“O país só se pacifica com a eleição, com Lula presente”
Diário da Manhã
Publicado em 1 de maio de 2018 às 02:10 | Atualizado há 4 meses
Com quatro mandatos na Câmara Federal, o deputado Rubens Otoni é uma das lideranças mais expressivas do PT em Goiás. Segundo ele o discurso de ódio contra Lula, o PT e os partidos que fazem oposição ao presidente Michel Temer (MDB-SP) interessa às forças que não querem eleições em 2018.
Ele denuncia que o País vive um estado de exceção e que a democracia está em risco no Brasil. “O país só retomará a normalidade, o desenvolvimento econômico, politico e social com eleições livres, com o povo decidido pelo voto os destinos da nação”, pondera. Otoni salienta que o PT mantém a candidatura de Lula à presidência. Alega que o STF não é a instância que define candidaturas, e que esta é uma incumbência do Tribunal Superior Eleitoral.
O petista argumenta que nas eleições de 2016 mais de 300 candidatos a prefeito disputaram as eleições sub-judice, e destes 122 foram eleitos e estão governando normalmente os seus municípios, como, por exemplo, o prefeito de Senador Canedo, Divino Lemes (PSD). “O PT não está fazendo nada fora do ordenamento jurídico”, frisa.
Rubens Otoni alerta que há em curso uma tentativa de golpe, no golpe, com a destituição de Temer e a ascensão do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), com argumentos para adiar as eleições para 2020. Ele confirma que o PT está engajado na frente de esquerda pela defesa da Constituição Federal e da democracia e avalia os rumos da sigla em Goiás. Confira abaixo a íntegra da sua entrevista ao DM:
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA
Qual a avaliação do PT em relação ao julgamento do STF?
Rubens Otoni – Infelizmente o nosso sentimento é de indignação e da confirmação de uma grande farsa. Este julgamento confirma que estamos vivendo no Brasil um Estado de exceção, onde as regras da Constituição são validadas como convém, ou dependendo de quem seja abordado. Ontem isto foi confirmado: ao invés de se julgar duas ações diretas de inconstitucionalidade que dariam orientação definitiva para a discussão da presunção de inocência a ministra Carmém Lucia, presidenta do STF insistiu em não colocá-lo em pauta, e colocar apenas o Habeas Corpus direcionado à pessoa do Lula; isto conflita com a nossa percepção de defesa da presunção da inocência. Nossa Constituição é clara e os constituintes na sua origem tinham o desejo de deixar claro a liberdade individual, de que ninguém é culpado enquanto houver qualquer tipo de recurso e a sentença não tiver sido transitada em julgado. Infelizmente isto ontem não foi respeitado e não foi julgado. Ao julgar somente o habeas corpus o STF, ao invés de orientar a sociedade, confunde mais, pois deixa em aberto para que qualquer ministro do STF, em outros habeas corpus, julgar e dar o seu parecer a partir da sua própria opinião e não a partir de uma decisão definitiva da Corte Suprema. Lamentável.
Para a população em geral, quais serão as repercussões na sua vida diária?
Rubens Otoni– O STF toma uma decisão sobre o hc do Lula que na verdade interfere na vida de todos os cidadãos brasileiros, pois restringe as liberdades individuais, derruba o artigo V da Constituição de presunção de inocência e deixa em aberto para que qualquer cidadão possa ser tido como condenado sem ter a oportunidade de todos os recursos. Por trás de todo este debate existe a questão política e a questão eleitoral. O desespero de nossos adversários é que mesmo este julgamento de exceção, que é uma verdadeira farta, que ataca a Constituição não resolve os problemas deles, pois para eles pouco importa se o Lula vai ser preso ou não. O que eles não querem é que o Lula seja candidato. E este julgamento não garante que Lula não será candidato. A candidatura de Lula será definida em outra instância que é a da Justiça Eleitoral, que se manifestará sobre o assunto, somente após o término do prazo de registro de candidatura, que se dará no dia 15 de agosto. É a partir daí que a Justiça Eleitoral estará analisando a questão de candidatura e é este o desespero dos adversários porque o povo quer o Lula candidato, quer o Lula presidente –e as pesquisas mostram isto –e deixam eles numa situação desconfortável.
No seu voto o ministro Gilmar Mendes ele disse que independente de Lula ganhar ou não o habeas corpus ele não poderia ser candidato. Mesmo assim o PT mantém a candidatura de Lula? Qual será a estratégia do partido nas eleições?
Rubens Otoni – A candidatura do Lula não depende da opinião dos ministros do STF. A candidatura do Lula será definida na Justiça Eleitoral. É lá que vamos debater e temos espaço para isto. Até o dia 15 de agosto se faz a inscrição (da chapa), a partir do dia 15 de agosto quem tiver algo contra a candidatura (do Lula) vai entrar com pedido de impugnação, e este pedido de impugnação terá que ser julgado até 20 dias antes das eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral, o que corresponde ao dia 17 de setembro. Se neste dia o TSE definir pelo Lula não ser candidato nós ainda temos recursos ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF (Superior Tribunal Federal). Na prática Lula chega na eleição como candidato, como é a situação de centenas de prefeitos nas últimas eleições, onde tivemos mais de 300 prefeitos que disputaram as eleições sub-júdice, destes 122 ganharam a eleição e estão governando. Não vamos fazer nada que seja especial, mas apenas aquilo que já acontece normalmente no trâmite da justiça eleitoral, por isto Lula é candidato.
