Opinião

O (1º) PRÍNCIPE DOS POETAS GOIANOS

Redação DM

Publicado em 12 de junho de 2016 às 01:56 | Atualizado há 6 meses

Joaquim Bonifácio Gomes de Siqueira foi o primeiro poeta que teve, graças a sugestão do jurista Gercino Monteiro Guimarães, a denominação de “O Príncipe dos Poetas Goianos”. Nasceu na antiga capital do Estado, no dia 11 de janeiro de 1883. Faleceu na cidade do Bonfim (Silvânia-GO), no dia 17 de novembro de 1923. Mais tarde, seus restos mortais forma trasladados para a Cidade de Goiás e depositados, em um túmulo especial, no Cemitério São Miguel.

Foi cognominado “Cassimiro de Abreu Goiano”, pelo fato de ter contado na poesia, com admirável beleza e comovente sentimentalismo, as maravilhas de sua terra.

Editou diversos jornais, dentre eles, a Folha de Goyaz, juntamente com o jornalista Honestino Guimarães, na Cidade de Goiás. Na cidade de seu nascimento, fundou e dirigiu A Capital, Nova Era e Jornal de Goyaz.

Foi na poesia que mais brilhou. Seu primeiro livro Alvoradas, 1903, recebeu duras críticas de Duque D’Estrada. Passou, então, um grande período sem contato com as Musas. Somente dez anos depois, em 1913, publicou outro livro de poesias, Alguns versos.

No início do século passado, dois poemas de Joaquim Bonifácio eram declamados e musicados, que deram a ele a popularidade merecida. Trata-se de Luares e Noites Goianas (inclusos nesta página), este último, espécie de hino à terra da antiga Vila Boa, cantada até os dias atuais.

GERALDO COELHO VAZ

(Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás)

 

Poemas de Joaquim Bonifácio (Cidade de Goiás – GO. 11/01/1883. Silvânia – GO. 17/11/1923), do livro “Alguns versos”; em Reedição na comemoração dos 20 anos da Ed. Kelps. Goiânia-GO; 2003.

LUARES

Luares brancos albentes,

Luares alvinitentes,

De indesvendáveis arcanos

Vossa pureza arrebata,

Luares brancos de prata

De plenilúnios goianos.

 

Morenas fadas cativas

As goianinhas bonitas

Adoram-vos o dulçor…

Quantos encantos encerra

Um luar de minha terra,

Falando coisas de amor!…

 

Formosas graças se prendem

Nos raios que se desprendem

Da lua branca e tranquila…

Vendo-a tão longe e tão calma,

Nascem-me no fundo da alma

Desejos de possuí-la…

 

São desejos inocentes, de coisas surpreendentes,

Por ninguém jamais gozadas:

Desejos que só palpitam,

Que crescem, bramem, crispam

Nas almas enamoradas…

 

Contava minha avozinha,

Aquela santa velhinha,

Que os raios que alua tem

São prantos que as almas choram

Quando as noites rememoram

Que aqui passaram também…

 

Por isso eu amo os luares…

Que vaporosos cismares

A lua desperta a gente!…

Vendo-a tão branca e tão pura,

Uma inefável ternura

Nos prostra, languidamente…

 

Luares brancos albentes,

Luares alvinitentes,

De inigualável dulçor!

Quantos encantos encerra

Um luar de minha terra,

Falando coisas de amor!…

 

NOITES GOIANAS

(Poema musicado por Joaquim Santana)

 

Tão meigas, tão claras, tão belas, tão puras

Por certo não há!

São noites de trovas, de beijos de juras,

As noites de cá…

 

A lua derrama no céu azulíneo

Seu manto de prata

E Deus, das estrelas abrindo o escrínio,

No céu as desata…

 

Em Nice, em Lisboa, na Itália famosa

Tais noites não há…

São noites somente da pátria formosa

Do índio Goiá…

 

As noites goianas são claras, são lindas

Não temem rivais!

Goianos, traduzem doçuras infindas

As noites que amais…

 

Goianos as sonham, da pátria saudosos,

Nas terra de lá…

São noites de risos, de afetos, de gozos,

As noites de cá…

NO ALTO

Parei, a vista após em torno espalho:

Fito, tremendo, a vastidão do espaço,

A estrada que trilhara, passo a passo,

Que ainda de ais e de soluços coalho…

 

Quantas cruzes em torno! Que trabalho.

Que luta atroz e que infernal cansaço!

No céu cintilam laminas de aço

E o bosque, embaixo, estala, galho a galho…

 

Atrás – soluços… lágrimas choradas

Outrora, por amantes refalsadas,

Que eu, comprimindo o peito, agora estanco…

 

Avante – o nada… o frio… a morte em suma…

E, em meio à treva densa, se avoluma

O vulto esguio de um sepulcro branco…

 

VERSOS NEGROS

Felicidade! No mundo

Quem jamais teu rosto viu?

Quem, no báratro profundo,

Teus raios quentes sentiu?

– Caravana de precitos, (sic)

Parecem todos proscritos

De um outro mundo melhor…

– São levas de condenados

Que marcham, tristes, pausados,

Para os presídios da dor…

 

A dura algema da vida,

Que o nosso pulso arroxia,

a humanidade vencida

aos pés da dor encadeia.

Os anos que lentos passam,

– corvos negros que esvoaçam

Sobre a nossa podridão, –

Mudam cenas, mas eterno

É o longo deste outro inferno,

A gema desta aflição!

 

Mas feliz… ai, quem pudera

Entre os homens se dizer?

Fora mais fácil a hera

De árida rocha irromper!

Feliz? – Talvez que se diga

Quem, chorando, em mão amiga

Possa a fronte repousar…

Quem veja que suas dores,

Seus pesares e amargores

Vem um anjo consolar…

 

Mas as levas nunca cessam,

São longes, intermináveis…

Passam umas e começam

Outras mais abomináveis…

De seus medonhos esgares

Rompem gritos que, nos ares,

Não as aves espantura…

Ai! Eu repeito impossível

Alguém poder, impossível,

Tantas dores suportar!

 

Entretanto, nas alturas,

Dominando a humanidade,

– Dizem isto as Escrituras –

Existe um Deus de bondade…

Oh! Deus! Porque teu te escondes

Aos nossos prantos de dor?…

Porque deixas que, profundo,

Cave o ódio o seio ao mundo,

– Porque te ocultas, Senhor?!…

 

A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora e acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 225ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]

 


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