Política

“Tudo que quero é disputar com um candidato com o logotipo da Globo na testa”, diz Lula

Redação DM

Publicado em 24 de novembro de 2017 às 02:04 | Atualizado há 7 anos

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conce­deu entrevista exclusiva ao jornalista Rubens Salomão, na Rádio 730 AM. O Diário da Manhã disponibiliza nesta edi­ção a íntegra da entrevista. Con­fiante, Lula afirma que será can­didato à presidência em 2018. Ele fez duras críticas à atuação da PF e do MPF na Lava Jato. Lembrou que invadiram as ca­sas de Ricardo Nuzmann (COE), Sérgio Cabral (ex-govenador do Rio) e encontraram dinheiro e joias, enquanto na sua casa não encontraram nada.

De acordo com Lula, a cri­se da Previdência é uma falá­cia. Ele condena a privatização das empresas estatais (Petro­bras, Eletrobras, Banco do Bra­sil e Caixa Econômica Federal) e diz que no Brasil o Estado ain­da tem um papel muito impor­tante como indutor do cresci­mento, da geração de empregos e da qualidade de vida. Ele citou programas exitosos em seus go­vernos como Farmácia Popu­lar, Samu, Mais Médicos, Mi­nha Casa Minha Vida, Prouni, Fies, Luz para todos e outros, para ressaltar a importância do governo federal investir no bem-estar da população.

Lula diz que a tendência é o PT construir uma chapa de centro­-esquerda, vê dificuldades numa aliança com o PMDB em Goiás, massalientaque, apósaseleições, todo governo tem que construir maioria no Congresso Nacional. “Mente, antecipadamente, quem diz que não vai buscar apoios no Congresso”, rebate.

O petista diz que gostaria de enfrentar Luciano Huck nas ur­nas por considerar que este é um candidato da Rede Globo de Te­levisão. “Gostaria de enfrentar um candidato com o logotipo da Globo na testa”, ironiza. Afir­ma que é legítimo o deputado Jair Bolsonaro sair candidato, mas estranha o seu discurso de que não é político depois de sete mandatos(28 anos) na Câmara Federal. “Eu não costumo desfa­zer das pessoas, quem vai deci­dir é o povo brasileiro. Ainda tem uma procura por candidatos. Es­tão tentando inventar o Huck, o ex-ministro Joaquim Barbosa, o Moro, enfim. Cada um inventa o que quiser”, aponta.

Questionado sobre entrevista feita há três anos, na qual o gover­nador Marconi Perillo o acusou de ser “o maior canalha do Bra­sil”, Lula ponderou: “Nunca res­pondi porque eu não costumo responder bobagens. O Marco­ni Perillo sabe o que ele é, sabe o que ele faz e eu não posso ficar respondendo. Estou muito tran­quilo, o governador é responsá­vel pelas palavras dele. Deixa ele continuar falando”.

 

 

Confira a entrevista

A relação deste governo com o Congresso Nacional não é a mesma que houve nos governos anteriores do sr., de Dilma, Fernando Henrique, Collor e Sarney?

Lula – Não. Você se relaciona com o Congresso que existe, você não tem como mudar o Congresso. O Con­gresso foi eleito em 2014, está aí por­que teve legitimidade eleitoral, en­tretando, o governo não é obrigado a fazer as concessões que está fa­zendo. O que é muito grave é que sai muito caro para a nação bra­sileira esta subordinação que o go­verno têm ao Congresso Nacional. Eu sempre ouvi dizer, desde o tem­po do saudoso Ulysses Guimarães, que o Congresso adora presidentes fracos. Quanto mais fraco o presi­dente, mais eles podem enfiar goela abaixo todo tipo de coisa. E o Temer é um presidente fraco do ponto de vista da opinião pública, com 3% de aceitação e 97% de rejeição e en­tão o Congresso Nacional aproveita esta fragilidade para impor aquilo que quer, e exigir que o governo faça coisas, que num estado democráti­co ele não faria. A verdade é que a Dilma estava fragilizada também e como não aceitava fazer o jogo do Congresso Nacional e nem o jogo do mercado, eles inventaram a pe­dalada para afastar a Dilma. Com o Temer eles estão exigindo e o Te­mer está cumprindo a risca tudo o que o mercado está exigindo, que é destriuir parte da indústria nacio­nal, vender a outra parte da indús­tria nacional, e atender e facilitar a vida de um conjunto de deputa­dos que agem como se fossem do­nos do país. Acho que você pode fa­zer articulação política,mas você não pode vender a alma ao diabo.

