Saúde

Trabalhar demais pode mudar a estrutura do seu cérebro, aponta pesquisa

DM Online

Publicado em 22 de maio de 2025 às 13:30 | Atualizado há 4 horas

Um estudo verificou que mais de 52 horas de trabalho semanal pode estar associado ao desenvolvimento de alterações no cérebro. As mudanças registradas foram em diferentes funções do cérebro, como controle de emoções e memória. As conclusões foram restritas a profissionais da saúde, mas um autor do estudo acredita que os resultados também podem afetar pessoas que atuam em outras áreas.
O excesso de trabalho e seu impacto na saúde humana é um tópico bem documentado no meio científico. Doenças cardiovasculares, problemas na saúde mental e distúrbios metabólicos já foram associados com pessoas que trabalham por longas horas.
Um novo artigo publicado no dia 13 deste mês buscou entender o impacto da dedicação excessiva ao trabalho no cérebro humano. A pesquisa analisou 110 profissionais de saúde que foram divididos em dois grupos. O primeiro totalizou 32 indivíduos e envolveu aqueles participantes que trabalhavam mais de 52 horas semanais, classificados com excesso de trabalho. O outro grupo era composto por aquelas pessoas que trabalhavam menos que isso.
Os pesquisadores acompanharam a estrutura do cérebro dos participantes por meio de imagens neurológicas a fim de verificar possíveis alterações na estrutura desses órgãos. Os dados foram analisados considerando diferentes fatores, como idade e sexo, incluindo se havia histórico de trabalho excessivo ou não.
Ao comparar os grupos, pesquisadores observaram que aqueles com um maior registro de horas semanais no trabalho apresentaram alterações no cérebro não vistas entre os outros participantes. Por exemplo, indivíduos com maior carga horária de trabalho exibiram, em média, um aumento de 19% no giro frontal médio, o que pode afetar negativamente funções como atenção, memória e processamento de linguagem.
Essa alteração, em conjunto com outras, é um alerta para os problemas que excesso de trabalho pode causar. Mas uma mudança registrada no estudo pode ser benéfica: o aumento da massa cinza do cérebro.
Wanhyung Lee, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Chung-And, na Coreia do Sul, e um dos autores do estudo, explica que o incremento nessa região cerebral às vezes pode ser indicativo da neuroplasticidade benéfica ao órgão —como a partir do aprendizado de novas habilidades.
“No entanto, no contexto do estresse ocupacional crônico, não está claro se tais aumentos representam um fortalecimento verdadeiramente benéfico do cérebro ou, ao contrário, um mecanismo temporário de enfrentamento que precede a tensão ou dano a longo prazo”, completa o pesquisador.
Além dessa dúvida em aberto, também não se sabe por que exatamente o trabalho excessivo leva a essas alterações no cérebro. Uma hipótese é que, frente a longas horas de trabalho, o cérebro tenta se adaptar a tal condição.
“Inicialmente, essas respostas adaptativas podem ajudar os indivíduos a manter seu funcionamento cognitivo e emocional sob estresse. No entanto, os efeitos a longo prazo dessas adaptações permanecem incertos; elas podem eventualmente contribuir para a fadiga cognitiva ou sofrimento emocional se a exposição ao estresse continuar sem períodos de recuperação suficientes”, explica Lee.
O estudo só considerou informações de profissionais de saúde. Uma das razões de incluir somente esses trabalhadores é por causa da carga de trabalho maior e situações estressantes as quais essa classe pode ser submetida, como plantões hospitalares. Resta saber se os resultados seriam os mesmos para outros profissionais. Lee arrisca que a possibilidade existe.
“Acreditamos que os efeitos neurobiológicos do estresse prolongado causado pelo excesso de trabalho provavelmente não são exclusivos do ambiente de saúde. Impactos semelhantes podem ser esperados em muitas outras profissões caracterizadas por estresse […] e longas jornadas de trabalho, embora pesquisas adicionais sejam necessárias para confirmar isso”, afirma o pesquisador.

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