Política

“Prefiro ter um ideal ao invés de uma ideologia”

Diário da Manhã

Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 01:05 | Atualizado há 4 meses

  •  É a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal de Goiânia e preside o Partido da Mulher Brasileira

Vereadora mais jovem da história da Capital, Sabrina Garcêz, durante entrevista exclusiva ao DM, fala sobre sua trajetória como militante política, sobre a importância da Academia para uma atuação mais qualificada na Câmara e diz como lida com os ataques por ser jovem, mulher e de família conhecida. Sabrina também é a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal de Goiânia (CCJ). E, atualmente, também preside o Partido da Mulher Brasileira (PMB).

 

 

A ENTREVISTA

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Diário da Manhã – Você iniciou sua trajetória política ainda na adolescência. É a vereadora mais jovem da história de Goiânia. Olhando para o passado e para o seu presente, como projeta seu futuro? Você se considera de esquerda ou de direita?

Sabrina Garcêz – Essa é uma reflexão profunda. Não me considero de esquerda ou de direita. Prefiro ter um ideal ao invés de uma ideologia. O ideal liberta, a ideologia aprisiona. Quero lutar por mais justiça social. Acredito no estímulo ao empreendedorismo com o apoio do Estado, na participação do Estado para mediar e adotar políticas de inclusão, o Brasil ainda é muito desigual para se aplicar um Estado mínimo, a direita no nosso país é egoísta e simplista. A esquerda é caviar. Sobre meu futuro, continuarei dando importância a minha formação acadêmica. Quanto menos políticos profissionais existirem no Brasil, e quanto mais conhecimento tiver os nossos parlamentares, melhor será. Sou mestranda em Direito Constitucional, isso sem dúvida, tornará minha atuação à frente da Comissão que presido na Câmara (CCJ), mais qualificada.

DM – Seu parentesco com figuras conhecidas na sociedade te ajuda ou atrapalha?

Sabrina – As pessoas são estúpidas às vezes. Criticam-me por eu ser sobrinha do meu tio (Wladimir Garcez), isso é ou não é uma estupidez? Jornalistas já me ligaram me questionando se recebi o apoio dele na campanha… Ora, é claro que recebi. O cara é meu tio. Além dele, recebi os votos das minhas tias, dos meus outros tios e de todos os meus parentes. Ele não é foragido da justiça, e a minha biografia quem faz sou eu. Quem não valoriza a família não tem lealdade. Minha família sempre me ajudou e sempre vai me ajudar.

 


Mãe crecheira já é um projeto. Uma saída para as mães que não conseguem vagas nos Cmeis

 

DM – Como você se sentiu quando o vereador Jorge Kajuru (PRP) começou a direcionar duras críticas em sua direção?

Sabrina – O Kajuru não pode ser dogmático, sou diferente dele, mas porque não convivermos numa boa? No início ele me atacou muito, aquilo me doía. Mas num gesto sensato ele me mandou uma carta se desculpando pelos excessos. Depois disso chegou a dizer em plenário que pesquisou minha trajetória e percebeu que eu não era quem ele pensava. Viu que havia me reduzido a um laço sanguíneo, viu que sou mais do que isso.

DM – Você é jovem e preside a Comissão mais importante da Casa, se sente preparada?

Sabrina – Preparadíssima. Churchill com vinte poucos anos já atuava em batalhas de guerra, Dom Pedro II foi um dos maiores lideres da história, começou bem cedo… Joana d’Arc é outro exemplo, parafraseando Batista Custódio, de “que aroeira já nasce aroeira”. O próprio Iris foi vereador e depois prefeito ainda muito jovem. Marconi foi eleito deputado aos 27 anos, foi governador aos 35. Não estou me comparando a nenhum deles, de maneira alguma. Mas apenas estou sugerindo uma reflexão de que idade é bobagem.

DM – Mas você sabe que as pressões de setores da sociedade, como o imobiliário e da própria classe política, virão…

Sabrina – Ninguém me pressiona. Projeto inconstitucional e nocivo para o bem comum não passarão. Não vou trocar minha honra por interesses escusos. Além disso, optarei sempre por ficar com a minha paz. Os tempos são outros, a sociedade quer uma nova política, e é essa que eu vou praticar. Minha geração não é acostumada com corrupção. Não tratamos isso como coisa normal.

DM – Como avaliou o início dos trabalhos na Câmara, acredita que o nível nessa legislatura será maior que na anterior?

Sabrina – Não tenho nenhuma dúvida. Vocês viram o quanto foi profundo o debate sobre a problemática das drogas em Goiânia? Achei interessantíssimo esse tema ter sido tratado logo na primeira sessão com tanta atenção e participação. Praticamente todos os vereadores explanaram seus pontos de vista. Você via entusiasmo em cada um deles. Vontade de contribuir. Percebo mais motivação na legislatura atual.

 


Você via entusiasmo em cada um deles. Vontade de contribuir. Percebo mais motivação na legislatura atual

 

DM – Como resolver esse problema que a cada dia cresce mais em Goiânia?