O sr. fez um governo de oito anos de superávit primário, lucro recorde de bancos e do mercado financeiro. Não é estranha a taxação de que o PT é comunista?

Lula – Eu fiz um governo em que foi um dos melhores momentos do pais em que todos ganharam; ga­nharam os empresários, os traba­lhadores, os aposentados, todos en­fim. OBrasilganhou, poischegamos a um fluxo na balança comercial de 482 bilhões de dólares. O Brasil tinha respeitabilidade no mundo inteiro, o Brasil era tratado como protagonista internacional e o Bra­sil viveu um momento extraordiná­rio onde foram gerados mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada nos 14 anos que o PT go­vernou o país. É importante lem­brar para os políticos do Estado de Goiás e do Brasil, que quando eu deixei a presidência da República em 2010 eu tinha 87% de aprova­ção bom e ótimo, 10% de regular e 3% de ruim e péssimo. Não havia um único político no Brasil que ti­nha coragem, naquele momento, de fazer campanha contra o Lula. Só para ter uma idéia, o candida­to que concorreu contra a Dilma, que era o atual senador José Ser­ra (PSDB) começou a campanha dele com uma fotografia minha di­zendo que era meu amigo. Era um momento em que a inflação estava controlada, o PIB estava crescendo 7,5% e o varejo crescendo 12%, ou seja, não houve melhor momento na história do Brasil quando todos estavam com a autoestima muito elevada. Acho que o que está aconte­cendo hoje é uma propaganda que a economia está sendo recuperada, uma coisa muito forçada, porque a verdade é que o PIB caiu 8,7% e já chegamos ao fundo do poço. Não tem mais onde cair, então é normal que a economia comece a se recupe­rar um pouco. Estamos muito lon­ge de voltar ao patamar que a gen­te tinha em 2008, 2009, 2010, 2011, 2012. Falta muito. Obviamente que eu fico torcendo para o Brasil dar certo, pois quando o Brasil dá er­rado quem paga o pato é o povo, quem fica desempregado é o povo, quem ganha mal é o povo, quem passa fome e necessidade é o povo e o pequeno e médio produtor.

É possível falar em aliança do PT com o PMDB em alguns Estados, inclusive em Goiás, no caso com Daniel Vilela e Maguito Vilela?

Lula – Faz tempo que não tenho contato com o PMDB de Goiás. Te­nho uma belíssima relação com o Maguito Viela. desde o tempo em que ele foi deputado constituinte, governador, mas tem tempo que não tenho contato e não sei quais são as perspectivas de aliança no Estado de Goiás.

Quais são as alianças que o PT pretende fazer?

Lula – Vamosanalisarumaques­tão, só para politizar o povo: o im­portante na vida política de um país é que só um partido político pudes­se sozinho eleger a maioria de go­vernadores, deputados, senadores e ainda eleger o presidente da Re­pública. Isto é muito difícil. A se­gunda situação é que o PT, junta­mente com as esquerdas pudesse eleger a maioria dos governado­res, mais deputados, mais senado­res. Também é difícil. A terceira si­tuação é que o povo brasileiro só elegesse gente da maior dignida­de, gente com ética, comprometida com o povo brasileiro, para facilitar uma governança. A quarta situa­ção é que se você ganhar as eleições, você tem que governar com quem também ganhou as eleições, para construir a maioria e poder gover­nar. Um candidato como eu preciso menos fazer alianças para gover­naraseleiçõesdoqueparagovernar. Porque quem ganha tem que cons­truir maioria no Senado, na Câma­ra e vai conversar com quem exis­te, seja o PSol, a Rede, o PR, o PTB, o PDT, o PSB, o PCdoB, o PMDB, você vai ter que conversar com os sena­dores e deputados eleitos. É assim. E você pode fazer aliança progra­mática. A aliança não precisa ser expúria, por cargo. Você faz uma aliança programática, apontando quevaicumprircomtalprogramae assume compromisso publicamen­te com a sociedade brasileira. É as­sim que você governa um país do tamanho do Brasil. Alguém dizer que vai governar o Brasil sem ne­nhuma aliança política, esta pes­soa está mentido antecipadamen­te. Porque não é possível pensar em governar sem a construção de uma governança dentro da Câmara e do Senado. Você pode é fazer uma aliança prográmatica, escrever os compromissos e o povo saber cada coisa que vai ser discutida e aprova­da. E é isso que nós iremos propor, inclusive para aprovar o referen­do revogatório, que é a autoriza­ção para mudar algumas coisas que foram feitas no governo Temer.

