Fake News não são uma in­venção do Homem Moderno. Trata­-se de um costume ancestral

Jornalista e teólogo, um pensa­dor contemporâneo da moder­nidade que fez a opção pre­ferencial pelos pobres, Tom Alves lembra que ao longo da História da Humanidade ela teria recebido os nomes de “injúria, difamação, calúnia, fofoca e até conversa fiada”. Informações falsas que podem ter alcances e re­sultados que produzem juízos errô­neos, sentimentos comfusos e até destruir reputações, crê. O imen­so papel protagonizado, hoje, pela rede mundial de computadores traz um poder proporcional da relativi­zação da verdade, acredita. O seu uso – para bem ou mal – é que avil­ta ou valoriza todo ato humano, analisa o cult ‘periodista’.

– Fake News sempre existi­ram na comunicação entre os homens.

Artista plástico, Nonatto Coe­lho diz que pode ser uma expres­são onírica ou tratar-se de uma manipulaçãoparaatingirumaestra­tégia. OsBarõesdaMídia, oitooligar­quias que controlam os grandes conglomeradosdecomuni­cação social no Brasil, vei­culamassuasversõesesu­postasverdades– declasse social – para a sociedade, fundado em seus interes­ses econômicos, pontua. O que nem sempre correspon­de aos fatos, frisa. À verdade fac­tual, metralha. A internet deu voz a quem se dispõe a expor os seus me­dos, desejos, idiossincrasias nas re­des sociais, relatos que podem não traduzir verdades, atira. Apesar de lhe dar 15 minutos de fama, ironiza.

– Com a urgência da informa­ção instantânea, da sociedade in­formacional, a falsa verdade é cada vez mais difundida.

É o que diz o jornalista Eduardo Rocha, irmão de Reynaldo Rocha e Ana Cláudia Rocha, dois ícones da Imprensa em Goiás. Com o receptor como agen­te passivo, as Fake News ampliam o seu potencial de fogo, fuzila. Com a publicação da suposta informação, deflagra-se uma verdade guerra de guerrilhas nas redes sociais, na in­ternet, frisa. Os leitores não consul­tam as fontes, a origem da notícia, lamenta. O cidadão não apura a in­formação, se é real ou falsa, desa­bafa. Na esfera política, em época eleitoral, de disputa pelo poder, dados falsos viralizam na rede mundial de computadores como um rastilho de pólvo­ra, o que é negativo, expõe.

– As Fake News se transfor­maram em armas políticas de alto impacto nas democracias.

Graduado em História e mes­tre em História Cultural, com pas­sagem por Havana, Cuba, o pro­fessor universitário Paulo Henrique Costa Mattos, informa ao Diário da Manhã que a experiência da eleição do republicano, o irascível Donald Trump, nos EUA, que derrotou a de­mocrata Hillary Clinton, vence­dora no voto popular, virou, sim, um modelo políti­co a ser seguido. Para a extrema-direita latino­-americana. A referência explícita, noBrasil, éaodepu­tado federal do PSL e presidenciável JairBolsonaro, capitãoreformadodo Exército Brasileiro. Para desestabili­zar as frágeis democracias de ‘Nues­tra América’, analisa ele.

– Odiscursodeódioconquistaelei­tores e eleitoras. Votos. Porém, logo en­contra o seu teto.

Fake News sempre existiram e seu alcance é proporcional à sua época, diz Makchwell Coimbra Nar­cizo, bacharel e Mestre em Histó­ria pela Universidade Federal de Goiás, doutorando em História So­cial pelo PPGHI da Universidade Fe­deraldeUberlândia. Comaspesqui­sas–Gestão da memória e a negação da Shoah/Holocausto em História; A ascensão das extremas direitas na Europa no século XXI na perspec­tiva da gestão dos sentimentos–o caso francês com o FN de Marine Le Pen. “Por exemplo, por que o Bra­sil entrou na Segunda Guerra? A in­vasão do Iraque–2003–com as ine­xistentes armas de destruição em massa de Saddam Hussein?”, frisa.

– O que dizer do famigerado caso de Orson Welles que causou pâni­co ao narrar invasão de marcianos no rádio em outubro de 1938? Sim, milhões de ouvintes sintonizaram a rádio CBS naquela noite acredi­taram em uma invasão de marcia­nos assassinos e impiedosos contra os Estados Unidos.

O historiador Marc Bloch pu­blicou, em 1921, Réflexions d’Un Historien Sur les Fausses Nouvelles de la Guerre, [Reflexões de um historiador so­bre a notícias falsas das guerra], conta. O autor refletiu sobre o impac­to das notícias falsas no desenrolar da primeira Guerra Mundial, relata. As Fake News sempre estiveram presentes na História, até mes­mo Heródoto alertou sobre a “construção de verdades”, apon­ta. Sim, existe um pro­blema real em nossa época, analisa. O cientista polí­tico Tom Palmer, da Universida­de de Oxford, alega que as Fake News ganharam um tom alarman­te nas eleições de Donald Trump em 2016, na qual mais de 80% das notícias falsas partiam de seu gru­po ou de apoiadores, de ultradirei­ta, denuncia ele.

As Fake News influenciarão em campanhaseleitorais, comoinfluen­ciaram na ascensão ao Poder de Adolf Hitler, ou não consideram que as mentiras que contavam sobre os judeus e segmentos sociais e cultu­rais eram Fake News?, questiona ele. “Os protocolos dos sábios de Sião” se constituiu em Fake News tão for­te, que até hoje tem quem acredita em uma conspiração mundial ju­daico-comunista, ou seja, essa Fake News ajudou eleger o Fuher e aju­da eleger governantes pelo mundo, avalia. Não entendo o alarde como se as Fake News tenham sido inven­tadas hoje, confidencia o pesquisa­dor Makchwell Coimbra Narcizo.

– As campanhas focam mais em criar, disseminar e desmentir Fake News do que mostrar propostas e os resultados eleitorais saem disso.

Presidente da União Brasileira dos Escritores, seção de Goiás, a UBE-GO, o premiado e classifica­do como o maior escritor vivo das ‘Terras Goyazes’, com linguagem, narrativas, temas e estilo univer­sais, um talento raro que faturou o Prêmio Jabuti, no ano turbulen­to de 2012, Edival Lourenço, ava­lia que ‘Fake News’ sempre existiu. Um dos textos mais antigos de notí­cias falsas é o ‘livro bíblico do Gêne­se’, diz. Pós-verdade seria um estilo moderno de definir a potoca, sorri. Com o advento das redes sociais, a mentira passou a exercer influên­cia sobre a opinião pública, expli­ca. A Pós-verdade é um termo que tenta definir o contexto, sublinha.

Renato Dias, 51 anos de idade, é graduado em Ciências Sociais, pela Universidade Federal de Goiás. Mais: pós-graduado em Políticas Públicas, pela mesma instituição de ensino superior, a UFG. Em tem­po: com curso de Gestão da Quali­dade, pela Fieg, Sebrae–GO e CNI. Além de jornalista pela Faculdade Alves de Faria, a Alfa. O repórter especial do jornal Diário da Manhã e colaborador do www.brasil247.com é também mestre em Direito, Re­lações Inter­nacionais e Desenvolvi­mento pela Pontifícia Universi­dade Católi­ca, a PUC de Goiás. É au­tor de 15 li­vros – re ­portagem, premiado por obras investigati­vas e reporta­gens de direitos humanos.

 

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