Política

Queda de Cunha afeta parlamentares goianos

Diário da Manhã

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 21:33 | Atualizado há 9 anos

Nos últimos meses políticos das mais diversas tendências beberam água na “fonte” do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Cunha reuniu ao seu lado parlamentares das bancadas evangélica, ruralistas, empresarial, conversadores e saudosistas da ditadura com o seu discurso anti-movimentos sociais, anti-homossexuais, anti-PT, anti-feminismo, anti-cotas etc.

Em Goiás,  o peemedebista recebia apoio da bancada ruralista, dos deputados federais Roberto Balestra (PP) e Euler Cruvinel (PSD). Na bancada evangélica tinha o respaldo do Pastor Fábio Sousa (PSDB), e na bancada empresarial, a simpatia do ex-deputado Sandro Mabel (PMDB) e do deputado federal Jovair Arantes (PTB), articuladores de sua eleição na presidência da Casa. A Operação Catilinárias, da Polícia Federal, que recolheu o celular de Cunha e documentos em suas residências (a oficial, em Brasília e no seu condomínio, no Rio de Janeiro), coloca o peemedebista na berlinda.

Eduardo Cunha está atolado até o pescoço em denuncias de corrupção. É acusado pelo Ministério Público da Suíça de ser dono de uma conta com US$ 5 milhões. O delator Nestor Cerveró o acusa de cobrar propina de R$ 45 milhões junto ao banco BTG Pactual, de André Esteves (preso juntamente com o senador Delcídio Amaral). O empresário  Milton Lyra, que teria intermediado o pagamento da citada propina de R$ 45 milhões do BTG Pactual a Cunha e outros peemedebistas, propôs  delação premiada antes de ser detido pela Justiça. Lyra era lobista do banco no Congresso quando da discussão da Medida Provisória 608/2013, que tratava de créditos tributários, abrindo para novas formas de capitalização para bancos.

Apesar das gravíssimas acusações, Eduardo Cunha tinha apoio dos próceres da oposição anti-Dilma para levar à frente o processo de impeachment pedido pelo PSDB do senador Aécio Neves (MG) e pelo DEM, dos senadores Ronaldo Caiado (acusado de receber doações do pecuarista José Carlos Bumlai) e Agripino Maia (acusado por suposta prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro).

Até que ponto o ocaso ou a queda de Eduardo Cunha prejudica a imagem destes parlamentares? É difícil dizer. O mais provável é que seu espólio passe a ser disputado justamente por aqueles que tinham relações mais próximas com a sua base de apoio. E neste caso o principal beneficiário poderá ser Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara Federal.  O petebista, que mantém boas relações com o Palácio do Planalto, poderá ser alçado a uma campanha vitoriosa à presidência do Legislativo, em caso de  renúncia, cassação ou afastamento de Eduardo Cunha.

Em relação à pauta anti-Dilma e anti-PT, a ausência de Cunha à frente do processo de impeachment frusta os interesses do senador Ronaldo Caiado. O seu protagonismo nas causas conservadoras, também deixará uma lacuna na bancada evangélica. Venha quer vier, o presidente pós-Cunha deve ter um perfil mais conciliador, aja vista que as investigações em curso pela Polícia Federal e pela Procuradoria Geral da República tendem a expor os “métodos” de persuasão de Cunha.  Eduardo Faustino (PRB-SP)  – expurgado da relatoria da Comissão de Ética que analisava sua cassação –  acusou Cunha de  ter feito ameaças de morte e ainda propostas para vender o seu voto, mudando o seu parecer favorável à cassação do mandato. É provável que a queda de Cunha leve o Parlamento a ter um comportamento mais digno, mais republicano e menos parecido com um cabaré de garimpo.


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