Política

Na disputa entre Caiado e Daniel, Iris permanece neutro

Redação DM

Publicado em 13 de fevereiro de 2018 às 00:34 | Atualizado há 7 anos

Iris Rezende nunca é categóri­co quando se trata de dispu­tas internas ou externas. Nunca pula em galho seco. Nunca se com­promete irremediavelmente. Sabe, como ninguém, fazer o jogo de cena da política. Por isso suas declarações sobre a sucessão estadual deste ano, em geral enigmáticas, exige um ex­tenuante esforço de exegese.

Iris exige interpretação herme­nêutica. O sentido de suas palavras deve ser fixado segundo alguns princípios de metafísica política. Só assim é possível saber o que ele realmente intenciona fazer. O que Iris não diz quase sempre fala mais do que o que ele diz.

“No momento certo, vou cha­mar os candidatos para o entendi­mento”, declarou ele recentemen­te, a propósito da disputa interna dentro do MDB. É um segredo de polichinelo ao racha interno do partido. De um lado, Daniel Vilela, atual presidente da sigla, apoiado por uns poucos prefeitos, insistin­do em ser o candidato a governa­dor. Do outro, um grupo de prefei­tos emedebistas querendo que o MDB faça coligação com o DEM em torno de Ronaldo Caiado.

Mesmo diante desta briga inter­na, que vai ficando cada vez mais acirrada, Iris permanece neutro, as­sistindo a tudo de cima do muro. ‘Equidistante”, é o termo que ele usa.

Significa que Iris não tem ne­nhum compromisso com Daniel, o postulante do seu partido. Caso Iris, neste momento, tomasse uma clara e inequívoca posição pró-Da­niel, a ala caiadista entraria em co­lapso. A própria candidatura de Caiado acabaria se inviabilizando.

Caiado precisa desesperada­mente do MDB, de sua estrutura partidária, já que o seu DEM é, en­quanto partido, absolutamente irre­levante. Já os setores majoritários do MDB precisam desesperadamente de Caiado, porque este pode dar­-lhes em troca uma expectativa de poder que há décadas não têm.

Por que Iris tem que” chamar os candidatos para um entendi­mento”? O que isto quer dizer? Iris ainda é a voz dominante no par­tido. Onde ele risca, os emedebis­tas cortam. Isto, obviamente, não vale para Caiado. O senador tem sua própria legenda. Não depende do PMDB, nem de Iris, para ser can­didato. Muito embora, saliente-se, é de vital importância para o senador ter o MDB engatado à sua chapa.

Não haverá entendimento en­tre Daniel e Caiado. Ambos que­rem ser candidato a governador. Nenhum deles, ao que parece, pretende abrir mão da pretensão. A questão terá que ser decidida no voto. Uma alta fonte emedebista­-caiadista já confidenciou a este jornal que, não havendo acordo, a questão será decidida pelos con­vencionais. Geralmente, os prefei­tos e os parlamentares controlam a eleição dos convencionais e de­termina-lhes o voto.

Por mais que os maguitistas alar­deem ter o controle total da sigla, é duvidoso que tenham. O fato de o grupo de Daniel ter derrotado o gru­po irista na última convenção não constitui argumento logicamente válido de que ainda possuem a he­gemonia interna. Muitos dos que apoiaram Daniel naquela ocasião agora estão contra ele, comprome­tido que estão com Caiado. Se a con­venção fosse hoje, com certeza a ala pró-Caiado iria vencer.

Mas nem Iris nem Caiado, e nem mesmo Daniel, querem que a coisa chegue a extremos. No final, um acordo que contemple a todos acabará sendo celebrado. Alguém, é claro, terá que ceder. Na avalia­ção dos caiadistas do MDB, quem vai acabar cedendo será Daniel. Aí, entra Iris Rezende. Sua tarefa será convencer Daniel a abrir mão de seu projeto e apoiar Caiado.

Como isto será feito? Bem, Iris tem lá seus métodos. Mas, de um modo resumido, o certo é que Da­niel não sairá perdendo. Os caiadis­tas acreditam que Daniel poderá sair candidato a senador, ou a vice-go­vernador, se ele quiser, claro. Talvez escolha ser senador, pois com isso não condiciona sua sorte eleitoral ao destino de Caiado. Caiado per­dendo, arrasta Daniel para a derrota.

“Se não houver entendimen­to, é claro, vou apoiar o candida­to do meu partido”, disse ainda o prefeito de Goiânia. Não convém interpretar literalmente esta de­claração. Uma declaração, de res­to, meramente retórica.

Notem que ele poderia ter dito, mas não disse “vou apoiar Daniel”. Ele disse “o candidato do meu par­tido”. O “candidato do meu partido” não tem que ser necessariamen­te alguém filiado ao MDB, mas al­guém que, filiado a outra sigla, te­nha o apoio oficial dos emedebistas.

Se não houver “entendimento”, a questão será disputada em con­venção. Vencendo a proposta caia­dista, o candidato do partido será, então, Ronaldo Caiado. Portanto, a frase em questão não deve ser in­terpretada como opção final pró­-Daniel. É claro que se Daniel ven­cer a convenção e vir a ser candidato oficial do PMDB, Iris terá que, mes­mo a contragosto, declarar apoio a Daniel. Se vai se engajar para va­ler na campanha… Bem, é preci­so aguardar os acontecimentos.

O único “entendimento” possí­vel é uma chapa encabeçada por Caiado (DEM) com Daniel (MDB) de vice ou de senador. A propósito, Caiado não teria problemas em ce­der toda chapa ao MDB desde que a encabece. Fora disso, não é factível qualquer acordo, pois Caiado, repi­ta-se, não precisa pedir licença ao MDB para ser candidato pelo DEM.

Por que Iris não resolve logo a pendenga? É simples. O “entendi­mento” só sai quando a corda ar­rebentar pelo lado mais fraco. Até lá, é bom que Daniel continue es­ticando a corda o mais que puder. Não tem sentido facilitar a vida de Ronaldo. Quanto mais resistir, mais caro ele poderá vender sua desis­tência. Mais caro, entendam bem, no sentido figurado. Nem de lon­ge se insinua aqui que haverá tran­sação financeira. Não sei se me ex­plico bem, mas o que quero dizer é que o preço seria sua participa­ção na chapa majoritária, facilida­des eleitorais para candidatos pre­ferenciais, indicações de cargos no hipotético governo de Caiado etc.

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