“O Brasil vive uma crise ética”
Redação DM
Publicado em 23 de fevereiro de 2017 às 02:08 | Atualizado há 4 meses
- Secretário de Cidades e presidente estadual do PSD não acredita na volta de Lula ao Palácio do Planalto, vê a economia em recuperação e diz que Lava Jato não permite cristalizar os candidatos à sucessão presidencial de 2018
- Pessedista adianta que o diálogo sobre alianças, dentro e fora da base marconista, vai ocorrer até as convenções partidárias, sem excluir nenhuma liderança política
Com larga experiência política – exerceu dois mandatos de deputado estadual e cinco de federal, Vilmar Rocha, secretário estadual de Cidades afirma que o Brasil só vai sair da crise ética após realizar reformas partidária e eleitoral, com a aprovação de novas regras que venham a inibir a corrupção e a influência do poder econômico nas eleições.
Em entrevista exclusiva ao Diário da Manhã, Vilmar Rocha, também presidente estadual do PSD, diz que a Operação Lava Jato é a segunda maior crise ética vivida pelo país nas últimas décadas – a primeira foi a CPI do Orçamento, quando parlamentares foram cassados por envolvimento em práticas de corrupção. “Precisamos aprovar mudanças na estrutura partidária e eleitoral, com a adoção do voto distrital, que reduziria muito o ímpeto à corrupção, o uso do poder econômico na campanha eleitoral e aumentaria a representatividade do agente político com o eleitor.”
Vilmar Rocha acha a Lava Jato impede de se ter, no momento, um quadro consistente sobre quais seriam os candidatos a presidente nas eleições do ano que vem. Ele não acredita na volta do ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto. “Vários fatores contribuem para que Lula não seja candidato e se for, não se eleja. Setores importantes do PT não querem o ex-presidente como candidato para permitir um novo ambiente ao partido após eleições 2018”.
O pessedista reprova o lançamento de candidatos considerados “populistas” ao Palácio do Planalto, como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o deputado federal Jair Balsonaro (PSC). “Eleger um populista seria um risco para o país. Governos populistas levam a rompimento das instituições, a tragédias políticas”. Ele acha que João Doria, prefeito de São Paulo, também lembrado para a sucessão presidencial, ainda não é um “homem de Estado” e que não passa de um “publicitário”.
O presidente do PSD adianta que o compromisso de seu partido com a atual base do governador Marconi Perillo se estende ao final da atual administração. Para as eleições de 2018, Vilmar Rocha, que coloca-se como pré-candidato a governador ou a senador, diz que nova aliança será construída. “Temos compromisso com o atual governo, que ajudamos a eleger. Em relação ao futuro, temos que construir nova aliança eleitoral”.
Vilmar Rocha acha natural o PSDB apresentar o vice-governador José Eliton como opção para a sucessão estadual do ano que vem, ressaltando que os demais partidos da base aliada, como o PSD, também deve fazê-lo. “Acho legítimo todos os partidos apresentarem, nesta fase preliminar, nomes para a disputa ao governo e às duas vagas ao Senado. As alianças serão construídas, ao seu tempo, sem engessamento ou inibição a quem quer que seja”.
Vilmar Rocha causou “reboliço” na base aliada do governo Marconi ao abrir o diálogo sobre a sucessão estadual de 2018 com o PMDB do ex-governador e então prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. “Estamos dialogando com todos os partidos, da base aliada e fora dela. É legítimo, no processo democrático, se conversar com todos os partidos, tendências ou grupos. O PSD não fecha portas para ninguém”.
Eu não acredito que o Lula será candidato a presidente da República. Se ele for candidato, irá perder as eleições. Por que eu acredito que ele não será candidato? Porque não interessa ao PT
a candidatura de Lula”
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA
As eleições de 2018 estão distantes, mas qual o cenário que o senhor vislumbra para a sucessão presidencial?
– Ainda é cedo para se saber o que acontecerá em 2018 em relação às eleições de 2018, em todos os níveis. O cenário nacional está em aberto, até porque não se sabe o grau de profundidade e extensão dos resultados da Operação Lava Jato. Até por isso o governo Michel Temer não ter ainda se legitimado na opinião pública. Há, entretanto, um aspecto positivo: a economia. Antes do atual governo, a economia era um carro desgovernado descendo a ladeira e agora a gente vê esse carro, mesmo devagar, subindo a ladeira, A tendência da economia brasileira é melhorar.
