Políticos do adeus: projeto cria lista de parlamentares que não devem ser reeleitos
Diário da Manhã
Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 02:44 | Atualizado há 4 meses
Após escândalos de corrupção e ações da Operação Lava Jato que têm culminado na prisão de uma série de políticos, os brasileiros precisam analisar suas opções de voto para as eleições de 2018, visto que muitos dos que estão sob investigação pretendem disputar a reeleição. Para orientar os eleitores de quem são os candidatos ao Congresso Nacional e se são fichas sujas ou não, os movimentos Vem Pra Rua, Mude e Ranking dos Políticos encabeçam o projeto “Tchau, Queridos” – uma ironia em alusão ao bordão que muitos deputados utilizaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) –, que listará deputados e senadores candidatos à reeleição que não devem ser votados. O levantamento reunirá dados como presença em sessões do parlamento, gastos públicos, processos judiciais e mudanças de siglas dos parlamentares.
A ferramenta deverá estar disponível pelo site tchauqueridos.net. Com foco nas redes sociais para renovação, o projeto já tem uma página no Facebook e, a partir de janeiro, deverá divulgar as informações a respeito dos parlamentares com selo negativo. Conforme um dos idealizadores, Rogério Chequer – que é líder do Vem Pra Rua – , o intuito do Tchau Queridos é fazer um raio-x dos políticos e mostrar aos eleitores brasileiros “para que eles possam escolher com conhecimento e consciência em 2018”, declarou Rogério Chequer, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
Conforme o líder do Vem Pra Rua, além de mostrar para os eleitores brasileiros quem são os políticos que não merecem e não devem ser reeleitos, o projeto visa incentivar o lançamento de nomes novos para as eleições de 2018 que se identifiquem com uma agenda comum em favor do Brasil. Esse trabalho deve ser desenvolvido juntamente com outras instituições. “A ideia é não permitir que o eleitor tenha memória curta em 2018”, ressalta Rogério Chequer. Os critérios a serem analisados para definir se o político deve ou não ser reeleito e criar tal ranking contarão com parlamentares federais com ficha suja na Justiça e que apresentem desempenho ruim no Congresso, sendo critérios objetivos de análise.
No ranking de avaliação dos políticos que não devem ser reeleitos, serão analisados o posicionamento de deputados e senadores em projetos de interesse da sociedade – tais como as Dez Medidas de Combate à Corrupção (propostas pela força-tarefa da Lava Jato e que foram desfiguradas em votação na Câmara), a criação do fundão eleitoral com R$ 1,7 bilhão de recursos públicos e as discussões sobre o fim do foro privilegiado. O histórico de processos judiciais de deputados e senadores será o segundo critério fundamental para um político fazer parte da lista. Cada item analisado terá um peso e será atribuída uma nota ao parlamentar.
Chequer destaca que a lista do serasa dos políticos brasileiros começará com alguns nomes e ao longo dos meses serão acrescentados mais nomes. “De forma alguma nosso objetivo é demitir o parlamento inteiro. Mas o fato de um político estar na lista será um selo negativo para ele”, acredita um dos idealizadores da ferramenta e continua: “A gente vai mostrar aos eleitores o que eles fizeram ou deixaram de fazer enquanto estiveram aqui. Assim, acreditamos que o recado estará dado”, reforça Chequer.
Internautas acreditam que ferramenta será útil para definir candidato
Muitos eleitores acreditam que a ferramenta Tchau Queridos será útil para auxiliar o eleitor na hora de escolher o candidato em quem votar, visto que terá as informações sobre o político de forma imediata e fácil. Para a estudante Karen Kelly, a iniciativa é boa, visto que “facilitará na hora de votar”.
Pelas redes sociais, os internautas apoiam a iniciativa do Tchau Queridos e acreditam que é uma forma de promover mudanças na política brasileira. “Vamos apoiar gente. Esse país está virando uma Biafra! Vai haver derramamento de sangue. O exemplo da Bósnia; os conflitos nos Balcãs e na Síria, será que o pessoal só acorda com a tragédia iminente? Acorda Brasil!”, declarou o internauta Marcelo Carvalho Veiga na página oficial do movimento no Facebook. O internauta Oyama Almeida ressalta que é preciso renovação na política para que haja mudanças: “Em 2018 só votarei em novatos na política. Se todos fizerem isso certamente teremos um país diferente!”.
