Entrevista com a sobrinha do pintor, que revelou o lado familiar do artista italiano que se tornou um dos maiores expoentes do modernismo em Goiás
No próximo sábado, dia 9, em homenagem ao centenário de Frei Confaloni, o Museu de Arte Contemporânea de Goiás realiza a mais completa exposição de suas obras, com mais de 300 peças. O evento começa às 9h30, no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Uma das convidadas da celebração é Rosella Orsini, que é sobrinha do Frei e vive em Viterbo, na Itália Central. Ela visita Goiânia pela segunda vez, como a representante da família na celebração do centenário do pintor. No sábado, ela participa de roda de conversa com o público, que poderá saber mais sobre o início da carreira do pintor, quando ainda vivia na Itália. Ela esteve na redação do Diário da Manhã na última terça, e falou sobre o impacto de Goiás na arte de seu tio.
Giuseppe Confaloni, mais conhecido como Frei Nazareno Confaloni, nasceu em Grotte di Castro, na Itália, em 1917. Ele tinha 33 anos quando recebeu um convite do bispo Cândido Penzo para pintar os afrescos da Igreja do Rosário da cidade de Goiás, que havia sido construída 16 anos antes, no lugar da Igreja dos Pretos, demolida no início do século XX. O Frei passou dois anos na antiga capital, até mudar-se para Goiânia em 1952 – cidade que acolheu como sua até o final da vida, em 1977. Rosella conta que tinha apenas dois anos quando o tio cruzou o Atlântico. “Eu nasci em 1948, e meu tio veio para o Brasil em 1950. Ele não voltou à Itália por alguns anos, até a década seguinte, quando passou a nos visitar regularmente. Nesse período tive a chance de conhecê-lo muito bem.”
As impressões goianas, e suas consequências na forma de enxergar o mundo de Frei Confaloni foram percebidas pela sobrinha a partir das mudanças em sua arte. “Era uma adolescente quando ele passou a nos visitar. Algo havia causado grande choque nele, e influenciou muito na forma como ele pintava.” Ela comenta a transformação, comparando as madonas pintadas pelo Frei – desde a primeira, quando tinha 18 anos, em estilo rafaelita, até as últimas, que concebeu no final da vida, em estilo expressionista. “Ele estava tão profundamente envolvido com a vida humana deste lugar que posso ver isso em seu trabalho. Ele percebeu muito, interiormente, a região e o sofrimento do povo, que foi elaborado e expresso em toda sua obra. É a profunda alma de Goiás.”
VITERBO
A família do Frei, que vive na Itália, foi percebendo ao longo dos anos a fama que ele adquiriu em Goiás. “Foi uma surpresa. Fomos tomando consciência de sua imensa importância no Brasil depois de sua morte, quando muitas pessoas buscaram conhecer nossa família”, explica Rossella. Os escritores Emílio Vieira e Px Silveira e a historiadora Jacqueline Vigário são exemplos de pessoas que atravessaram o oceano em busca de aprofundar-se na história dele. “Conheço muitas pessoas daqui que nos visitam para ver os lugares onde meu tio esteve e as pinturas que estão na Itália. Como representante da família, percebo como elas sentem amor por ele, e sinto muito orgulho disso, assim como toda a minha família.”
O reconhecimento do trabalho de Frei Confaloni fora do Brasil ainda é embrionário, ocorre através de pessoas que conviveram com ele. De acordo com Rossella, quando estava na Itália, ele pintava retratos em retribuição às pessoas que o ajudavam em suas ações sociais, assim como fazia no Brasil. “Em 2007, após 30 anos de sua morte, foi realizada uma mostra em Viterbo com obras de familiares e amigos. Também houve uma exposição em Grotte di Castro, onde existe uma placa para que seja lembrada a casa onde ele nasceu.” Ela destaca o futuro como um dos maiores legados do tio. “Ele teve vários alunos, e colocou uma semente da arte cada um deles. Existem vários estilos e pessoas que não parecem ser ligadas ao Frei, mas estão através da semente que ele colocou na arte.”
EXPRESSIONISMO E DENÚNCIA
Além do lado artístico, que foi imprescindível para o desenvolvimento do modernismo na arte goiana, Confaloni atuava como líder religioso e social. O escritor Emílio Vieira, autor do livro Nazareno Confaloni & a arte moderna em Goiás, explica como isso se faz presente nas últimas madonas do Frei “Ele tinha atividade social intensa. Denunciou muitos problemas sociais. As madonas vieram de uma proposta mútua, construída em diálogo com Siron Franco. Um no sentido espiritual, e o outro no sentido existencial. Perceba o expressionismo de denúncia. A deformação, o drama social e humano. O homem reduzido quase que ao animal.” Emílio era uma das pessoas mais próximas do Frei, e lançou ainda em 1977 a proposta de um futuro museu em sua homenagem.
EXPOSIÇÃO “ABC CONFALONI – MODERNIDADE INAUGURAL E OUTRAS OBRAS”
Período de visitação: 9 de dezembro de 2017 a 25 de fevereiro de 2017
Abertura para convidados: 8 de dezembro (sexta-feira), 18 horas, com presença de autoridades e imprensa
Abertura ao público: 9 de dezembro (sábado), 9h30, com café da manhã
Local: Museu de Arte Contemporânea de Goiás/Centro Cultural Oscar Niemeyer
Entrada franca