Nunca tive desconforto por ser político. As pessoas me veem como um político que tem o nome limpo. De um modo geral, a imagem dos políticos, e eu sou político, é muito ruim perante a sociedade”
A crise política enseja o surgimento de candidatos a presidente da República com perfil mais populista. Nomes como os de Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e até João Doria aparecem com chances de conquistar o eleitorado brasileiro, que anda decepcionado, frustrado. O que senhor acha?
– Seria um risco para o Brasil eleger um presidente populista como ocorreu com a eleição de Jânio Quadros em 1961 e com o Fernando Collor de Melo em 1989. A literatura mundial mostra que os governos populistas sempre levam os seus país a uma tragédia, quer uma tragédia política com o rompimento das instituições quer uma tragédia econômica, como aconteceu no Brasil. Os governos Lula e Dilma tinham um conteúdo, uma mensagem e uma estratégia populista. Nunca tivemos na história do Brasil uma crise econômica tão forte como a que tivemos em 2015 e 2016. Eu fiz um levantamento do crescimento da economia no Brasil de 1901 a 2016, ou seja, 116 anos de história e constatei que somente em dois momentos o país teve dois anos seguidos de crescimento negativo: de 1930 e 1931 e de 2015 e 2016. Só que no período do governo Dilma a recessão foi maior. Esse é o resultado dos governos populistas de Lula e Dilma. Em outros países, os governos populistas levam à quebra das regras, com golpes de estado. Considero, portanto, um grave risco para o país a eleição de um presidente populistas. No caso dos nomes citados, Ciro Gomes e Jair Bolsonaro têm um discurso, uma mensagem e uma estratégia populista. Ainda é cedo para se fazer uma avaliação do João Doria. No fundo, o Doria é um publicitário. Ele ainda não é um homem público formado, não é um homem de Estado. Doria não conhece o Brasil, a sociedade, a sua história, a sua organização política. Ele leva vantagem por não ser um político, o que lhe facilita ser assimilado pela sociedade.
Uma das apostas do Palácio do Planalto para a sucessão presidencial é o goiano Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda. O que o senhor acha?
– Henrique Meirelles é inegavelmente um grande quadro da economia no Brasil. Ele teve um bom desempenho como presidente do Banco Central durante oito anos no governo Lula. Meirelles tem a confiança do mercado nacional e internacional. É nome na área econômica muito respeitado e referenciado. As pessoas dizem que pode ocorrer com Meirelles o que aconteceu com Fernando Henrique Cardoso em 1993 no governo Itamar, em que FHC foi ministro e chegou à presidência da República. Não acredito nisso, porque a situação é totalmente diferente. Fernando Henrique já era político, tinha sido senador da República, professor universitário, tinha sido exilado, presidente de partido em São Paulo, com participação em vários movimentos políticos como as Diretas-Já. Então, Fernando Henrique era um quadro político muito bem formado e experiente, não era apenas um sociólogo. Meirelles não exerceu nenhum mandato parlamentar, ou seja, não tem ainda a formação política que Fernando Henrique tinha. Meirelles não será um novo Fernando Henrique. Acho difícil Meirelles conseguiu, como aconteceu com FHC, um momento virtuoso da economia. Acredito que a economia vai melhorar, que o Brasil vai voltar a crescer a partir do segundo semestre deste ano de forma lenta, mas sem condições de eleger o presidente da República.
Apesar do rolo compressor da Operação Lava Jato, o ex-presidente Lula lidera as pesquisas para a presidência da República…
– Eu não acredito que o Lula será candidato a presidente da República. Se ele for candidato, irá perder as eleições. Por que eu acredito que ele não será candidato? Porque não interessa ao PT a candidatura de Lula. Em uma eventual vitória de Lula, o PT terá que carregar todo esse histórico negativo mostrado pela Operação Lava Jato. O partido ficará na defensiva. Outra coisa: a idade de Lula pesa, pois estará com mais de 75 anos. Outro aspecto: a saúde debilitada dele. Há uma corrente dentro do PT, liderada pelo ex-governador Tarso Genro e pelo ex-prefeito Fernando Haddad, que defende o lançamento de um quadro orgânico que não esteja envolvido a Operação Lava Jato para limpar, nas eleições, o nome do partido. O objetivo não seria vencer as eleições e sim limpar o nome do PT.
