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OPINIÃO

Astros desfavoráveis a presidentas

Antes de tudo ressalvo minha refratabilidade ao substantivo presidenta. Para mim ele se insere no mesmo plano de gerenta e de superintendenta. Mas como já foi até dicionarizado, faço uso dele somente para o fim de enfatização do título deste artigo.

Absolutamente inesperado o que está a acontecer no Chile. Michelle Bachelet alcançou patamares altíssimos de aprovação popular nos seus primeiros mandatos. Todos sabemos que a economia chilena sempre esteve bem. Até mesmo o governo Pinochet, tão marcado por seu autoritarismo conseguiu assegurar ótimo desempenho da economia, de tal modo que é surpreendente o atual noticiário a dar conta de insatisfação popular em face de inflação, desemprego e outras nuances características de má situação econômica na pátria de Pablo Neruda. Michelle Bachelet há três meses tinha 52% de aprovação do povo chileno. Nesta semana o seu desgaste mostrou-se tamanho que as pesquisas a situam com apenas 29% de aprovação.

Mas não são apenas os problemas econômicos responsáveis por essa metamorfose. A dirigente máxima do Chile é vítima também de uma gigantesca onda de escândalos que se projetam no termo corrupção. Lá também uma porção de agentes públicos e empresas particulares se veem alvo de denúncias envolvendo bilhões de pesos.

Como se vê o fenômeno chileno é praticamente idêntico ao que está a ocorrer no Brasil desde que teve início a operação Lava-Jato. Lá como cá a governante suprema paga o pato por ações criminosas praticadas à sua revelia, pois o mundo inteiro sabe a sua auréola de mulher austera e de admirável capacidade administrativa demonstrada no exercício da presidência por vários anos.

Na Argentina a presidente Cristina Kirchner – fique o presidenta apenas no título – terminou o seu primeiro mandato com a simpatia da maioria da gente portenha. Daí a sua fácil reeleição. Mas em poucos meses sua popularidade despencou. A economia argentina de há muito defronta-se com crise crescente. A inflação é quatro vezes maior do que a do Brasil e o desemprego suplanta o brasileiro em duas vezes e meia. Três dos principais dirigentes do setor econômico da terra de Juan Perón já iniciaram diálogo com timoneiros brasileiros da mesma área, a fim de discutir medidas conjuntas pela reversão do quadro. E no último dia 10 de abril, na chamada Cúpula das Américas, na capital do Panamá, Dilma Rousseff manteve encontro com Cristina Kirchner para um diálogo sobre o mesmo tema.

No caso de Cristina Kirchner, além dos problemas econômicos que se agravam em seu país, a queda vertical do seu prestígio se deve também a ações políticas contra a imprensa oposicionista. Desagradaram a intelectualidade, sobretudo os formadores de opinião.

Temos assim na América do Sul três mulheres presidentes a experimentar as amargas consequências do perigeu, depois de desfrutar a glória do apogeu.

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores,  advogado, jornalista e escreve neste jornal às terças e sextas-feiras)

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