Home / Saúde

SAÚDE

Injeção para obesidade pode não beneficiar à todos

Doutora cobra também políticas públicas para que pacientes obesos tenham melhor assistência médica

Imagem ilustrativa da imagem Injeção para obesidade pode não beneficiar à todos

Uma das principais doenças observadas na atualidade é a obesidade e Isso não é uma característica apenas do Brasil, mas sim do mundo inteiro. Mas se trouxermos para nossa realidade, a perspectiva para a doença não é muito animadora. Afinal os dados da Federação Mundial de Obesidade mostram que cerca de 30% da população brasileira, estará obesa no ano de 2030. Embora a previsão para o Brasil não seja das melhores, a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso da semaglutida 2,4 mg, conhecida também pelo nome Wegovy, é um alento para quem está acima do peso ou em tratamento da obesidade. Embora a medicação chegue no Brasil, o que deve ocorrer apenas no segundo semestre deste ano, as questões que precisamos responder são: como fica o cenário no Brasil a partir de agora? O número de cirurgias bariátricas vai cair? E a principal delas, todos terão acesso ao medicamento?


		Injeção para obesidade pode não beneficiar à todos
Fonte: Reprodução/Twitter

A Doutora, Pesquisadora e Investigadora da Universidade Federal de Goiás (UFG) em Endocrinologia, Daniela Espíndola Antunes lembra que a obesidade é hoje um problema de saúde pública, e que o número de pessoas diagnosticadas com a doença cresceu. Daniela comenta que os dados do Vigetel, mostra que houve um aumento de 72% de pessoas com obesidade nos últimos 13 anos, e que os números registrados em 2019 mostra que o número de pessoas obesas em nosso país, teve um aumento de 20%


		Injeção para obesidade pode não beneficiar à todos
Profa. Dra. Daniela Espíndola Antunes Profa. Associada de Endocrinologia e Metabologia, Faculdade de Medicina, UFG, Doutora em Endocrinologia, UNIFESP, Investigadora Principal, Unidade de Pesquisa em Endocrinologia, UFG. DIVULGAÇÃO

Em relação ao medicamento aprovado pela Anvisa, a investigadora afirma que os resultados divulgados são animadores, não apenas pela questão da redução que pode chegar a 17%, mas também pela melhora de comorbidades associadas à doença. No entanto, Daniela pontua que a injeção não será acessível para toda população pelo seu auto custo.

Os resultados dessa pesquisa são animadores, com a média de perda de peso de 17%, e melhora de comorbidades associadas, melhora da glicose, da glicemia, a diminuição da circunferência abdominal, da pressão arterial, dos triglicerídeos, que são fatores de risco para doença cardiovascular. Contudo é uma medicação de alto custo, eu acredito que uma pequena parcela da população vá ter acesso. Dessa forma não deve haver uma grande mudança no panorama da obesidade no Brasil, porquê possivelmente uma pequena parcela da população terá acesso a medicação. Daniela Espíndola, Doutora, pesquisadora e Investigadora

De acordo com a pesquisadora, o remédio aprovado pela Anvisa será o mais potente disponível no Brasil para o tratamento da doença. Entretanto, ela cita que já existem medicamentos mais potentes aprovados em outros países para o tratamento da obesidade, e que os resultados podem chegar a uma perda de 20% do peso. Daniela cita a Tizerpartida vendido com o nome Mounjaro, é vendido nos Estados Unidos. Para a doutora nós caminhamos neste momento para uma redução de cirurgias bariátricas, mas que não acredita que esse seja o cenário para os próximos anos nos país.

Outro ponto que Daniela ressalta é que a obesidade está relacionada aos fatores econômicos, e que se for observado os dados, a maioria da população obesa é quem possuí uma escolaridade e um poder aquisitivo menor. O que de acordo com a profissional, fará com que esses pacientes não tenham acesso a um medicamento como esse.

Então os pacientes com menor poder aquisitivo não terão acesso aos medicamentos mais modernos que promovem uma grande perda de peso. É necessário uma mudança nas políticas pública do país, para que esses pacientes tenham acesso a tratamentos de ponta. É necessário que haja equipes interdisciplinares, para atender esses pacientes, e que esses profissionais também sejam capacitados. Há muita desinformação nessa área e tratamentos equivocados da obesidade. Daniela Espíndola, Doutora, pesquisadora e Investigadora

Sem mudança de estilo de vida, medicação não permitirá alcançar os 17%

A pesquisadora pontua que a obesidade é provocada por multifatores como ambiente, genéticos e a questão de responder bem ou mau ao tratamento indicado ou receitado pelos médicos.

Os resultados obtidos pelo Wegovy, ocorreram a partir de uma mudança de estilo de vida dos pacientes. De acordo com Daniela, caso o paciente não mude o seu estilo de vida, passe a praticar atividades físicas, tenha uma alimentação readequada, não será possível chegar nesse topo dos 17% da perda de peso.

Outro ponto que a profissional lembra é que existem aqueles que respondem bem ao tratamento e aqueles em que a resposta não é a adequada. O paciente que não tem uma boa resposta é perceptivo com apenas três meses em que não haja uma perda de 5% do peso. Daniela salienta que os resultados vistos em quem respondeu bem ao tratamento, possibilitou que um a cada três pacientes, perdesse pelo menos 20%

Medicação contém altas doses

A maioria dos brasileiros, para não dizer todos, tem uma mania de se automedicar, o que é desaconselhado. Após a matéria ser publicada pelo DM, sobre a medicação, foi notório em nossas redes sociais, o número de pessoas que já procuraram saber onde adquirir o mesmo. A investigadora pontua que o Wegovy tem doses muita elevadas, e que é improvável que o paciente consiga progredir nas doses sem o auxílio de um médico, principalmente no caso de ocorrer efeitos adversos.

Outro ponto importante que precisa ser lembrado é que por se tratar de uma doença crônica, é necessário uma equipe interdisciplinar, formada geralmente por um Endocrinologista, um Nutricionista e um Psicólogo, pois assim é possível obter melhores resultados no tratamento até mesmo em doenças associadas a obesidade. A pesquisadora frisa também que para conseguir isso, é preciso que se tenha uma mudança de políticas públicas, uma vez que nem sempre temos essa equipe multidisciplinar ou ambulatórios para o atendimento deste paciente.

A obesidade é uma doença crônica, o tratamento deve ser a longo prazo, e isso requer uma equipe interdisciplinar. Além do Endocrinologista, é essencial um nutricionista, psicólogo. Se tivermos uma equipe interdisciplinar, os resultados de perda de peso, de tratamento das doenças associadas a obesidade são muito melhores. Precisamos ter políticas públicas com ambulatórios para tratamento dessa população, tem poucos locais em Goiânia que oferece esse tipo de tratamento. Quando esse tipo de tratamento é oferecido, ele contempla uma pequena parcela da população. E quando o mesmo é inexistente uma grande parte dela fica desassistida por não ter acesso, e não ter vagas para esses pacientes". Daniela Espíndola, Doutora, pesquisadora e Investigadora

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias