STF investiga deputados do PTB e SD e manda prender sobrinhos de Jovair
Diário da Manhã
Publicado em 31 de maio de 2018 às 04:39 | Atualizado há 4 meses
A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Registro Espúrio, autorizada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. Foram feitas busca e apreensão nos gabinetes dos deputados Jovair Arantes (PTB), Paulinho da Força (SD-SP) e Wilson Filho (PTB-PB). No mês de março a revista Veja trouxe na capa a matéria denunciando um esquema de arrecadação de propinas no Ministério do Trabalho, os investigadores apuram estas supostas fraudes e corrupção no processo de registro de sindicatos.
Cerca de 320 policiais cumpriram 64 mandados de busca e apreensão, 8 mandados de prisão preventiva e 15 mandados de prisão temporária, além de outras medidas cautelares. A operação começou a ser organizada no dia 3 de maio e foi autorizada por Fachin no dia 22 de maio. Jefferson, Jovair, Paulinho e Wilson Filho são investigados por suposta organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro num esquema no Ministério do Trabalho.
O portal G1 veiculou informação de que segundo as investigações, o núcleo político do esquema teria como participantes o ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, os deputados Paulinho da Força, Wilson Filho e Ademir Camilo Prates Rodrigues (MDB-MG) e os senadores Dalírio Beber (PSDB-SC) e Cidinho Santos (PR-MT), atualmente licenciado do mandato. A PF cumpriu mandados no Distrito Federal, São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. Em São Paulo, a PF fez buscas na Força Sindical e na União Geral dos Trabalhadores (UGT). As apurações começaram há um ano, segundo a PF. São investigados crimes de organização criminosa, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro.
PROCURADORES
O ministro Fachin determinou que procuradores do Ministério Público Federal acompanhem o cumprimento dos mandados. De acordo com Fachin, a polícia deve evitar exposição indevida dos alvos, evitando, inclusive, o uso de armamento ostensivo, com uso da força policial apenas em caso de necessidade. O magistrado determinou ainda que a PF recolha valores acima de R$ 20 mil que não tenham justificativa imediata.
PRISÃO
O ministro Edson Fachin, também determinou a prisão preventiva de Leonardo Arantes, sobrinho do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) e secretário-executivo do Ministério do Trabalho, segundo cargo na hierarquia da pasta. De acordo com informações veiculadas pela Agência Brasil, os agentes da Polícia Federal tentaram cumprir o mandado, mas Leonardo Arantes está em Londres, em missão oficial, a serviço do ministério. Os policiais vão negociar com Leonardo para que ele se entregue. Por ora, a Interpol não foi acionada.
Outro sobrinho de Jovair, Rogério Arantes, diretor do Incra, também é alvo de mandado de prisão preventiva, além do ex-secretário de Relações do Trabalho do ministério, Carlos Lacerda. De acordo com as investigações, os sobrinhos de Jovair foram alvo de uma ação controlada da PF, na qual foram flagrados negociando a possível liberação de um registro com uma entidade de Goiás.
GRAVAÇÕES
De acordo com a matéria veiculada pela revista Veja, a conversa gravada pelo empresário gaúcho Afonso Rodrigues de Carvalho no ano passado e revelou dois lobistas pedindo 4 milhões de reais em troca de um serviço junto ao Ministério do Trabalho, onde o deputado Jovair é citado:
Lobista 2: (…) A gente vai ter até que envolver o deputado Jovair…
Empresário: Não é o Jovair Arantes?
Lobista 2: É… O Jovair está junto com a gente, porque ele tem força e por ser do meu estado de Goiás. Eles tinham feito um cálculo. Eles tinham pedido 500 000 para pagar a parte técnica, para pagar as pessoas envolvidas lá e uma ponta para o Jovair. E 2,5 (milhões de reais) quando sair…
O STF também determinou mandato de prisão para os lobistas.
ESQUEMA
Segundo as investigações da Polícia Federal, o PTB e o Solidariedade, partidos que controlam o Ministério do Trabalho, são os beneficiários do esquema, supostamente liderado pelos deputados Paulinho da Força (SDD-SP), Wilson Filho (PTB-PB) e Jovair.
Lacerda, segundo as apurações, era um dos responsáveis pela manipulação dos processos de registro, permitindo que entidades envolvidas no esquema furassem a fila das concessões. Ele e outras autoridades da pasta são alvo de uma ação de improbidade ajuizada pelo procurador da República Frederico Paiva, de Brasília.
A PF pediu a prisão do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), mas a procuradora-geral Raquel Dodge se manifestou contra. Fachin concordou com ela. Fachin determinou que a PF recolha documentos relacionados a “manutenção e movimentação de contas no Brasil e no exterior”, dos componentes do esquema.
LOTEAMENTO DE CARGOS
Matéria veiculada no site da revista Veja mostra que o PTB e Solidariedade dividem os principais postos do Ministério do Trabalho desde o início do governo do presidente Michel Temer (MDB), em maio de 2016. Até o final de 2017, a pasta foi comandada pelo deputado federal Ronaldo Nogueira (RS), que retornou ao Congresso para pavimentar sua candidatura à reeleição. Em janeiro, outra parlamentar do PTB, Cristiane Brasil (RJ), chegou a ser nomeada para o cargo por Temer, mas não assumiu por decisão da Justiça.
Cristiane é filha do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do partido envolvido em outro ruidoso esquema de corrupção da legenda, o dos Correios, que deu início ao escândalo do Mensalão em 2005. Jefferson e Jovair são padrinhos políticos da manutenção do atual ministro da pasta, Helton Yomura.
Já ao Solidariedade cabe a Secretaria de Relações do Trabalho. O chefe dessa divisão é Carlos Cavalcante de Lacerda, indicado diretamente pelo deputado Paulinho da Força.(Com informações da Agência Brasil, G1, Estadão)
COMO FUNCIONAVA O ESQUEMA
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o esquema de fraudes nos registros sindicais funcionava em secretarias do Ministério do Trabalho responsáveis pela análise de pedidos de registro. As fraudes, de acordo com as investigações, incluíam desrespeito à ordem cronológica dos requerimentos de registro sindical e direcionamento dos resultados dos pedidos. Pagamentos envolviam valores que chegaram a R$ 4 milhões pela liberação de um único registro sindical, segundo a investigação.
Segundo o MPF, no decorrer do inquérito, a Polícia Federal identificou a existência de um esquema criminoso estruturado em cinco núcleos de atuação: administrativo, político, sindical, captador e financeiro.
Núcleo administrativo:
formado por pelo menos menos 10 servidores do Ministério do Trabalho tinha a incumbência de viabilizar as fraudes.
Núcleo político:
formado por parlamentares e ex-parlamentares atuava indicando e mantendo em cargos estratégicos do ministério os servidores que faziam parte do esquema.
Núcleo sindical:
tinha a missão de fazer o contato com os funcionários públicos encarregados de operacionalizar as fraudes.
Núcleo captador:
formado por lobistas e advogados que faziam a intermediação entre os sindicados interessados em registros com os demais integrantes da organização criminosa.
Núcleo financeiro:
viabilizava os pagamentos (das entidades sindicais para os envolvidos) por meio da simulação de contratos fictícios de trabalho.