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OPINIÃO

Aquele que não é corrupto atire a primeira pedra

Todo mundo é corrupto, uns nem tanto assim. O título parafraseado faz referência ao trecho bíblico muito conhecido e polêmico a respeito de uma mulher que seria julgada por ter sido surpreendida em ato de adultério. “Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire uma pedra” (João 8:7).

A palavra corrupção nunca esteve tão presente na boca dos brasileiros quanto agora. A crise política se instalou no Brasil e se recusa sair. Tanto no Poder Legislativo quanto no Executivo, a confiança dos eleitores na classe política entrou em ruínas.

A falta de educação e o analfabetismo funcional da população brasileira tem deixado o sistema político corrompido pela podridão da corrupção. Temos enfrentado um caótico problema que se arrastará por longos anos e quem sabe, para sempre. Sim, para sempre. Ou alguém tem alguma solução?

Todos têm vontade de ver a política renovada, mas poucos se empenham na responsabilidade de trocar os velhos políticos profissionais por novos nomes. Há um engodo muito forte em épocas de campanhas eleitorais. A população se enlaça num espírito de encantamento e quando vemos, estão lá, todos aqueles políticos que gostaríamos que estivessem longe do poder público.

Em 2016, numa palestra em Francisco Beltrão no sudoeste do Paraná, o professor e historiador Leandro Karnal, afirmou que “há um interesse coletivo sobre o tema [político] atualmente, mas está faltando, além da crítica, a falta de ética em Brasília e das grandes empreiteiras, que nós consigamos pensar na microfísica do poder, ou seja, na falta de ética na escola, nas famílias e nas empresas. Não existe país no mundo em que o governo seja corrupto e a população honesta e vice-versa”, aponta o especialista.

Quem desconcorda?

FATOS

Nós sabemos que os nossos políticos custam uma fortuna. É dinheiro que não acaba mais e que sai do nosso bolso. Você tem noção de quanto custa tudo isso de verdade? Você faz ideia do tamanho do problema?

Contra números não há argumentos.

O orçamento do Congresso Nacional para 2017 será de 10,2 milhões de reais. A segunda máquina legislativa mais cara do planeta. Mais cara que o PIB de Liecthestein, um minúsculo principado localizado no centro da Europa, encravado nos Alpes entre a Áustria, a leste, e a Suíça a oeste. Pouco mais de 34 mil habitantes que moram nos seus 160 km². São 28 milhões de reais por dia para sustentá-la, o suficiente para pagar um ano de estudos de 11 mil alunos do ensino médio matriculados na rede pública de ensino.

Com o que gastamos para sustentar tudo isso, seria possível pagar o salário de 320 mil professores durante um ano; bancar 1 milhão de bolsas do FIES; aumentar em 400% o Prouni ou financiar os gastos do SUS com com 9 milhões de brasileiros.

Na divisão, a Câmara dos Deputados custa R$ 5,9 bilhões, ou R$ 11,5 milhões por deputado. O Senado outros R$ 4,5 bilhões, ou R$ 55,5 milhões por senador. Desse gasto no Senado, 85% é destinado para pagar os salários dos seus 12 mil servidores, o que inclui aí os 91 assessores do senador Hélio José (PMDB-DF), ou os 80 do senador Fernando Collor (PTC-RJ).

Cada deputado federal tem direito a um salário R$ 33.763 reais. O equivalente a 38 salários mínimos e o suficiente para colocá-los entre os 0,5% mais ricos do país. Se engana quem pensa que os benefícios acabam por aí.

Nossos deputados ainda recebem R$ 1.608,34 em média, de auxílio moradia, R$ 92.053 de verba de gabinete para contratar até 25 funcionários. R$ 1.406,79 de ajuda de custo e outros 39.884, em média, do chamado “cotão” para gastar com passagens aéreas, fretamento de aeronaves, alimentação, cota postal, combustíveis e lubrificantes, consultorias, publicidade, aluguel e despesas de escritórios políticos, assinaturas de publicações e serviços de TV e internet, além da contratação de serviços de segurança. Os telefones dos imóveis funcionais (apartamentos dos parlamentares em Brasília) estão fora do “cotão”. É de uso livre, sem franquia, a vontade para qualquer lugar do país.

O total disso tudo para cada deputado são incríveis R$ 168.662,44 por mês.

E há ainda, o plano de saúde, ilimitado, com despesas de R$ 25.998 por ano, para tratamentos psicoterápicos e odontológicos e os benefícios se entendem aos dependentes. Em 2015, o gasto da Câmara dos Deputados com reembolsos médicos foi de quase R$ 4,3 milhões, que inclui até o pagamento de cirurgias em países do exterior.

Os privilégios não acabam no mandato. É do nosso bolso que saem, todo ano, R$ 164 milhões para pagar 1.170 aposentados e pensões para ex-deputados federais, ex-senadores e de dependentes de ex-congressistas. Você faz ideia de quando custa a aposentadoria média de um ex-parlamentar brasileiro? R$ 14.100 reais. Sete vezes mais do que a média de quem se aposenta pelo INSS.

A mordomia é uma espécie de vírus que ataca impiedosamente todos os presentes. Um policial ganha quatro vezes mais que a média de um policial militar em Goiás. Para servir café aos nossos parlamentares, um garçom ganha sete vezes mais que o piso nacional dos professores e um motorista ganha o mesmo que um comandante de fragata da Marinha.

De 58 membros da gráfica do Senado, o menor salário é de dezenove mil reais. Muita coisa, não é? Não se engane. Tudo isso é repetido nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores no país afora. A mordomia é a regra na política brasileira. Não importa o Estado, não importa o partido. Nossa classe política vive num reino encantado e em palácios reais. Sem crise, sem dor de cabeça com desemprego ou faturas atrasadas. Uma casta de privilegiados acima do bem e do mal.

É por isso que todo mundo deseja ser político no Brasil. Quem não gostaria? Aqui, a política virou negócio. Aqui se faz política para políticos. E o povo? O povo a gente pensa depois.

Você ainda deseja eleger alguém com todas essas vantagens, além de ter foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal e ainda roubar o dinheiro público?

Em 2018 teremos eleições gerais. Não sejamos burros nem corruptos.

(Kayro Ribeiro, jornalista, assessor parlamentar, comentarista político e escritor ([email protected]))

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