Se não fizermos uma forte mudança nas estruturas partidária e eleitoral do Brasil, daqui a algum tempo teremos uma nova Operação Lava Jato, uma nova crise ética no país”
A Operação Lava Jato veio como um tsunami sobre a classe política brasileira, alcançando todos os partidos, destruindo curriculum. O senhor, como político, se sente incomodado nesse ambiente hostil?
– A Lava Jato não é a primeira crise ética na vida política brasileira. A primeira foi a CPI do Orçamento, aquela do João Alves. Eu era deputado federal e fui relator de um caso envolvendo um parlamentar. Houve um impacto muito grande na sociedade brasileira, pois foi cassado o presidente da Câmara Federal, Ibsen Pinheiro, que tinha enorme prestígio e muitos outros parlamentares. Houve uma crise política muito forte. Agora, surgiu a Operação Lava Jato. Se não fizermos uma forte mudança nas estruturas partidária e eleitoral do Brasil, daqui a algum tempo teremos uma nova Operação Lava Jato, uma nova crise ética no país. A máquina que fabrica essa crise é a discricionariedade do sistema político. Temos que criar novas regras como, por exemplo, o voto distrital. O voto distrital reduziria muito o ímpeto à corrupção, o uso do poder econômico na campanha eleitoral e aumentaria a representatividade do agente político com o eleitor.
O senhor não se sente constrangido por integrar a classe política, hoje tão desacreditada pela sociedade brasileira?
– A sociedade sabe quem é quem, conhece o perfil de todos. Ela conhece o meu perfil. Sabe que eu estou longe disso. Eu ando para todos os lugares, converso com todo mundo, frequento todos os ambientes e sou respeitado. Nunca tive desconforto por ser político. As pessoas me veem como um político que tem o nome limpo. De um modo geral, a imagem dos políticos, e eu sou político, é muito ruim perante a sociedade. Há uma generalização de que todos são desonestos. E isso acaba incomodando, pois somos políticos, como tese, no geral.
O PSD traz ruídos à base do governador Marconi Perillo quando diz que vai ter candidato a governador ou senador nas eleições de 2018, já que o PSDB lançou o vice-governador José Eliton à sucessão estadual. Crise à vista?
– Faço uma distinção, como secretário de Estado deste atual governo com a campanha eleitoral de 2018. Temos um firme compromisso com o atual governo e vamos mantê-lo até o final. Somos da base governista. Até porque Marconi Perillo é o governador, o líder, mas o governo não é dele e sim de todos aqueles que ajudaram a eleger e a constituir esse governo. É um governo de toda a base que ajudou a eleger o governador, a constituir e dar sustentação a esse governo. Nós, que fomos à praça pública, sobretudo os deputados estaduais e federais e eu, como candidato a senador, pedir votos para a reeleição do governador Marconi Perillo, temos o compromisso com a sociedade de apoiar, ajudar e trabalhar para que haja um bom governo até 2018. Isso é uma coisa. A outra coisa é a eleição de 2018. O PSD tem claramente um projeto para 2018: lançar candidato a governador ou a senador. Agora, está cedo para sabermos qual aliança o PSD irá fazer. Teremos que aguardar a chegada do ano que vem para sabermos qual a melhor aliança que convém ao partido.
Essa aliança que o PSD busca passa apenas pela base aliada do governador Marconi Perillo?
– Não necessariamente. A nossa tendência, a nossa preferência, o natural seria uma aliança com a base aliada. E nós queremos isso, vamos trabalhar para isso, para manter pelo menos um grupo da base aliada. O quadro político de 2018 pode levar, às vezes, a que tomemos uma outra posição, em razão dos interesses do PSD. Vamos debater, de forma democrática, as alternativas de alianças, mas a decisão só ocorrerá em 2018.