“É um dever, obrigação cívica de nós, povo, acabarmos com a corrupção sistêmica do Brasil. Temos que por um fim nisso! Não votar mais nesses políticos que estão no poder, só olhando pros seus umbigos e aumentando suas benesses, sem se importar com a educação, saúde, trabalho, segurança dos brasileiros! Vamos à campanha!”, afirma a internauta Maria Dulce Rangel. A internauta Eliza Santos avalia ser um ótimo projeto para orientar os eleitores. “Excelente iniciativa de listar os parlamentares que não devem ser reeleitos por não servirem pra porra nenhuma a não ser em benefício da própria classe”, declarou.
Para Leopoldino Oliveira, a lista com os nomes dos políticos sob análise deve ser divulgada de forma ampla e não apenas pelas redes sociais. “Será bom divulgar a lista dos canalhas na ocasião das eleições de 2018. Divulgar não só via redes sociais, mas principalmente ás pessoas que não usam tais redes. Se cada um de nós imprimir a lista e distribuir a uma semana antes das eleições, e colar em locais de fácil acesso, já teremos feito bastante pelo País!”, escreveu na página do projeto no Facebook.
Políticos eleitos pelo povo não se veem na obrigação moral de ouvi-lo e representá-lo, diz Chequer
“Tchau, queridos!”
“Accountability” é um termo de difícil tradução para o português, e a questão não é apenas linguística. Há artigos de quase trinta anos questionando se a dificuldade de tradução viria das características comportamentais e culturais brasileiras.
O termo é amplo e inclui conceitos de prestação de contas. Tendo trabalhado no exterior por 15 anos, percebi que, na prática, a palavra carrega o sentido de você ser responsável pelo resultado do que faz, seja ele negativo ou positivo. Se tiver sucesso, o mérito é seu. Se fracassar, não existe a alternativa de culpar outrem. Sem ser especialista no assunto, acredito que a melhor tradução para a palavra seja responsabilização.
E é aqui que existe uma forte conexão com a política brasileira.
Políticos eleitos pelo povo não se veem na obrigação moral de ouvi-lo e representá-lo, criando um enorme abismo de representatividade. Isso se passa, principalmente, porque no Brasil políticos conseguem se reeleger mesmo sem ter um histórico de eficiência, bastando para isso que tenham dinheiro. Conluios com prefeitos geram propaganda em massa, suficiente para convencer eleitores que não conhecem os candidatos como deveriam. A desinformação alia-se à síndrome da “memória curta” que acomete a população em época de eleições. Os dois fatores levam eleitores a votar em representantes que não os representarão.
Seria possível mudar essa indesejável dinâmica? Tenho certeza que sim.
Com a tecnologia, é possível coletar e entregar a eleitores informações acerca do passado, da atividade legislativa e da coerência de parlamentares. Para isso, movimentos sociais se uniram em torno de uma iniciativa, lançada na quarta (29) no próprio Congresso Nacional, que visa conscientizar a sociedade sobre a conduta e atividade dos parlamentares. O objetivo do projeto é manter a população informada sobre aqueles que são seusrepresentantes, oferecendomais transparência e ampliando o acesso a informações públicas, mas ainda não necessariamente organizadas.
Dados sobre os parlamentares —tais como presença nas sessões do parlamento, gastos de gabinete, participação nas mais relevantes decisões parlamentares, envolvimento em processos judiciais e atividade partidária— serão oferecidos de forma geolocalizada, isto é, cada região receberá informações específicas dos políticos que lá costumam buscar votos. Com essa transparência, eleitores poderão tomar decisões melhor informados, diminuindo o efeito das massivas campanhas eleitorais promovidas por prefeitos mancomunados com candidatos.
Essa nova dinâmica, um remédio natural contra memória curta, vai obrigar parlamentares a medir melhor seus votos e posicionamentos, consultar mais suas bases eleitorais e atender aos seus anseios. Caso contrário… Não mais conseguirão se reeleger. Em uma única palavra, “accountability”.
A iniciativa, apelidada de “Tchau Queridos”, pretende promover uma sadia e necessária renovação no Congresso Nacional, trazendo responsabilização aos representantes do povo, e consequentemente maior representatividade para o nosso falido sistema político e eleitoral.
Há tempos nossa democracia é ilusória. Temos agora a chance de reverter esse quadro e tomar controle do nosso próprio destino. Tchau, queridos!”