Petistas cobram explicações de prefeito sobre rombo
Diário da Manhã
Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 01:06 | Atualizado há 4 meses
Numa de suas últimas entrevistas, o ex-prefeito Paulo Garcia (PT) afirmou que deixava a Prefeitura de Goiânia com receitas da ordem de R$ 2 bilhões, dos quais, US$ 100 milhões (cerca de R$ 330 milhões) relativos a empréstimo junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). O seu sucessor, o prefeito Iris Rezende (PMDB), tem utilizado os meios de comunicação para relatar que encontrou a prefeitura com sérias dificuldades financeiras. O rombo, segundo Iris, compromete o pagamento de fornecedores e dificultou a quitação da folha dos servidores públicos no mês de janeiro.
Além do prefeito, deputados e vereadores do PMDB também verbalizam o discurso de que a Prefeitura de Goiânia está “quebrada”, culpando o ex-prefeito Paulo Garcia e o seu partido, o PT, pelas dificuldades atuais. Em entrevista ao jornal Opção, aos jornalistas Alexandre Parrode e Bruna Aidar, o deputado estadual Humberto Aidar reagiu a este discurso. Crítico ao estilo administrativo de Iris Rezende, desde suas gestões anteriores (2004 e 2008), Aidar afirma que o prefeito tem obrigação de detalhar o rombo, explicando detalhadamente e provando à população onde se encontra o déficit nas contas.
“Me causa estranheza um homem experimentado como o Iris Rezende (PMDB) passar um mês no cargo e, em vez de estar preocupado com sua gestão, com terminar de montar sua equipe, ficar procurando possíveis rombos. Para isso, existe auditoria”, alfinetou Humberto. “Iris, vá trabalhar, faça o que o senhor sabe fazer,” provoca.
Ex-candidata a prefeita pelo PT, a deputada estadual Adriana Accorsi se soma a Aidar na reação às críticas dos peemedebistas à administração anterior. Líder do PT na Assembleia Legislativa, Adriana debita ao jogo político as acusações contra a gestão de Garcia. “Posso dizer com certeza que uma das prioridades do prefeito Paulo foi sanear as contas públicas, tanto que ele tomou várias medidas impopulares e não investiu tanto na divulgação de suas obras em razão da crise financeira”, frisa. Humberto Adiar enfatiza que está havendo muita falácia e muita demagogia barata. “Se tem alguma coisa da administração do Paulo, que traga a público. E quero dar um recado para o prefeito que saiu também: apresente as contas”, disse ele. “Daqui a pouco o prefeito daqui vai fazer igual ao de São Paulo [João Doria (PSDB)] e tirar foto vestido de gari”, cobra.
Aidar e Adriana também identificam contradição no discurso peemedebista. Ressaltam que o PMDB foi fiador da reeleição de Paulo Garcia tendo ocupado funções importantes naquela administração, como a presidência da Comurg, as secretarias de Saúde, Habitação, Procuradoria, Gabinete Civil, Secretaria de Turismo e o cargo de vice-prefeito. “A gente lamenta é que o PMDB fez parte da administração do Partido dos Trabalhadores por quase todo o período em que nós estivemos na prefeitura”, relembra Adriana.
De acordo com Humberto Aidar, se as acusações procederem, o PMDB deve se posicionar oficialmente, sob pena de cometer o crime de calúnia ou de prevaricação. “Se houve ilegalidade, rombo, o prefeito tem que informar, mas também entrar com ações, senão tá prevaricando. A outra questão é administrar a cidade. Quem resolveu dizer mais uma vez que ia resolver tudo em rápidas pinceladas, até agora… nada”, alfineta. Adriana arremata: “Todos aqueles que assumem um mandato têm ciência da condição que está e têm ciência também quando fazem suas promessas, então isso tem que ser levado em conta, uma vez que várias promessas foram feitas”.
Aliança
O tencionamento entre PMDB e PT em Goiânia não reflete a relação entre ambos partidos noutras esferas de poder. Na Assembleia Legislativa, por exemplo, as bancadas costumam atuar juntas na oposição ao governo do Estado. Quem defende a manutenção desta unidade é o ex-deputado estadual Ernesto Roller (PMDB), que deixa o Legislativo após ter assumido a Prefeitura de Formosa, no Entorno de Brasilia.
Durante a posse da nova Mesa Diretora e dos suplentes que assumiram as vagas dos deputados, que como ele foram eleitos prefeitos, Roller aproveitou para sugerir uma ação conjunta, em plenário, das bancadas do PMDB e do PT. “Fomos eleitos para fazer oposição e não podemos fugir da missão delegada pelo povo”, destacou.
Além de Ernesto Roller, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela também defende a parceria política e administrativa entre PMDB e PT. Durante os seus dois mandatos de prefeito, Maguito fez campanha para o presidente Lula e a presidente Dilma e teve petistas ocupando cargos nos seus oito anos de administração, inclusive no cargo de vice-prefeito.
Vários petistas, como o ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide e o deputado estadual Luis Cesar Bueno também defendem o diálogo com os peemedebistas visando a sucessão estadual e também o apoio do partido a uma virtual candidatura do ex-presidente Lula. A própria líder do PT na Assembleia, deputada estadual Adriana Accorsi, admitiu, em entrevista à Rádio 730, que esta aliança é possível, desde que em torno de uma candidatura de Maguito Vilela ao governo.
É natural todo governo que inicia culpar o antecessor pelas dificuldades do presente. Entre o discurso e a realidade, cada lado deve apresentar seus números para que o cidadão não fique à mercê de uma inútil guerra de números, que em nada melhora a qualidade dos serviços públicos. Mais que discursos sobre as contas públicas, o que o povo quer ver é a melhoria do transporte coletivo, da pavimentação e da iluminação pública.