Sabrina – É um conjunto de ações. Mas em nível municipal, essas ações vão desde o fortalecimento dos conselhos municipais, da devida aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente, até o fortalecimento e qualificação das ações da Secretaria Municipal de Assistência Social. Entendo que é mais eficaz prevenir do que remediar. Além de contribuir no debate, vou fiscalizar de perto as ações da Semas, que não pode mais ser utilizada para fins políticos. Se há vinte anos a Assistência Social fosse tratada a sério em nossa cidade, hoje teríamos um número bem menor de usuários de crack, de pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade social, bem como de jovens perdendo suas vidas para as drogas na nossa capital. A falha não está na nossa polícia. A polícia faz a parte dela. A falha está na forma como as autoridades tratam esse assunto. Deveria haver uma campanha mais ostensiva, como foi a do cigarro. Deveria haver mais interação e diálogo entre a prefeitura, setores organizados e população.

DM – Como vê a questão política nacional?

Sabrina – Torço para que o Brasil vença as crises política e econômica. Mas caso a crise se aprofunde ainda mais, tenho medo de uma eleição indireta. Isso sim seria uma marcha à ré. Para além da política, espero que o povo brasileiro caminhe mais unido. Um bosque é mais forte que uma árvore só.

DM – O impeachment foi um golpe?

Sabrina – Depende de quem vê. Uns dizem que sim, outros dizem que não. Caetano Veloso, por exemplo, disse “que a destituição de Dilma pareceu um golpe paraguaio em câmera lenta”, faz sentido… Já FHC, um cara que eu também admiro, disse que apesar de Temer ser presidente hoje graças às pessoas que votaram na Dilma o impeachment não foi golpe. O tempo vai dizer qual dessas duas teses é a correta.

DM – Você já foi da direção do tradicional Centro Acadêmico Clovis Beviláqua, do Diretório Central dos Estudantes da PUC/GO e da UNE, quais as maiores conquistas da juventude nos últimos anos?

Sabrina – Muitas. Em nível estadual, os programas Bolsa Universitária e, mais recentemente, o Passe Livre Estudantil, que eu pude ajudar na sua implantação, são dois bons exemplos. Em nível federal destaco a política de cotas. A população negra é maioria no Brasil, entretanto é minoria nos espaços de poder. Os negros são minoria no judiciário, no legislativo e no executivo. A base social é predominantemente negra, já o topo da nossa pirâmide social é predominantemente branco. Isso é por acaso? Não! Precisamos sim fazer um resgate social. As cotas hoje são absolutamente necessárias para o resgate e promoção de justiça social. Quando o sistema de cotas foi criado no Brasil muitos disseram que o nível e a qualidade dos formandos seriam menores. Mas isso é mais um preconceito. O próprio Edward Madureira, ex-reitor da UFG disse durante entrevista recente neste jornal que isso não aconteceu. O nível de qualificação dos cotistas após se formarem é o mesmo dos não cotistas. Já em Goiânia a muito que ser feito para a juventude. Podemos contribuir para a juventude auxiliando em sua mobilidade, estimulando a prática e o acesso à cultura, adotando uma política agressiva de combate ao uso de drogas e é claro cobrando do Executivo uma educação de qualidade. As crianças que estão nos Cmeis e escolas do município hoje serão os jovens de amanhã. rei debater como vereadora questões que extrapolam o limite dos muros da Câmara. Acho que um mandato deve servir como caixa de ressonância social, além de fiscalizar o município e elaborar projetos de lei.

 


Torço para que o Brasil vença as crises política e econômica, mas tenho medo de uma eleição indireta

 

DM – Sua atuação será intensa no que tange a criança e o adolescente, já existe algum projeto de lei para esse público?

Sabrina – Durante a campanha descobri o programa Mãe crecheira, já é um projeto que estamos apresentando. Uma saída para as mães que não conseguem vagas nos Cmeis. É claro que o ideal é que existam vagas para todos, mas até lá as mães e as crianças que não conseguiram vagas no Cmeis, não podem pagar o preço pela ineficiência do serviço público. As Mães crecheiras serão uma alternativa. Elas serão capacitadas e fiscalizadas pelo município. Não estou reinventando a roda, esse projeto já funciona super bem em outras capitais. Mas vamos ir além. Muito será apresentado. Não só para esse público. Nosso mandato pensará Goiânia como um todo. Goiânia é a nossa casa. Deve ser tratada como nosso lar, são muitos os cuidados e as demandas para um lar funcionar em harmonia. Mas gostaria de deixar um convite. Na próxima terça-feira acontecerá o Jantar APAExonado, com o objetivo de ajudar a melhorar a infraestrutura da APAE Goiânia. As crianças de lá estão, por exemplo, sem condições de realizarem suas atividades hidroterápicas, por problemas de infiltração. Então esse jantar será oportuno para arrecadarmos fundo, os ingressos estão sendo vendidos na própria sede da instituição e também em meu gabinete na Câmara.

 

 

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