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Prazer da nicotina: como abandonar o vício?

Há pelo menos dez mil anos antes de Cristo, índios da América Central já utilizavam o tabaco em forma de cigarro em rituais religio­sos. Já em nosso país, relatos mais antigos apontam que, em 1556, o capelão da primeira expedição francesa ao nosso país observou esta prática entre os tupinambás.

O cigarro começou a ser fabri­cado a partir de 1840 e, quarenta anos depois, foi criada uma má­quina capaz de enrolar um grande número de cigarros por minuto, propiciando a sua popularização. Apesar de visível, o fato de que este provoca dependência e seu uso pode desencadear em uma gama de doenças foi reconheci­do somente em meados do sé­culo vinte. Uma das mais de 4500 substâncias que um único cigar­ro contém – a nicotina – intera­ge com receptores neurais, que liberam substâncias como a do­pamina, acetilcolina, serotonina e betaendorfina, conferindo uma sensação de prazer imediata.

Mais viciante que drogas como álcool, cocaína, crack e morfina, a nicotina atin­ge o cérebro em até vin­te segundos, tempo bem mais rápido que o prin­cípio ativo de qualquer outra destas drogas. As­sim, a pro­babilidade de um indi­víduo se tor­nar depen­dente da nicotina é muito alta, com crise de abstinência bastan­te incômoda, que geralmente se inicia minutos depois do último trago, sendo as grandes respon­sáveis pela dificuldade de um fu­mante em interromper o uso do cigarro. Esta situação é tão séria, e triste, que não é raro vermos pa­cientes fumantes em estágio ter­minal, implorando desesperada­mente por mais um trago.

Gás carbônico, monóxido de carbono, amônia, benzeno, to­lueno, alcatrão, ácido fórmico, ácido acético, chumbo, cádmio, zinco, níquel dentre muitas ou­tras substâncias são encontradas no cigarro. Estas são responsá­veis pelo aumento dos riscos que esses indivíduos têm de desen­volver problemas de saúde como cânceres, doenças coronarianas, má circulação sanguínea, enfise­ma pulmonar, bronquite crônica, derrames cerebrais, úlceras, os­teoporose, impotência, catarata.

Como algumas destas são li­beradas no ar, juntamente com a fumaça, pessoas que convivem com fumantes estão também su­jeitas. Há também a tromboan­geíte obliterante, doença de ocor­rência única entre fumantes, e que obstrui as artérias das extremida­des e provoca necrose dos tecidos.

Além disso, o cigarro é consi­derado o maior poluente de am­bientes domiciliares; é responsá­vel pela derrubada de árvores e queimadas em prol do plantio do fumo e fabricação de lenha para abastecimento de fornalhas para o ressecamento das folhas; conta­mina os solos pelo uso de agrotó­xicos; e é o causador de inúmeras queimadas, graças ao descarte in­devido de suas bitucas.

Diante destes fatos, não é de se admirar que o cigarro seja considerado um dos maiores problemas de saúde pública (e ambiental) que nossa socieda­de enfrenta na atualidade.

VÍCIO

Se você fuma ou conhece al­guém que seja fumante, sabe bem como largar o vício do ci­garro é difícil e requer muita for­ça de vontade, além de acom­panhamento médico e uma mudança drástica na rotina. Mesmo que a pessoa esteja de­terminada, o processo costu­ma ser difícil. A nicotina provo­ca uma dependência química e psicológica e o cigarro acaba se tornando uma válvula de escape para qualquer problema, como estresse ou ansiedade.

Porém, é possível vencer a vontade de fumar e se livrar des­se vício. Decidir parar de fumar é o pontapé inicial na luta contra o cigarro. Porém, a vontade de lar­gar o vício precisa partir da pró­pria pessoa e não por pressão de terceiros. O ideal é escolher uma data específica para largar o ci­garro e assumir esse compromis­so com você mesmo.

Guarde cigarros, cinzeiros e is­queiros em locais bem escondi­dos, assim, você não corre o ris­co de cair em tentação e acabar fumando, mesmo sem vontade, apenas por ter um maço de cigar­ro por perto. Além disso, faça uma forcinha para evitar locais com muitos fumantes, pelo menos nos primeiros dias sem cigarro.

Toda vez que a vontade de fu­mar apertar, optar por gomas de mascar que ajudem a repor a ni­cotina. Elas fornecem uma dose controlada terapêutica de nico­tina, que é menor do que a do ci­garro e alivia os sintomas de absti­nência. Vale lembrar que, antes de qualquer tentativa, é fundamen­tal se consultar com um médico.

Durante o processo de aban­dono do vício do cigarro, praticar atividades físicas pode ser uma ótima alternativa para driblar a an­siedade provocada pela abstinên­cia da nicotina. Exercícios físicos liberam endorfina e proporcio­nam uma sensação de bem-es­tar, além de abrir as vias áreas, es­timular a oxigenação e favorecer a eliminação de secreções.

Eliminar completamente o ci­garro do dia para noite pode ser bem mais difícil, já que a crise de abstinência pode ser inten­sa. O indicado é ir diminuindo a quantidade de cigarros grada­tivamente até que você se acos­tume a passar o dia sem fumar.

A maioria dos fumantes pos­sui um “gatilho” para fumar. Ge­ralmente, acaba sendo depois do almoço, após o café ou na hora de dirigir. Para driblar a vontade, ten­te trocar esse hábito por outros mais saudáveis, como evitar en­trar no carro com o maço ou tro­car o cigarro depois do almoço por uma fruta cítrica, que é ácida como a nicotina e preenche, por algum tempo, a vontade de fumar.

DADOS

De acordo com estudos da Or­ganização Mundial de Saúde, a cada dia, morrem mais de 10 mil pessoas por causa do tabagismo. A soma ultrapassa 4 milhões de mortos por ano. E esses núme­ros tendem a aumentar, já que a quantidade de fumantes continua crescendo com o passar do tempo. Estima-se que ele estará dobrado por volta do ano 2020, ou seja, se­rão cerca de 8 milhões de mortes anuais causadas pelo fumo. Isso sem falar que o cigarro já provoca mais mortes do que a cocaína, a heroína, os incêndios, e a aids, jun­tos. O tabagismo, encarado como doença há alguns anos, transfor­mou-se num dos maiores proble­mas de saúde pública.

No Brasil, as enfermidades provocadas pelo fumo matam anualmente mais de 200 mil pes­soas de idades entre 35 e 60 anos. Diversos tipos de câncer (de pul­mão, boca, laringe), derrames cerebrais, doenças do coração (angina, infarto), bronquite e en­fisema são algumas das doenças ligadas ao uso do cigarro.

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