Armando Acioli,Especial para Opinião Pública
Neste 30 de abril de 2015 em que estaria completando o 110º aniversário de seu nascimento, temos o dever cívico, com este artigo inaugural, no Diário da Manhã, de prestar justa homenagem póstuma àquele que dedicou sua vida ao combate das injustiças e aos desmandos em Goiás e no País, além de ser o paladino da ética e da moralidade em sua trajetória política, na gestão pública e jornalismo do melhor quilate no ataque à corrupção e defensor incansável dos oprimidos. Trata-se da respeitável e imortal figura de Alfredo Nasser, a quem tivemos a honra de conhecê-lo nos primórdios da década de 1960. Além de político exemplar, exerceu relevantes funções no cenário da vida pública do Estado e do País: deputado estadual, federal, senador e ministro da Justiça e Negócios Interiores no governo parlamentarista de João Goulart. Seu discurso de posse no Ministério da Justiça foi a 13 de outubro de 1961, conforme narra seu sobrinho-neto Fábio Nasser Custódio na biografia do livro O líder não Morreu – Alfredo Nasser, 2ª edição revista e ampliada por sua sobrinha e também jornalista Consuelo Nasser. Esse livro nos foi autografado por Consuelo, colega de cobertura dos trabalhos no Legislativo goiano, em 27.03.02. Guardo-o com carinho.
Por então decisão do deputado Sidney Ferreira, grande amigo de Nasser, o prédio da Assembleia Legislativa recebeu o nome do honrado político goiano com o seu busto, constando dele a seguinte inscrição de autoria dos jornalistas Batista Custódio e Consuelo Nasser: “Alfredo Nasser veio de épocas que não chegaram ainda, e morreu como um poema que se estendesse sobre a vida. Maior orador de seu tempo, melhor jornalista de sua geração, deputado estadual, senador, deputado federal, ministro da Justiça e Negócios Interiores, (tendo acumulado o cargo de primeiro-ministro da República), ele soube exercer a política como um apostolado e trilhou a vida pelos sinais da humildade. Pobre, honrado, justo, bom, Alfredo Nasser dignificou Goiás numa legenda de lutas oposicionistas, cravando-se na memória coletiva como o grande defensor das liberdades públicas. Nascido a 30 de abril de 1905, o povo o perdeu para a história em 21 de novembro de 1965, quando representava o Brasil na Conferência da OEA. Ele continua aqui, distribuído na praça pública como semente das multidões”. Outro seu grande amigo, José Luiz Bittencourt, em suas oportunas considerações, diz: “Durante mais de 20 anos , enfrentando as turbulências da política de Goiás, vivenciando ideais e perseguindo a melhoria de nossas instituições, desfrutei de uma convivência bastante fraterna com Alfredo Nasser”. Cita ainda um sem-número de amigos.
No artigo Conversa Íntima, transcrito do Cinco de Março, de 9/11/1963, Nasser enaltece os jornalistas Batista Custódio e Consuelo Nasser e proclama: “Batista Custódio é um dos mais puros idealistas, um dos melhores espécimes humanos que já conheci. A sua bondade dói . O Cinco de Março tira-lhe o dinheiro e não lhe devolve um tostão. Nem ele precisa disso. O seu erro é imaginar que este mundo tem conserto, que lutar contra a corrupção vale alguma coisa. Nas longas conversas que temos tido, procuro transmitir-lhe o pouco que aprendi, um pouco do que me ficou das coisas que me feriram, um pouco do quanto o caminho a percorrer é longo e duro. Ele me ouve, silencioso, porque sabe que penso como ele. Bom, bravo e generoso”. E depois: “O mesmo se dá com Consuelo Nasser, minha sobrinha. Consuelo formou-se em Direito e ao nos encontrarmos, nos primeiros dias deste ano, lhe perguntei: Filha, que vai fazer? Ela me respondeu: trabalhar em jornal. Ao lhe fazer a pergunta esperava que me fosse pedir um emprego, uma oportunidade, um jeito de ganhar dinheiro. Ante sua resposta pensei no Jaime Câmara, no Braga Sobrinho , no Waldemar de Melo. Afinal, são meus amigos e não me seria tão difícil satisfazê-la. Ela ajuntou, antes que eu concordasse: No Cinco de Março. Adiante, Nasser acrescenta: ”Consuelo irá longe, tomem nota. Sua revolta contra as injustiças, a corrupção, as mentiras, a hipocrisia, trabalha em seu favor. Ela não calunia, sua linguagem é moderada, seu julgamento dos outros impressiona pelo equilíbrio”. Entre outros jornais dirigidos por Alfredo Nasser, marcou época no Estado de Goiás, o combativo “Jornal de Notícias” (1952-1960), sendo seu redator-chefe o ilustre e saudoso jornalista José Luiz Bittencourt. Nasser também escreveu uma série de artigos em O Popular e fez diversos pronunciamentos pela TV Anhanguera. Fazia revisão de seus artigos nas oficinas do jornal. Era grande amigo de Jaime Câmara, fundador do jornal com seus irmãos Joaquim Câmara Filho e Vicente Rebouças Câmara. No artigo Omissões do Tenente-Coronel Curvo (7/8/2012), entrevista que concedeu ao jornalista Rogério Borges, do Popular, fizemos referência à perseguições e prisões a jornalistas goianos pelo regime militar pós-64,entre os quais Jávier Godinho e Batista Custódio. O Cinco de Março chegou a ser fechado.
Quando assumiu o Ministério da Justiça em 1961, em Brasília, Alfredo Nasser (em Goiânia, ele morava num barracão na Rua 74, onde o visitamos certa feita), patriota e preocupado com a ameaça de invasão de ideologias estranhas, inclusive de Cuba e do bolchevismo , voltou suas atenções para a possível presença no Brasil do guerrilheiro e médico argentino Ernesto Che Guevara. Tudo, porém, não passou de meras conjecturas, pois Fidel Castro já havia implantado a ditadura cubana em 1958, enquanto Che Guevara, após se acampar em Sierra Maestra, desapareceu de Cuba, viajou por vários países e depois seguiu para a Bolívia , onde foi morto pelo exército boliviano a 8 de outubro 1967. Há uma versão de que teria sido morto em uma emboscada armada pela ditadura de Cuba em conluio com tropas do governo militar de René Barrientos. Na condição de médico, que se dedicou a salvar vidas, Che Guevara adotava como modus vivendi o princípio humanista do hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamas (Há que se endurecer, mas sem perder a ternura jamais). Voltando ao livro de Alfredo Nasser, ele tem apresentação de sua sobrinha, jornalista Consuelo Nasser, com prefácio do também jornalista Haroldo de Britto Guimarães e biografia do sobrinho-neto Fábio Nasser Custódio. Do livro também consta precioso memorial fotográfico de seus diletos familiares, além de amigos e amigas de sua estima. Do mundo espiritual, onde vive cercado de familiares de sua grande afeição, além dos que deixou neste planeta, Alfredo Nasser continua sendo o imortal e grande guerreiro universal.
PS: Saudação especial a toda equipe do Diário da Manhã, que sucedeu o Cinco de Março, ambos nos seus 56 anos de lutas pelas justas causas dos goianos e não goianos.
(Armando Acioli, jornalista e formado em Direito pela UFG)