Um goiano sonha com a presidência
Redação DM
Publicado em 4 de agosto de 2018 às 02:13 | Atualizado há 5 meses
O ano era 2002. Como repórter de política do Diário da Manhã, acabei escalado para cobrir uma premiação em Miami, nos Estados Unidos. O goiano Henrique Meirelles se afastava do Banco de Boston e tentava sua indicação para ser senador por Goiás. Seria ele o premiado.
Nos bastidores, em Goiânia, o então governador Marconi Perillo (PSDB) e demais tucanos optaram em indicar Lúcia Vânia para a vaga de senador. Sobrou para Meirelles a disputa de deputado federal. Ele disputou, foi o mais votado, mas jamais assumiu sua vaga na Câmara Federal.
Foi embora ser presidente do Banco Central em uma bem sucedida administração do ex-presidente Lula. Hoje, 16 anos depois, Meirelles está de volta no cenário político nacional. Teve homologada sua candidatura a presidente da República pelo MDB após se dedicar a comandar a economia do País na chefia do Ministério da Fazenda. Conseguiu driblar desta vez Marconi Perillo, que esteve à frente da coordenação da pré-campanha de Geraldo Alckmin no mês passado e que desejava torná-lo vice em uma chapa com o tucano na cabeça.
Naquela viagem para ser agraciado pela Câmara de Comércio Brasil Estados Unidos, em um restaurante de Miami, Meirelles disse ao DM que seu sonho era consertar o Brasil, mas reconheceu que o pulo da presidência do Banco de Boston para o Governo Federal era quase impossível. “Gostaria muito de começar pelo Senado. A presidência está muito longe”, disse na ocasião.
Quando o leitor chegar nas urnas em 2018 é provável que ele veja o rosto de Meirelles na urna. Há tempos o MDB não coloca um nome na disputa. E caberá a Meirelles tentar vencer as eleições. O que ele tem a mais do que os demais pré-candidatos? Tempo de tevê e currículo. No quesito propaganda, ele só perde para o PT, que terá 183 segundos contra 175 de Meirelles.
O cenário atual está bipolarizado: Jair Bolsonaro (PSL) e Lula (PT) aparecem na dianteira. Atrás, bem próxima de Bolsonaro, surge Marina Silva (Rede). E bem atrás aparecem Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles. A diferença de pontos nas sondagens é grande, todavia, quando se faz uma análise de poucos segundos surge uma luz no fim do túnel: Meirelles é ficha limpa, tem experiência de gestão e conseguiu ao menos segurar a crise – diga-se de passagem, criada pelo PT, MDB e outros, mas não por ele.
O “efeito Meirelles” da disputa é um só. Ex-chefe maior da economia do País, o engenheiro civil goiano adotou uma estratégia: insistir no bordão “chama o Meirelles”. Ou seja, chama o ex-ministro que ele resolve. Especialistas e cientistas políticos apontam seu nome como uma das possibilidades mais viáveis do centro, já que se espera para as próximas semanas o fim da tendência polarizada entre os discursos de ódio de Lula e Jair Bolsonaro. Com razão, dizem muitos consultados pelo DM, o eleitorado escolheria um político limpo e com capacidade técnica de fazer o País voltar a crescer.
O cientista político Itami Campos disse ao DM que uma das chances de Henrique Meirelles seria a mudança radical do quadro: a população teria que começar a buscar alternativas ao quadro bipolarizado. “Acredito que ela rejeitará a ideia tão simplória de salvadores da pátria”.
Seria aqui, portanto, que entraria a única chance viável de Meirelles – justamente o antissalvador da pátria. O pesquisador aposta na postulação conservadora e “reformista”, pois sempre oferece uma visão que agrada o mercado – a instituição que realmente “elege” no Brasil.
O jornalista e especialista em marketing político Luis Carlos Freitas, doutor em educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), diz que Meirelles “comunica” articulação – tudo o que falta em Lula ou Bolsonaro. Mas ele também reconhece que a eleição de 2018, até agora, segue um formato de disputa rebelde e fechada. Ou seja, o povo está indignado e com pouco interesse em “racionalizar” o voto. “Ele tem qualidades: é um “não político”. O Brasil passou a rejeitar com veemência aqueles que vivem exclusivamente da política. Pode ser que consiga se inserir neste contexto. Ultrapassar Alckmin e Ciro, penso eu, ele vai”.
SEM PADRINHO
Outra característica de Meirelles é que não tem padrinho, não bajula legendas, não deve favores para políticos. Seu capital é exclusivamente fruto da técnica. Foi presidente do Banco Central das gestões de Lula – diga-se, o mais estável – por competência própria. No governo Lula, foi escolhido para ser candidato à vice-presidente. E rejeitou o convite. Em 2010, no último dia para escolher que caminho seguir, optou em ficar no governo.
BÚSSOLA
Seu afastamento da gestão Dilma Rousseff (PT) foi uma das motivadoras para o País entrar no caos. Sem sua bússola, Dilma desgovernou. Discretamente, elegante e sem frases feitas, Meirelles viu o caos da arquibancada.
