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OPINIÃO

Eu celulo, tu celulas...

Pintou um novo verbo no pedaço aê me'rmão. Sinal desses tempos virtuais. Saca só: celular. Celular? Desde quando celular pode ser verbo? Pois pode sim. Classificado como regular, por não apresentar modificação em seu radical, no curso da conjugação, o presente do indicativo do Celular sai uma pintura assim:

Eu celulo

Tu celulas

Ele (a) celula

Nós celulamos

Vós celulais

Eles (as) celulam

Ao passo que o pretérito imperfeito do indicativo vai prontinho assim:

Eu celulava

Tu celulavas

Ele (a) celulava

Nós celulávamos

Vós celuláveis

Eles (as) celulavam

Só superado mesmo pela belezura do imperativo dele:

Celula tu

Celule você

Celulemos nós

Celulai vós

Celulem vocês

Enquanto que o pretérito mais que perfeito:

Eu celulara

Tu celularas

Ele (a) celulara

Nós celuláramos

Vós celuláreis

Eles (as) celularam

Portanto, celulai vós que estais cansados de interagir. A gente explica. Fique sabendo que celular aqui tem um significado bem específico: brincar e não falar nele. Ora uma coisa para a qual celular menos serve atualmente é pra falar com os outros. Isto inclui os celulares inteligentes, com miríades de funções maravilhosas, uma boa opção pra quem não quer interagir não com que está ao lado.

De tanto celular por anos a fio, quer dizer, brincar ao celular, naquela telinha touch screen, em vez falar nele, ou falar com os outros realmente, indagaram a uma usuária dele assim:

– Como é mesmo o teu nome, criatura de Deus?

A usuária não conseguiu dizer porque a sua voz não emitia som algum. Ficou fatalmente muda. Foi se desesperou desesperadinha da silva e correu ao médico. Escreveu num papelzinho para o médico assim:

“A minha voz sumiu, doutor! O que é que eu faço?”

E o médico:

– A senhora mais celula que fala ou mais fala que celula?

A muda escreveu no papelzinho:

“Eu só celulo, né.”

O médico pediu uns dias pra um diagnóstico mais preciso. Ao cabo dos quais assegurou à paciente:

– Não é que a senhora ficou muda não. Ocorre que a sua voz se sentiu desprezada pela falta de uso prolongado e, magoada contigo, resolver ir embora, coitada, procurar outra boca. Vai tentando falar, assim aos poucos, que ela vai voltando, voltando devagarinho.

Depois que a voz dela voltou, a usuária nunca mais celulou como antes.

(Pedro Nolasco de Araujo)

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