Há três anos o governador Marconi Perillo disse numa entrevista que o sr. seria o maior canalha do Brasil. O sr. nunca respondeu. Por quê?

Lula – Eu nunca respondi porque eu não costumo responder boba­gens que as pessoas falam. O Mar­coni Perillo sabe o que ele é, sabe o que ele faz e eu não posso ficar res­pondendo. Se eu passar numa rua e um animal fizer um gesto qual­quer para mim eu não vou ficar bri­gando. Eu estou muito tranquilo. O governador é responsável pelas palavras dele. Deixe ele continuar falando, porque ele sabe quem ele é, e sabe quem eu sou.

Se o sr. não puder ser candidato, é possível o PT apoiar outro nome fora do PT, como Ciro Gomes. Há outro nome?

Lula – Eu não vejo possibilidade denãosercandidato. Euestouvendo o carnaval que está sendo feito. Al­guém para ser impedido de ser can­didato, alguém tem de ter alguma prova contra esta pessoa e mostrar esta prova. Eu já cansei de desafiar a Polícia Federal da Lava Jato, eu já cansei de desafiar o Ministério Público da Lava Jato, eu já cansei de desafiar o Moro. Por que eu falo Ministério Público e Polícia Fede­ral da Lava Jato? Porque são ins­tituições que tenho muita confian­ça, e tenho a consciência de que fui o presidente que mais fez para for­talecer estas instituições. Mas pelo fato da instituição ser forte, as pes­soas que compõe estas instituições tem de ser mais responsáveis. Por­tanto, tenho desafiado eles pois já cansei de provar a minha inocên­cia e estou esperando que eles pro­vem a minha culpa. Eu não tenho culpa que eles se subordinaram aos meios de comunicação, sobretudo a Rede Globo de Televisão. Eles fa­zem as coisas muito mais para pres­tarem conta. Eu estou imploran­do que eles apresentem uma única prova contra mim. Eles invadiram a minha casa com a Polícia Fede­ral. Eles foram na casa do Sérgio Cabral e pegaram dólar, pegaram joias. Foram na casa do Nuzman e pegaram dinheiro. E eles foram na minha casa abriram o meu fogão, abriramaminhatelevisão, cadapo­licial com uma máquina fotográfi­ca pendurada no peito, levantaram o meu colchão e não encontraram nada. Por que eles não tiveram a coragem, a decência de chamar a imprensa e dizer: “queremos pedir desculpas ao presidente Lula por­que viemos aqui porque suspeitá­vamos que tinha alguma coisa e não tinha nada”. Não tiveram a de­cência a honradez de pedir descul­pas a sociedade brasileira.Quando tem alguma coisinha eles mostram como se fosse um carnaval. Quan­do não tem, ao invés de pedir des­culpas para tornar a pessoas que foi investigada honrada, eles pre­ferem se omitir. Eles mexeram com quemnãodeveriammexer, estãoacu­sando quem não deveriam acusar, e eu estou disposto a ir às últimas consequencias a brigar para fazer com que estas instituições passem a respeitar as pessoas. Você só pode condenar uma pessoa quando você tem provas, você não pode execrar uma pessoa nos meios de comuni­cação. Quando você execra e con­dena uma pessoa pelos meios de comunicação, mesmo que ele seja inocente ele já está condenado. O que eu quero é respeito ao ser hu­mano, é o cumprimento do Estado democrático e da Constituição e o respeito às pessoas. Se a pessoa co­meteu um erro e roubou, tem que pagar, tem que ser presa. Mas é pre­ciso ter um julgamento digno, uma apuração digna, para poder fa­zer isto. Da mesma foram que eu desde de pequeno aprendi a res­peitar os outros, eu também que­ro ser respeitado. Por isto a minha luta para provar a minha inocên­cia foi feita, agora quero ver a luta deles para provar a minha culpa. Por isto tenho a consciência de que vou ser candidato se o PT e os par­tidos aliados quiserem. Neste mo­mento a gente não está discutindo nem plano “A”, nem plano “B” e nem “C”, porque ainda não discutimos a candidatura, que só será discu­tida no ano que vem. Minha dis­posição é de concorrer às eleições, porque tenho consciência de quen é possível recuperar o Brasil, con­sertar o Brasil e fazer o povo brasi­leiro voltar a ter alto estima, a an­dar de cabeça erguida.

