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Diversificação é a saída para reduzir custos

A diversificação de cultivos, onde se destacam a soja, o milho, o trigo e pastagens, é o sistema encontrado por Alexandre Caixeta para tocar a fazenda com lucratividade, em Vianópolis, região da Estrada de Ferro. Alexandre sucede a seu pai Macel Caixeta e tem o apoio de dona Olga, sua mãe. A propriedade apresenta alguns ingredientes a mais para reduzir despesas. Entre as quais armazéns e silos e até uma balança para pesar os caminhões carregados de grãos.

As máquinas e demais equipamentos são de última geração e cumprem o seu papel nas múltiplas atividades agropecuárias. Elas garantem maior aproveitamento na hora do plantio, da colheita e do preparo do solo para a safra seguinte. O operador Lucas fica sentado num confortável assento, GPS ligado para monitorar as diferentes operações e ainda mais ouvindo músicas. O ar refrigerado também faz parte do seu conforto. “Os instrumentos só faltam falar”, ressalta Lucas que não pode oferecer a cadeira para o repórter enquanto conversava e tirava fotografias dos trigais nascentes. Mas, a água e o café estavam nas garrafas térmicas.

Custos e qualidade

Alexandre, ao mostrar a fazenda, descreve a importância da implantação de solos e armazéns na propriedade. “Com a moega fazemos a limpeza dos grãos, aproveitamos a quirela para a ração do gado e com o secador mantemos os grãos de soja a 14 graus. Dispondo do forno a gás, secamos cerca de 600 sacas de soja por vez”, observa Caixeta, ressaltando que num processo econômico adverso tornam-se necessárias práticas de caráter econômico. O objetivo é reduzir custos e com a qualidade do produtor auferir algum lucro. Cada silo comporta 20 mil sacas de soja e um produto limpo. O produto com impurezas tem menor aceitação na indústria. Os cuidados aplicados por Alexandre evitam preços pagos inferiores.

A adoção da balança, situada no nível do terreno logo na entrada da propriedade, dá a ideia exata do peso de sua mercadoria. “Evitamos eventuais perdas na indústria, porque temos o nosso próprio peso em nossas balanças”, observa o produtor, que considera necessário também se dispor de um bom gerente.

Se a fazenda adota o sistema de rotação de culturas, que favorece algum dos cultivos numa fase adversa motivada por seca, excesso de chuvas ou pragas, a fazenda conta com a integração da lavoura e pecuária de corte. Há na propriedade hoje 303 animais da raça nelore e 19 da Montana, oriunda dos Estados Unidos.

Integração de transportes

Cuidando da porteira para dentro da propriedade, Alexandre relembra um pouco o seu pai Macel Caixeta que na presidência da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) reclamava da falta de uma política agrícola de longo prazo para o setor. E batia na necessidade da logística nos transportes dos grãos, carnes, lácteos e dos insumos básicos. Alexandre retoma o assunto hoje na condição de produtor que aprendeu o dever de casa com o seu pai: o Brasil precisa de um sistema de transporte baseado nas ferrovias, hidrovias, rodovias e nos portos.

Emitindo a sua opinião a respeito, observa que o “Brasil tem investido pouco em ferrovias e nas hidrovias”. Para ele, o sistema rodoviário encarece o transporte. O País dispõe de cerca de 100 mil quilômetros de rodovias e, ainda assim, 50% consideradas deficientes por uma pesquisa da CNT. O Brasil investe 12% do seu PIB em logística, em comparação com 8% dos EUA, conforme um estudo da Fundação Dom Cabral, uma empresa de pesquisa comercial, que disse que a diferença significa US$ 83,2 bilhões por ano.

Bitola universal, melhoria do sistema de sinalização e maiores economias de escala deveriam reduzir os custos do transporte ferroviário em aproximadamente 30%, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres. Dos 27.782 quilômetros da malha ferroviária nacional, um terço é considerado improdutivo pela Associação Brasileira de Logística. O escoamento é mais de minério. Os demais trechos são subutilizados. No Império, a linha férrea tinha um terço da extensão atual, mas sua ocupação era equivalente. A interligação do sistema só virá com 52 mil quilômetros de ferrovias interligadas a portos, rodovias e hidrovias, acredita Caixeta.