Caiado foi o primeiro goiano a tentar presidência
Em 1989, plena atmosfera de reabertura democrática, o médico Ronaldo Caiado chamou a atenção do Brasil pela ousadia: foi candidato a presidente.
E disputou com qualidade: nos debates entrou em grandes questionamentos e confrontos contra Lula, tornando-se o primeiro a mostrar as contradições do PT e o início de histórico de corrupção que tornaria inviável o futuro da legenda.
Caiado foi o primeiro a falar do escândalo Lubeca. Com sua indefectível cabeleira negra, ele tirava suspiros das mulheres que o viam pela tevê.
LULA
Com 22 postulantes, Ronaldo Caiado figurou na décima posição, com 488.846 mil votos. Em um dos debates questionou Lula: “Eu devo reconhecer que o PT é fruto de uma militância sindical ideológica, é o grupo dissidente, grupo de Sorbonne, esses grupos se uniram e montaram o PT. Foram uniformes. Mas quando chegam ao poder é o mais vistoso desastre administrativo já visto no Brasil”.
Naquele mesmo ano, o goiano Iris Rezende (MDB), que contava com o apoio da nascente bancada evangélica, também tentou ser indicado para disputar a presidência. Mas perdeu na convenção para Ulysses Guimarães e Waldir Pires. Os emedebistas foram impiedosos com Iris, mesmo sabendo que ele teria mais chances do que o antigo cacique paulista.
Nas eleições seguintes, em 1994, foi a vez do paulista Orestes Quércia ser o candidato do PMDB. A vice escolhida foi a esposa de Iris Rezende, Dona Iris de Araújo, que desempenhou de forma surpreendente seu papel de candidata à vice, sendo uma das mais qualificadas na ocasião. A dupla perdeu a disputa vencida por Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Nunca mais Goiás conseguiu se articular para disputar esta eleição. Pela primeira vez, e até mesmo que Caiado, a legenda chega agora com um candidato equipado com tempo de tevê, partido de massas e recursos. Resta saber o que vai pensar o eleitorado.
Perfil técnico torna ex-ministro imbatível para corrigir economia
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles tem 73 anos. Nasceu em Anápolis, tendo desenvolvido carreira universitária na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde se formou em 1972. Dois anos depois, entrou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para pós-graduação em administração.
Dez anos depois da experiência no Rio, agora nos Estados Unidos, cursou o Advanced Management Program (AMP) pela Harvard Business School, tornando-se um dos profissionais mais disputados no segmento bancário dos Estados Unidos.
Tornou-se popular no Brasil na virada da década de 1990 para 2000 quando assumiu a presidência internacional do BankBoston. Atuou como presidente do Conselho de Administração da J&F Investimentos e Azul Linhas Aéreas Brasileiras.
Recentemente, bancoscomoBarclays e Goldman Sachs sondaram o ex-ministro da Fazenda, para que assumisse a presidência das entidades.
Uma das características essenciais do perfil do executivo goiano é seu equilíbrio de conhecimentos: sabe transitar das agendas da iniciativa privada e do setor público.
Marta recusa ser vice de Meirelles e anuncia que deixará o MDB
A senadora Marta Suplicy (MDB-SP) recusou ocupar o posto de candidata a vice-presidente de Henrique Meirelles na eleição presidencial deste ano.
Ela informou a decisão ontem ao presidente nacional do partido, Romero Jucá, e disse que também não pretende tentar a reeleição e que deixará o MDB.
O nome da senadora era o principal cotado para o posto. Sem ela, o partido cogita o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, também do MDB.
A última pesquisa do Ibope, divulgada em junho, mostrou a emedebista em terceiro lugar na disputa deste ano ao Senado. O MDB lamentou a decisão da senadora, mas disse respeitá-la.
Em carta, distribuída à imprensa, Marta justificou a sua decisão. Ela disse acreditar que contribuirá mais com o país atuando na sociedade civil, mas que não abandonará a participação política.
“Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres”, escreveu.
Ela criticou os partidos políticos e a postura da maioria dos integrantes do Congresso que, segundo ela, “não tem se colocado a favor das causas progressistas”.
“Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a respeitar os direitos individuais do ser humano”, afirmou.
Para ela, os partidos brasileiros “encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político”, além de não conseguirem dar respostas à “crise de credibilidade que se abateu sobre eles”.
“Orientam suas movimentações políticas pela lógica exclusiva de fazerem crescer suas bancadas parlamentares com o objetivo perverso e mesquinho de fortalecerem-se na divisão e loteamento de cargos e espaços de poder”, disse.
Ela disse também que a relação de grande parte do Legislativo com o Executivo levou a uma política de ““toma lá dá cá”, descartando padrões de dignidade e honradez da sociedade.”Esse sistema faliu e precisa ser, urgentemente, reformado”, ressaltou.
Ela agradeceu ainda os votos recebidos e reconheceu que, durante a sua carreira política, se viu em “tempos de travessia”