Como o sr. analisa o apresentador Luciano Hulck e esta ideia de outsiders, e uma possível politização com o deputado Jair Bolsonaro?

Lula- Eu não acredito em ou­t-sider (candidatos sem partido). Eu não acredito que é possível en­contrar alguém na sociedade, fora dos partidos políticos, que possam salvar este país. Tudo o que eu que­ro na vida é disputar uma eleição com alguem com o logotipo da Glo­bo na testa. Tudo que eu quero é dis­putar com um candidato da Globo. Que a Globo escolha o seu candi­dato a presidente, a vice, assuma o seu candidato para a gente poder fazer a disputa. Eu quero ver o que esta gente pensa e vai propor para o Brasil. A segunda coisa é que eu acho que o Bolsonaro tem o direi­to de ser candidato. Ele já é depu­tado a sete mandatos, são quase 28 anos de mandato e ele diz que não é político. É isto que eu acho engra­çadíssimo: o cara tem sete manda­tos, 28 anos de Congresso Nacional e com a maior desfaçatez fala que não é político. Acho que ele tem o direito de ser candidato, tem o di­reito de defender o que ele quiser defender e cabe ao povo brasileiro julgar. O povo vai ter o candidato que merece, seja eu, seja o Bolsonaro ou qualquer outra pessoa. Eu não costumo me desfazer das pessoas, quem tem que analisar cada um é o povo brasileiro. O que eu quero é que cada um tenha o direito de dizer o que vai fazer e como vai fazer. O povo tem que investigar, tem que saber a vida de cada um, para votar do melhor jeito possí­vel. No mais ainda há uma pro­cura por candidato. Estão procu­rando quem será o candidato do PSDB. Muitos falam que há uma disputa entre a extrema esquerda que sou eu e a extrema direita que é o Bolsonaro e tentam encontrar o caminho do meio. Estão tentando inventar o Hulck, o ex-minitro Joa­quim Barbosa, o Moro. E eu acho que cada um inventa o que quiser. Isto é como jogo de futebol, na hora que começar o jogo a gente vai ver quem tem garra, quem tem força, quem tem time e quem vai marcar os gols necessários para ganhar a partida. A única coisa que eu que­ro na campanha é reviver com o povo brasileiro os momentos feli­zes que este povo viveu durante o meu governo, que foi um país de esperança, de realizações. Um pais de bolsa-familia, de luz-para to­dos, Fies, de Mais Médicos, Brasil Sorridente, Samu, Minha Casa Mi­nha Vida, Pronatec e Prouni. Estas coisas maravilhosas que fizeram o Brasil crescer, se desenvolver e fez todo mundo acreditar, que final­mente este país pode ser um país desenvolvido. Eu sonhava em 2008 que o Brasil chegaria a ser a quin­ta economia do mundo. Sonháva­mos,estavamos perto, estávamos passando a Inglaterra. Lamenta­velmente isto não aconteceu e está desandando, mas eu acredito pia­mente de que é possível superar e fazer o Brasil voltar a crescer.

 

 

 

Tenho a consciência de que vou ser candidato se o PT e os partidos aliados quiserem. Neste momento, a gente não está discutindo nem plano “A”, nem plano “B” e nem “C”, porque ainda não discutimos a candidatura, que só será discutida no ano que vem”

 

 

 

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