Políticos infiltrados
Diário da Manhã
Publicado em 31 de maio de 2018 às 04:43 | Atualizado há 4 meses
A greve dos caminhoneiros pela redução dos preços do diesel, melhores condições de transporte nas estradas e por melhores negociações no pagamento do frete não teve apenas uma pauta reivindicatória. Grupos de extrema-direita, empresários e políticos tentam manipular o movimento para agendas que nada têm a ver com a realidade dos caminhoneiros como a intervenção militar e a luta contra o comunismo.
Matéria publicada no site da Rádio CBN-SP pelo jornalista Guilherme Balza relata a participação de políticos filiados a partidos de direita e simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) entre os que procuravam radicalizar e impedir o retorno dos caminhoneiros ao trabalho.
DENÚNCIA
Segundo denúncia feita ao Cade por José Fonseca Lopes, da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABC), os caminhoneiros querem voltar ao trabalho, mas estão sendo impedidos por “intervencionistas” que, segundo ele, “querem derrubar o governo”.
Disse mais: “Não é o caminhoneiro mais que está fazendo greve. Tem um grupo muito forte de intervencionistas aí e eu vi isso aqui em Brasília, e eles estão prendendo caminhão em tudo que é lugar”, declarou. “São pessoas que querem derrubar o governo. Não tenho nada a ver com essas pessoas nem os nossos caminhoneiros autônomos têm. Mas estão sendo usados para isso”, afirmou.
Um dos que pretendem derrubar o governo é o empresário catarinense Emílio Dalçóquio. Ele é apoiador de Bolsonaro que em 2014 foi candidato a deputado federal pelo PSL, partido com o qual o ex-capitão do Exército disputa a presidência.
O outro nome é Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente do Podemos de Catalão. Ele está em muitos dos vídeos mais divulgados nas redes sociais e é filiado ao Podemos, que tem Álvaro Dias como candidato a presidente.
Outro que reivindicava o papel de porta-voz dos grevistas em Goiás é o advogado André Janones, que foi candidato a prefeito da cidade mineira de Ituiutaba pelo PSC. Os vídeos dele têm quase 5 milhões de visualizações. Nos últimos dias, a liderança de Janones foi colocada em xeque porque os caminhoneiros descobriram que o PT fazia parte da coligação dele.
EMPRESÁRIOS
O empresário catarinense Luciano Hang, dono de uma das maiores varejistas do País, a Havan, que tem filial na cidade de Anápolis., autorizou o uso do estacionamento de uma das lojas como ponto de apoio e distribuiu comida para os caminhoneiros. O perfil da empresa no Facebook tem feito várias publicações em apoio à greve. Luciano Hang é defensor da privatização da Petrobras e da intervenção militar. Outra varejista que declarou apoio aos caminhoneiros é a Lojas Becker, do Rio Grande do Sul, que possui 220 unidades.
O empresário Claudinei Habacuque é o líder dos bloqueios na rodovia Castelo Branco, na Grande São Paulo, onde há uma distribuidora da Petrobras. Os vídeos dele repercutem entre os grevistas, com dezenas de milhares de visualizações. Suplente de vereador no município de Carapicuíba, Claudinei é dono de uma transportadora e representou a categoria em reuniões com o governador Marcio França. Antes, foi suplente de deputado federal pelo PSL.
FASCISMO
Reportagem feita pela Revista Piauí, pela jornalista Josette Goulart, revela que Emílio Dalçóquio é empresário, dono de uma frota de 600 caminhões. Dalçóquio fez discursos raivosos durante o bloqueio que foram postados por ele no whattsap onde afirma que não houve ditadura no Brasil, xinga os professores universitário de “comunistas de merda” e elogia o general Augusto Pinochet, condenado por genocídio, tortura, fuzilamentos e desaparecimentos de 3.197 pessoas.
Na matéria, Josete transcreve um dos áudios onde Dalçóquio diz: “Sabe que todo caminhoneiro vota no Bolsonaro, né? É porque o plano dele para nossa classe é claro. Ele vai nos valorizar e cuidar da segurança”. O empresário não atendeu ao pedido de entrevistas até a publicação desta reportagem”.
