O encontro de Paulo Garcia com o Papa

O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), participará no final de julho de um seminário no Vaticano com o papa Francisco e outros administradores de metrópoles do mundo inteiro. Serão 50 gestores municipais convidados pelo Vaticano para discutir com o Sumo Pontífice aspectos de humanização dos espaços urbanos, meio ambiente e sustentabilidade. “São detalhes que curiosamente já constam do nosso plano de governo”, disse Paulo.

Do Brasil foram convidados somente cinco prefeitos de capitais mais o prefeito de Belo Horizonte que é presidente da Frente Nacional de Prefeitos. “Foi um convite que nos honrou muito e com a maior humildade considero um dos maiores convites que recebi na minha vida”, comenta. Junto com o prefeito Paulo Garcia irá o presidente da Câmara Municipal de Goiânia, vereador Anselmo Pereira, reafirmando a parceria firmada entre os dois para catalisar as melhores propostas para Goiânia. Um detalhe sobre a viagem: os dois pagaram passagem e hospedagem do próprio bolso.

A senha para incluir Goiânia no roteiro de experiências a serem sugeridas para o mundo foi dada pelo lema da administração: Cidade Sustentável. O norte do documento, chamado “encíclica verde” ou “ambientalista”, é uma pancada no consumismo, no capitalismo desumano que segrega e destrói o ambiente, acusa o homem de ser o principal responsável pelo aquecimento do planeta e condena duramente os países mais ricos que insistem em não adotar medidas para reduzir as emissões de poluentes.

O prefeito Paulo Garcia comemora o sentido filosófico da Encíclica do papa Francisco e lembra que sua gestão tem sido orientada para cumprir protocolos de sustentabilidade e proteção do meio ambiente, sempre lembrando que o homem também faz parte do ambiente. “Um meio ambiente sadio precisa dar condições de vida digna e felicidade para as pessoas de forma global.”

Em entrevista ao DM Paulo Garcia comentou o convite para o encontro no Vaticano e falou das obras que sua administração realiza em Goiânia. “São mais de 60 obras em andamento, que vão mudar a feição da Capital e estamos investindo mais de R$ 1 bilhão de recursos nessas obras, que contemplam áreas diversas como assistência social, educação, esporte e lazer, meio ambiente, mobilidade urbana, pavimentação, praças e saúde.”

ENTREVISTA

DM – Como o senhor recebeu o convite para um evento no Vaticano com o papa Francisco tendo com o meio ambiente como tema?

Paulo Garcia – Recebi como uma grande honra ser convidado por um papa para participar de um ciclo de debates no Vaticano, ainda mais por um pontífice como o papa Francisco, que hoje é uma das poucas unanimidades mundiais, porque é um homem tranquilo, pacificador e um homem humilde. É um homem que revoluciona o papado ao apresentar uma visão moderna de dirigente máximo da fé. Evidentemente que ele cumpre com suas funções eclesiásticas de evangelização e defesa dos dogmas da fé da Igreja Católica, mas é um homem que se dedica às questões humanas do dia a dia. Isto está expressado na Encíclica Laudatto Mi Signori, ou Louvado Seja Meu Senhor, como São Francisco de Assis iniciava suas orações. O papa é grande devoto de São Francisco, por isto adotou seu nome para o pontificado. Nessa encíclica, já chamada popularmente de “encíclica verde” ele aborda questões que ele chama de escravidão moderna, um processo que leva o homem à redução da sua capacidade de promover a justiça social em virtude do consumismo exagerado e também aborda questões ambientais e a visão do que o papa acredita ser fundamental para a promoção do desenvolvimento sustentável nos próximos anos. O papa convidou 50 prefeitos do mundo todo, de cidades importantes e de expressão internacional como Roma, Paris, Pequim, Berlim, São Francisco, Rio de Janeiro, Nova York, Turim, Seul, Bogotá e também o de Goiânia. Do Brasil foram convidados os prefeitos do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e São Paulo. O prefeito de Salvador manifestou interesse em ir e também foi convidado, além do de Belo Horizonte. Tenho crença absoluta que esse convite é obra do Espírito Santo. Creio que esse convite se baseou no fato de termos ainda lá em 2012, quando do processo de reeleição, termos apresentado uma proposta para Goiânia ser uma cidade sustentável. Fui o primeiro político desse País a apresentar como programa de governo uma política de desenvolvimento sustentável.

