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Dívidas precisam ser quitadas para que Fica aconteça

Foto: Júlia Lee


A 21° edição do Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica) segue sendo um ponto de interrogação na cabeça de artistas, intelectuais e ambientalistas. O secretário de cultura Edival Lourenço diz que é preciso repensar uma maneira mais barata de fazer o Fica e revela que não há perspectiva de dinheiro para 2019. Lourenço afirma também que dívida deixada pela última gestão que organizou o festival foi de R$ 1,5 milhão.

“Não tem estimativa de orçamento para este ano. Em 2018 foi R$3 milhões, mas a intenção é fazer um festival mais barato e melhor e estamos buscando parcerias para o evento”, diz o titular da Secult. Dados do Portal da Transparência, revelados pelo DMRevista no ano passado, mostram que a Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) chegou a fazer pagamento aos artistas que se apresentaram na 20º edição do festival, mas os os artistas ainda reclamam de calote.

Na semana passada, um blog contrário à gestão de Ronaldo Caiado disse que o governador teria atuado nos bastidores com o objetivo de acabar com o festival. Ao encontrar com o chefe do Executivo goiano no mês passado, este Diário da Manhã o questionou sobre o impasse em torno do Fica: “Uma coisa desmoralizante (a dívida), pois não pagaram sequer os prêmios daqueles filmes que foram agraciados”, afirmou.

A classe artística, contudo, rechaça o discurso de que o fato de a máquina pública estar quebrada é o principal empecilho para que o Fica aconteça. Em entrevista ao DM, a cineasta Fabiana Assis, premiada neste ano na Mostra Olhos Livres do Festival de Tiradentes com o documentário “Parque Oeste”, afirma que a possível não realização do festival simboliza um retrocesso ao audiovisual no âmbito estadual, nacional e mundial.

“A não realização do Fica é um retrocesso muito grande para o Estado, para o País e para o mundo. Ele formou todo mundo em Goiás que trabalha com cinema e o nível que estamos chegando hoje, de ter ganhado prêmio em Tiradentes, foi por causa dele”, diz ela. “Tivemos discussões de alto nível no Fica, mas meio ambiente não é uma preocupação para quem está no poder”.

Frequentadora do Fica desde as primeiras edições, a documentarista e ativista Júlia Lee declara que todo o debate construído em torno do cinema ambiental e das questões ambientais “correm sério risco” de serem desmanteladas, caso o festival não venha a ser feito neste ano. Para ela, que teve contato com ele por meio de sua mãe ainda quando era criança, a provável não realização do evento é “uma grande perda”.

“Como cineasta e ativista ambiental, acho uma mazela (a perda). Estamos entrando num período complicado política e culturalmente, vamos ficar cada vez mais sem acesso à cultura. Isso está ficando cada vez mais claro”, diz Lee, que não vê outra saída a não ser a “resistência”. “É preciso resistir e fazer algo sobre isso, o Fica não pode acabar”, finaliza.

Fica

Criado em 1999, o FICA foi idealizado por Luiz Felipe Gabriel, Jaime Sautchuk, Adnair França e Luís Gonzaga com o objetivo de valorizar a cultura em Goiás. Desde sua criação, representa um marco para o audiovisual goiano, já que além das premiações, ele passou a ser um encontro anual que reunia pessoas do mundo inteiro em prol do meio ambiente, com inúmeras discussões e debates.

No ano passado, o festival recebeu público de 40 mil pessoas em seis dias de evento. Segundo a organização, 6 mil visitantes passaram pelas salas de cinema, oficinas e minicursos realizados ao longo dos seis dias de programação. O cinema goiano esteve presente com 47 obras e, ao todo, foram exibidos 101 filmes, de diversas nacionalidades, entre curta, média e longa-metragem.

Além disso, a última edição contou com três meses que debateu meio ambiente, três cinemas e 17 oficinas, bem como laboratórios e minicursos. Também houve programação musical com 13 artistas, que iam do samba à Música Popular Brasileira. Artistas de renome no cenário nacional, como Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, participaram do festival.

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