O jornalista Renato Rovai, da Revista Fórum, ressalta que a transportadora de Dalçóquio é objeto de investigação, relacionada à Máfia do Imposto sobre Serviços (ISS) da Prefeitura de São Paulo. De acordo com reportagem do Estado de S. Paulo, a denúncia é que a empresa trocava a “sonegação” pelo pagamento de notas frias ao esquema do irmão do deputado estadual Rodrigo Garcia (DEM-SP).
Rovai também lembra que no final de 2016 a Transportadora Dalçóquio entrou em recuperação judicial e formalizou proposta de pagamento de R$ 130 mi em dívidas a credores, com dois anos de carência. Entre dívidas da Dalçóquio havia várias de ordem trabalhista parceladas em 12 vezes.
SARGENTO
Outra figura popular nas redes dos caminhoneiros é o sargento da reserva Paulo Roberto Roseno Junior, do 2º Batalhão de Guardas de São Paulo, defensor contumaz da intervenção militar. Antes da greve, vídeos dele tinham apenas algumas milhares de visitas. Após o movimento, as visualizações saltaram para quase três milhões.
Pessoas infiltradas na greve foram presas no Maranhão
O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Sérgio Etchegoyen, informou que sete pessoas infiltradas na paralisação dos caminhoneiros foram presas no Maranhão. Segundo ele, elas foram detidas por ação criminosa e houve a necessidade de emprego de força pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) e pelas Forças Armadas também no Piauí e no Acre.
O ministro fez a declaração após reunião, no Palácio do Planalto, de acompanhamento da situação da crise de desabastecimento de combustíveis e de alimentos. De acordo com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, as paralisações que ainda ocorrem não são motivadas por reivindicações da categoria, mas por protestos de caráter político.”As manifestações políticas estão acontecendo em núcleos urbanos. Então, temos de tratar e estamos tratando desse assunto para não obstruir as conversas com os caminhoneiros”, disse.
PF INVESTIGA LOCAUTE
A Polícia Federal já abriu 48 inquéritos para investigar a ocorrência de locaute na paralisação dos caminhoneiros e encaminhou vários pedidos de prisão, mas todos até agora foram negados pela Justiça, segundo apurou a Agência Brasil. O locaute ocorre quando patrões usam os trabalhadores para obter vantagens financeiras e é uma ilegalidade punível com prisão e multa. Por conta desses inquéritos, o governo está certo de que donos de transportadoras também estiveram à frente da paralisação.
Os investigadores identificaram que a logística para planejar e manter uma paralisação nacional que já se aproxima, ainda que com menor força, a dez dias foi muito bem executada. Os principais entrocamentos rodoviários chegaram a ser fechados, bem como todos os corredores que levavam a refinarias e principais aeroportos. A rede de suprimentos para os caminhoneiros em greve também se mostrou organizada.
Estão sendo apuradas ainda a ação de infiltrados, já identificados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com auxílio dos serviços de inteligência, conforme informou o diretor-geral do órgão, Renato Dias. O governo voltou a ressaltar este fato na entrevista de ontem.
Na segunda-feira, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, denunciou que grupos políticos ameaçavam caminhoneiros que queriam voltar ao trabalho e forçavam a manutenção da paralisação. O objetivo dessas ações, informou a Abcam, seria prejudicar a estabilidade do governo.
A investigação é uma das linhas de atuação do governo federal nesses nove dias de movimento. A outra diretriz é abertura dos corredores de abastecimento para permitir a viagem de comboios, sob escolta da PRF e das Forças Armadas, com combustíveis, insumos para usinas termelétricas, estações de tratamento de água e hospitais, além de alimentos, medicamentos e rações para animais.
A primeira linha de atuação foi a negociação com os grevistas–ação prioritária, considerada já concluída pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Mas o governo sustenta que o diálogo continua aberto com os motoristas autônomos, cujos representantes se disseram satisfeitos com as medidas já efetivadas.(Com informações da CBN-SP, Revista Fórum, Revista Piauí, Diário do Centro do Mundo e Agência Brasil).