DM – Então o senhor acha que essa proposta foi longe?

Paulo Garcia – Eu nunca disse que Goiânia é uma cidade já perfeita ou ideal, ou mesmo já pronta e acabada. Até porque eu não acredito que exista espaço urbano assim. Mas, Goiânia é, como todo espaço urbano, uma comunidade que tem em seu inconsciente coletivo suas preocupações ambientais, sua vontade de promoção de um desenvolvimento sustentável promovendo qualidade de vida para cada homem e para cada mulher em nosso espaço e buscando oportunidades para que sejamos felizes. Sabemos que temos problemas e obstáculos a superar e responder às demandas. Creio que esse convite é um reconhecimento do esforço de toda a população de Goiânia em promover um desenvolvimento sustentável.

DM – O que Goiânia levará para o encontro?

Paulo Garcia – Sem hipocrisia, não queremos apresentar nada que já não seja do conhecimento de todos e sem pretensão de que seja abraçada por todos. Mas, queremos compartilhar nossas experiências. Pretendo mais ouvir do que falar. Todavia, formalmente nós estamos conversando por videoconferência com outros prefeitos de cidades brasileiras e será produzido um documento que será entregue em nome de todos os prefeitos brasileiros. Já está sendo finalizado para ser apresentado e será uma carta de intenções dos prefeitos brasileiros.

DM – O que o senhor destaca como referencial em sustentabilidade em sua gestão?

Paulo Garcia – Creio que são ações em diferentes áreas que se baseiam no desenvolvimento sustentável. Um dos mais emblemáticos é o Projeto Urbano Ambiental Macambira-Anicuns, que prevê a recuperação de recursos hídricos com a requalificação de mais de 120 bairros ao longo desse projeto com impactos sobre uma população de mais de 300 mil pessoas. São cerca de 21 quilômetros de extensão, com ciclovias que darão 42 quilômetros. Com proteção de nascentes e uma mata contínua que será o orgulho dos goianienses. As obras dos trechos 1, 2 e 3 estão muito avançadas e pretendemos entregá-los à população no aniversário da cidade, em 24 de outubro. Será inaugurado um parque belíssimo com área de convivência, ciclovia, pista de caminhada, Praça da Cultura, Praça das Esculturas e uma praça de esportes com quadras poliesportivas e a primeira quadra de tênis pública, além de uma pista de skate.

DM – O que será mostrado na área da saúde?

Paulo Garcia – Nessa área poderemos mostrar muito, por exemplo um dos mais emblemáticos, que é a Maternidade Dona Iris, que presta atendimento global à mulher e já realizou mais de 10 mil partos e que foi integralmente construída em nossa gestão. Estamos vivendo uma experiência jamais vista: as mulheres estão deixando as maternidades particulares e preferindo a Dona Iris. Agora, já na primeira semana de agosto daremos a ordem de serviço para a construção de outro hospital da mulher na Região Oeste, no Conjunto Vera Cruz, que será ainda maior que a Dona Iris e o compromisso com a empresa ganhadora é entregar até o final de nosso mandato. Em outras áreas cruciais para o bem-estar das pessoas também temos destaques para mostrar.

DM – Por exemplo?

Paulo Garcia – Na educação é um caso. Desde o início de nosso mandato aumentamos a oferta de vagas em 12 mil novas vagas nas escolas municipais, para o ensino básico e fundamental e mantenho o compromisso de não deixar nenhuma criança fora da escola. No ensino fundamental, do 1º ao 9º ano não há demanda e quem quiser estudar tem vaga garantida nas escolas municipais. No quesito de mobilidade urbana também há destaques, como o corredor BRT que vai modificar o conceito de transporte coletivo em Goiânia, os corredores T-7, T-9, T-63, 85 e Universitário, além dos corredores da 24 de Outubro e da Independência. Fora o que já entregamos, como o Complexo Viário Governador Mauro Borges, na confluência das Avenidas 88 e Marginal Botafogo. Tudo isto para mudar o conceito de mobilidade urbana e dar maior qualidade de vida para a população.

SAIBA MAIS

Encíclica “Laudato Si, Mi Signori”, foi escrita de próprio punho pelo papa Francisco, um jesuíta, de sólida formação cultural e que foi arcebispo de Buenos Aires por mais de 20 anos.

Trecho de abertura da Encíclica

“Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que ‘geme e sofre as dores do parto’ (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.”