Vários juristas e pré-candidatos a presidência como a deputada Manuela D´Avila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL) afirma que o Brasil está numa escalada fascista. O país está mesmo caminhando para o fascismo e um estado de exceção?
Rubens Otoni – Nós estamos dizendo isto já há algum tempo. Desde 2016 tenho dito que nós entramos num Estado de Exceção. Quando dizíamos isto em 2016, poucas pessoas conseguiam perceber, mas hoje já está evidente, pois são inúmeras as manifestações desta situação, e uma delas é o ataque à Constituição, que deveria ser o nosso Norte maior. O Supremo Tribunal Federal deveria ser o guardião da Constituição, e hoje ataca a própria Constituição, e é neste sentido que o ódio, a intolerância presente na sociedade, incentivada por segmentos políticos e sociais, também demonstra este momento lamentável que estamos vivendo na politica brasileira.
A quem interessa o ódio na politica?
Rubens Otoni – Interessa aos extremistas, àqueles que não defendem a democracia, interessa aqueles que pregam o radicalismo e àqueles que não são favoráveis à liberdade de expressão.
Como possível pacificar o país?
Rubens Otoni – É possível com o povo participando das decisões. O Brasil só vai retomar a sua trajetória de normalidade, tranquilidade e desenvolvimento econômico, político e social na medida em que o povo seja protagonista. Isto passa, necessariamente, pelas eleições livres e diretas, onde o povo possa escolher livremente os seus representantes, e é isto que está em jogo no Brasil. Hoje tem muita gente que trabalha para que o Lula não seja candidato, porque eles não têm um candidato à altura para disputar com ele, mas no fundo, no fundo eles não querem que não aja eleição. Eles gostariam que pudesse haver um sistema, um governo onde eles pudessem controlar sem ter a participação do povo. O caminho para o Brasil retornar aos trilhos da democracia é o povo escolhendo livremente os seus representantes e o governo que ele quer para o país.
Este risco de não haver eleição em 2018 é eminente? O que se diz nos bastidores da politica em Brasília é que há um movimento para um golpe dentro do golpe com o impeachment do presidente Michel Temer para ascensão do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia ao poder, e daí prevalecer a tese do adiamento das eleições para 2020?
Rubens Otoni – Isto não é uma ideia nova, eu já denunciava isso desde de 2016. Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff –legitimamente eleita pelo voto popular. No fundo, no fundo, eles gostariam de assumir o poder sem ter eleição. Eles criam um cenário que pode apontar para isto, e que eles gostariam que fosse o grand finale, mas o povo brasileiro, tenho absoluta certeza, não permitirá que isto aconteça.
Os tiros contra a caravana de Lula no Paraná, o assassinato da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro apontam o risco de uma conflagração nestas eleições?
Rubens Otoni – O Brasil está vivendo, como eu disse, um momento muito delicado. É um momento de exceção em que numa situação de tensão e de definição politica como é o processo eleitoral, nós temos que ter o maior controle possível. Por isto a participação popular é fundamental. Precisamos do povo na rua, consciente da responsabilidade da escolha dos seus representantes, mas acima de tudo, consciente da defesa da democracia, da defesa da nossa Constituição, da liberdade de expressão e para que possamos acabar com este clima de ódio, de intolerância que está infelicitando o país.
Ao fim da caravana do presidente Lula na região Sul do País, ocorreu um grande encontro com a participação de vários pré-candidatos a presidência da República de partidos de esquerda, como Manuella D´Avila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL), e foi divulgada a criação de uma frente ampla contra o fascismo. Esta frente pode ser reproduzida nas eleições?
Rubens Otoni – Acho difícil ser reproduzida nas eleições, porque nosso sistema eleitoral prevê a ocorrência do primeiro e do segundo turno. Penso que ela pode se expressar num segundo momento, no segundo turno, seja nas eleições nacionais, seja nas eleições estaduais. Mas neste sistema de eleições em dois turnos, o primeiro turno corresponde à necessidade dos partidos expressarem o seu pensamento, deixando para o segundo turno o leque de alianças. Por isto penso que do ponto de vista eleitoral, a expressão desta frente pode se dar no segundo turno, de qualquer maneira, no primeiro turno as ideias deste pacto de defesa da democracia, de defesa da liberdade, precisam estar presentes no discurso e na prática dos partidos desta frente de esquerda.
Em Goiás, qual será a estratégia do PT? O partido vai montar chapa própria?
Rubens Otoni – O PT caminha em Goiás para poder lançar candidatura própria e está discutindo isto internamente com os seus filiados, com as tendências politicas nos encontros regionais que estão sendo realizados desde o mês de fevereiro. São 27 encontros coordenados pelo diretório regional, pela professora Kátia Maria, que estão sendo realizados em todas as regiões do Estado. Estes encontros serão realizados até o final deste mês de abril e queremos entrar no mês de maio com a definição sobre candidatura própria, ao mesmo tempo, nossa presidenta Kátia Maria, juntamente com a executiva regional, tem dialogado com os partidos do campo da esquerda, na busca de alianças. Isto ainda não tem definição e queremos que até o mês de maio tenhamos mais clareza sobre a possibilidade de alianças.
A candidatura do Lula não depende da opinião dos ministros do STF. A candidatura do Lula será definida na Justiça Eleitoral. É lá que vamos debater e temos espaço para isto.
Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff –legitimamente eleita pelo voto popular. No fundo, no fundo, eles gostariam de assumir o poder sem ter eleição.