Trigo na diversificação

O trigo irrigado por pivô central ocupa uma área de 200 hectares em seu sistema de rotação de culturas. A produção esperada para o trigo é de cinco toneladas por hectare. Com esse resultado, espera repetir a safra do ano passado. A isenção de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é dada à indústria moageira. A sua expectativa, como as dos demais produtores, é que o governo Marconi Perillo estímule a triticultura. “Assim poderíamos competir com o produto da Argentina e mesmo do Sul do País”, diz Alexandre Caixeta. O triticultor recebe da indústria R$ 600 por tonelada do trigo em grãos. Os custos oscilam entre R$ 2 mil a R$ 2.100, o hectare.

O Brasil compra do exterior mais da metade das quase 12 milhões de toneladas de trigo que consome ao ano. E, agora, o governo brasileiro acaba de promover um acordo para importar trigo da Rússia, o que desestimula o cultivo no País. O Ministério da Agricultura tem opinião divergente, entendendo que o mercado ditará os preços e interesse na produção. O Mapa prevê uma taxa de aumento de consumo do trigo de 1,31% ao ano e acredita na possibilidade de redução das importações, uma vez que os produtores investem na autossuficiência da produção interna do cereal.

Cultivo de trigo para o Cerrado

A área potencial para o cultivo de trigo no Cerrado é de quatro milhões de hectares, mas a maior oportunidade de crescimento da cultura no Brasil Central está no sistema de cultivo de sequeiro, que não disputa espaço nos pivôs com culturas mais rentáveis. Para atender esta lacuna, a Embrapa lançou o Cultivar BRS 404, dia 26 de junho, em Santa Juliana (MG), no Triângulo Mineiro.

Conforme o pesquisador da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), Márcio Só e Silva, o interesse dos produtores do Brasil Central pelo trigo tem crescido na última década devido a uma série de fatores, como o vazio sanitário da soja e do feijão, a necessidade de gramínea (no caso o trigo) para quebra do ciclo de doenças de hortaliças, a movimentação da infraestrutura e recursos humanos no inverno, além da geração de renda na entressafra. Contudo, da área potencial de trigo no Cerrado/Centro-oeste, apenas 5% conta com cultivo de trigo regularmente.

“A Embrapa e outros parceiros da iniciativa pública e privada têm trabalhado na adaptação e geração de tecnologias que viabilizem os melhores resultados do trigo na região. Os altos rendimentos e a qualidade do cereal no sistema de produção irrigado já são atrativos, mas a falta de água tem sido fator limitante, por isso a importância de disponibilizar uma tecnologia competitiva no sistema de sequeiro, que implica custos de produção menores”, explica o pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Júlio Albrecht.

O trigo BRS 404 deverá substituir a Cultivar BR 180 Terena, única opção de sequeiro indicada pela Embrapa desde 1886. A Cultivar BRS 404 se destacou entre as testemunhas com relação à brusone durante os experimentos e foi classificada como cultivar de moderada suscetibilidade à brusone, um marco para a pesquisa já que até agora as cultivares de trigo se mostravam altamente suscetíveis à doença.

A Cultivar BRS 404 está indicada para os Estados de Goiás, Minas Gerais e o Distrito Federal, em áreas de sequeiro, com altitudes iguais ou superiores a 800 metros. O potencial de rendimento é de 40 sacos por hectare, com classe pão, grão duro e força de glúten (W) em 320.

Abertura brasileira

A abertura da economia brasileira a partir do início dos anos 90, as políticas cambiais pró-importações e a produção de enormes excedentes na Argentina desestimularam a atividade de produção de trigo, internamente. Em 1987 foram registrados volumes de produção no Brasil superiores a seis milhões de toneladas, obtidos a partir de uma sustentação artificial de preços, sem considerar a competição internacional e sem permitir que o produtor nacional pudesse avaliar sua real capacidade e eficiência. Os Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná produzem 90% do trigo brasileiro.

A despeito do enorme avanço da pesquisa, a produção no Sul do País depende da normalidade do clima, o que torna o seu cultivo uma atividade de alto risco e, em consequência, de custos elevados e com perda de competitividade. O problema não é exclusivo do Brasil, e a oferta mundial está sujeita a grandes variações. A partir de 1999, com a mudança da política cambial favorecendo exportações e dificultando importações, os preços de paridade do produto importado passaram a balizar os preços internos. Assim, a produção interna passou a ter atrativos de preços com reflexos positivos no agronegócio brasileiro. A safra de 2003 demonstra claramente essa virada no comportamento dos triticultores, quando o volume produzido ultrapassou cinco milhões de toneladas.

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