HIV+: estigma e preconceito afeta milhões de pessoas
Gregory Rodrigues
Publicado em 22 de março de 2023 às 18:00 | Atualizado há 4 meses
Ser
uma pessoa vivendo com HIV não é tarefa fácil. Mesmo com o avanço da ciência e
tecnologia no tocante aos tratamentos disponíveis no mercado, milhares de
pessoas que convivem com a doença são diariamente vítimas de situações de
preconceito e propagação de estigmas.
Estudos
realizados pelo UNAIDS (órgão ligado a Organização das Nações Unidas) têm
revelado que a discriminação é uma das grandes responsáveis por prejudicar o
enfrentamento a epidemia de HIV. Estas ações provocariam medo, vergonha e receio
de procurar meios seguros de se informar, se prevenir.
No caso
de pessoas que já vivem com o HIV, o preconceito e o estigma instalado em nossa
sociedade é também um grande vilão, capaz de fazer com que sejam adotados
comportamentos não seguros, pautados no medo de haver suspeitas sobre seu
estado sorológico. Resistência ao uso de
preservativo e a realização de testes regulares são alguns exemplos.
Fato é
que, o preconceito é oriundo de diversas áreas da vida, e o ambiente e mercado
de trabalho não fogem à esta triste realidade.
A Lei
14.289, sancionada em outubro de 2022, apresenta medidas para permitir que
pessoas vivendo com HIV, hepatites crônicas, tuberculose e hanseníase tenha garantia
do sigilo sobre sua condição no âmbito dos serviços de saúde, locais de ensino,
locais de trabalho, administração pública, mídia escrita e audiovisual, processos
judiciais e também na segurança pública. No entanto o medo de sofrer algum tipo
de violência desencoraja e impede que estas pessoas possam desfrutar de plena
cidadania.
De
acordo com Augusto Menna, 46, Mestre em História Social e Coordenador do Coletivo Viveração, a proteção legal não é
o suficiente para dar solução ao problema.
Sim, é fato que há proteção legal, porém entre o ideal da lei e a prática, há uma diferença enorme. De acordo com a pesquisa ‘Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS – Brasil’, realizada pelo Unaids em 2019, mais de 30% dos entrevistados relataram, dificuldades momentâneas ou frequentes para atender às suas necessidades básicas de alimentação, moradia ou vestuário. Eu mesmo já fui demitido em razão da minha sorologia positiva para o HIV”
Augusto Menna, 46, Mestre em História Social
Divulgação – Arquivo Pessoal
O desconhecimento
de muitos, seria um agravante para evolução do estigma, reforça Menna.
“As pessoas precisam saber, por exemplo que existe o I=I, ou seja, a pessoa que vive com HIV em tratamento constante contra o HIV fica com a carga viral indetectável, e por isso fica com o vírus intransmissível por via sexual, mesmo que faça sexo sem camisinha. No Brasil, a maioria das pessoas ainda desconhece esse fato científico que poderia atenuar o estigma e a discriminação.”
Augusto
argumenta ainda, que, a educação sem tabus pode ser grande aliada:
Precisamos levar informação correta e cientifica para as pessoas, e principalmente, precisamos falar de sexualidade de forma mais descontraída e sem tabus, não há como falar de prevenção, cuidado e autocuidado em matéria de HIV e outras IST’s sem falar de afeto e sexualidade. A escola precisa abordar a sexualidade, a afetividade e a prevenção, considerando em que vivemos em um mundo transformado pela revolução tecnocomunicacional.”
Augusto Menna
O boletim epidemiológico
da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde estima que
só no Brasil, mais de um milhão de pessoas vivam com HIV. Em 2022 foram registrados
16,7 mil casos da infecção.