Tenho orgulho de ter participado dos governos de Marconi Perillo. Goiás cresceu economicamente, apresenta baixos índices de desigualdade social. Houve erros, inconsistências, equívocos? Houve, mas o salto é altamente positivo”
Marconi Perillo, em encontro do PSDB, disse que as cúpulas partidárias governistas podem tomar o caminho que quiserem, mas que as bases dessas legendas estarão alinhadas aos candidatos da base aliada. O que tem a dizer?
– É legítimo que o PSDB tenha candidato a governador, trabalhe por esse candidato e busque aglutinar outras legendas para fortalecer essa aliança. Como acho legítimo que o PSD e outros partidos da base aliada estabeleçam suas próprias estratégias em defesa de seus interesses. É verdade o governador Marconi Perillo disse: muitas vezes uma cúpula partidária toma uma decisão e nem sempre a base acompanha. Mas isso não ocorre apenas no PSD, mas em todos os partidos. Na última eleição em Goiânia, aconteceu isso. Essa tese é verdadeira, só que ela se aplica em todos os partidos. Se a decisão não for bem tomada, não for bem feita, a cúpula fica sozinha. E é por isso na nossa cautela e prudência para tomar, em 2018, na aliança para governador, uma opção que seja melhor para o PSD e que seja aceita pela maioria de sua base, que tenha expectativa de vitória.
Três nomes já surgiram na base aliada para governador: José Eliton, do PSDB, Vilmar Rocha, do PSD e Lúcia Vânia, do PSB. É possível unificar a base marconista para 2018?
– A base aliada de 2018 não será a mesma de 2014. Vai haver mudanças. O tamanho e a profundidade dessa mudança, ainda não sabemos. A bola está correndo em campo, mas que vai haver mudança, vai. Para o Senado, com duas vagas, temos seis ou mais candidatos pela base aliada, o que é legítimo. Todos os políticos que têm pretensões majoritárias – governador ou senador – que coloquem seus nomes na mesa para avaliação dos partidos. Não vejo isso como ameaça. Entendo como legítimo que nomes como Roberto Balestra, Jovair Arantes, João Campos, Wilder Morais. Lúcia Vânia, Magda Mofatto, o próprio Marconi Perillo coloquem suas pretensões, trabalhem por elas e adiante façam as avaliações na disputa pelo Senado. Eu já defini: só disputarei em 2018 uma eleição majoritária, ou senador ou governador.
O PMDB, como principal partido de oposição, domina grandes colégios eleitorais do Estado, como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Catalão, Goianésia, Formosa, Rio Verde. Essa situação preocupa a base aliada para a sucessão estadual do ano que vem?
– O PMDB é um partido forte em Goiás, toda a vida foi. Na minha avaliação, o PMDB terá candidato próprio a governador porque nunca abriu mão disso. Será um partido forte na disputa pelo governo de Goiás em 2018. Agora, nesta fase preliminar, temos que conversar com todo mundo. Como presidente do PSD, estou fazendo isso. Conversando com todos, até porque o radicalismo, o ódio e a intolerância não levam a nada. Muitas vezes isso produz muito calor, mas não produz luz. Luz significa resultado para a população. Já conversei com o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. Tive um diálogo, de caráter administrativo, com o prefeito Iris Rezende. E vou procurar outras lideranças de peso de Goiás. O nosso grande desafio para 2018 é ter uma chapa forte, qualificada e com condições de vencer as eleições. O PSD quer uma chapa de pessoas de bem que possam tocar o governo de Goiás, a partir de 2019, como nós fizemos nos últimos anos, sob a liderança do governador Marconi Perillo. Eu tenho orgulho de ter participado da base aliada e do poder em Goiás nos últimos anos. Na maioria desse período, eu participei como deputado federal e não como secretário. E o resultado desses anos é muito positivo: Goiás cresceu economicamente, apresenta baixos índices de desigualdade social. Teve erros? Teve, insuficiências, equívocos, falhas, mas o balanço geral é altamente expressivo. Goiás hoje é um dos dez estados mais desenvolvidos do País. Temos a responsabilidade, portanto, de eleger, em 2018, um governador com qualificação política, ética e intelectual, uma pessoa capaz de dar sequência aos bons governos realizados pela base aliada, sob a liderança de Marconi Perillo.