Maquiagem e Arte

Vimos recentemente a avalanche de Óscares que o filme Mad Max: Estrada da Fúria levou para casa. Entre eles o de melhor aquiagem/caracterização. E não foi só no Oscar não. Na premiação do Globo de Ouro também! A maquiagem e caracterização de atores e modelos é fundamental na construção da aura estabelecida em torno do filme, campanha, da peça de teatro ou novela. Não necessariamente esta caracterização se dá de maneira a alterar a física do ator/modelo. Isso varia muito de acordo com o enredo e o contexto em que está inserido, a exemplo das maquiagens feitas em atrizes que interpretam donas de casa ou adolescentes: tudo muito discreto. Este é um mercado muito restrito e concorrido. Os cursos profissionalizantes são caros e os materiais… esses, nem preciso falar.

Mas e em Goiás, onde a cena cultural (encenação/moda) ainda é muito limitada? A quantas andam a demanda de profissionais nesta área? Será que é viável encarar profissão? Conversei com Ana Simiema, maquiadora artística profissional do Estúdio de Beleza do Casulo Moda Coletiva, e figurinista aqui de Goiânia, afim de saber como e porque ela se decidiu pela profissão, tendo um mercado tão restrito e como se dá a procura por profissionais desta área aqui na cidade. Ana trabalha como maquiadora há 5 anos.

DM Revista: Como se deu seu primeiro contato com a maquiagem artística?

A.S.: Descobri a carreira de maquiadora durante o curso de Publicidade e Propaganda, quando, nas disciplinas práticas, me responsabilizava por vestir e maquiar os colegas nas campanhas fictícias. Logo conheci graduandos do curso de Audiovisual da UEG e descobri a maquiagem para cinema, então comecei a dar os primeiros passos. Após uma oficina de maquiagem para cinema com Sonia Penna (Até que a Sorte nos Separe; Tainá – A Origem; Madame Satã), me encantei e decidi me dedicar a maquiagem voltada para a sétima arte.

DM Revista: Como é obtido esse resultado impressionante das maquiagens durante seu processo criativo?

A.S.: Sou autodidata. Através de pesquisas e testes descobri que misturas caseiras e criatividade, aliadas a bons produtos eram capazes de criar efeitos interessantes, como ilusão de ótica na maquiagem 2D, envelhecimento de pele, efeitos de luz, sombra, profundidade.

DM Revista: O que você costuma usar nessas misturas caseiras?

A.S.: Ah, são itens de farmácia. Por exemplo, uso glicerina com óleo Johnson e água pra fazer suor. O sangue mais real e bonito que fiz foi com itens de cozinha, funcionam mais que os industrializados. Uso mel, cobertura de groselha, chocolate em pó, e corantes azul, verde e vermelho. Dependendo o local o sangue muda a coloração. E tive a oportunidade de colocá-los em prática em alguns curtas-metragens.

DM Revista:  Em que curtas-metragens você trabalhou?

A.S.: Já assinei a maquiagem e o figurino de diversos curtas-metragens – alguns ganhadores de prêmios de direção de arte. Tais como Atrás da História; O que aprendi com meu pai; A Travessia e Cabocla. Mas mais recentemente ganhei o prêmio de Melhor Maquiagem com o curta-metragem Blaxplotation- A Rainha Negra, no 10º Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões. A direção é do Edem Ortegal.

DM Revista: Quanto tempo leva pra concluir uma maquiagem?

A.S.: É um trabalho minucioso, onde cada detalhe tem importância. O tempo de duração da execução de uma maquiagem pode durar de 40 min a 1 hora (maquiagem social) e de 1 a 3 horas numa maquiagem artística.

DM Revista: Sabemos que a maquiagem artística em Goiás, principalmente voltada para cinema ainda está tomando fôlego. Como você tem driblado essa situação para se manter no mercado?

A.S.: Se trabalhar com cultura em Goiás já é difícil, imagine com maquiagem voltada para cinema? Diante disso me especializei e conciliei a paixão por cinema com maquiagem de moda e abri agenda para maquiagem social. Hoje trabalho no Estúdio de Beleza do Casulo Moda Coletiva, ministro cursos de auto maquiagem, e continuo a trabalhar com TV, cinema, e caracterização.