A reaproximação do
senador eleito Sérgio Moro (União Brasil-PR)
com o presidente Jair Bolsonaro (PL)
reacendeu as pretensões do ex-juiz da Lava Jato de conquistar uma vaga no Supremo Tribunal
Federal (STF), de acordo com interlocutores
de ambos, ouvidos pelo Estadão.
Moro nega que tenha
negociado qualquer cargo para o apoio, mas aliados admitem que o movimento
político poderá trazer dividendos ao ex-ministro da Justiça e não descartam nem
mesmo a retomada de seu plano de disputar a Presidência da República, em 2026.
“Conhecendo um pouco do
Moro, acho que ele não descartou a possibilidade do Supremo e, se fizer tudo
direitinho, tem tudo para ser um grande nome para a Presidência”, disse o
empresário Pablo Marçal (PROS), que se juntou à campanha de Bolsonaro. Marçal
pode assumir uma cadeira de deputado federal, em 2023, após decisão da Justiça
Eleitoral, à qual ainda cabe apreciação de recurso apresentado pelo deputado
Paulo Teixeira (PT-SP), que perdeu a vaga.
Depois de pedir demissão
do Ministério da Justiça e acusar Bolsonaro de interferir na Polícia Federal,
Moro saiu do papel de crítico para o de apoiador da reeleição do presidente,
sob o pretexto de evitar a volta do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva,
ao Palácio do Planalto. O maior gesto foi concretizado no domingo, 16, com a
ida de Moro ao debate realizado pela Band TV. O senador eleito auxiliou
Bolsonaro no programa e foi reapresentado como linha auxiliar do atual governo
no combate à corrupção.
O convite para Moro ir ao
debate foi feito pelo próprio presidente em um telefonema, na semana passada. O
ex-juiz havia sido convidado para uma reunião com senadores eleitos no
Planalto, no último dia 5, mas optou por não comparecer ao encontro. Desta vez,
porém, ele aceitou o convite para ir ao confronto com Lula e municiou o chefe
do Executivo com perguntas sobre os esquemas de corrupção do PT e a
transferência de líderes do crime organizado para presídios federais.
A conversa entre
Bolsonaro e Moro ocorreu após intermediação do ex-secretário de Comunicação Social
do governo Fabio Wajngarten, que coordena a comunicação da campanha de
Bolsonaro. A deputada federal eleita Rosangela Moro (União Brasil-SP), mulher
do ex-ministro da Justiça, também foi entusiasta da reaproximação, com o
discurso de unir forças para derrotar Lula no segundo turno.
Reaproximação
De acordo com
interlocutores, o gesto de Moro serviu para reaproximar o senador eleito do
núcleo bolsonarista. Agora, ele poderá realimentar expectativas de ser nomeado
para Supremo Tribunal Federal (STF), se Bolsonaro for reeleito. No próximo ano,
duas vagas serão abertas na Corte. A indicação é feita pelo presidente da
República e precisa ser aprovada no Senado.
As pretensões de Moro vão
além e podem até render uma candidatura ao Planalto, em 2026. Com a reaproximação,
o senador eleito tenta consolidar um papel de liderança na direita e reforçar
seu próprio nome nesse campo. “Para o Moro, foi uma tacada de mestre”, afirmou
o deputado federal Junior Bozzella (SP), vice-presidente do União Brasil em São
Paulo e responsável pela filiação do ex-ministro ao partido. Na opinião de
Bozzella, a aliança traz ganhos para o senador eleito, mesmo que não atraia
novos votos para Bolsonaro.
E se Lula ganhar?
Interlocutores afirmam que uma vitória de Lula nas urnas dificultaria a
vida de Moro no Congresso. O ex-ministro teme ser alvo de tentativas de
cassação do mandato no Senado e de uma nova onda de questionamentos de sua
atuação como magistrado da Lava Jato.
Moro foi convencido de que fazer campanha para Bolsonaro reforça a
posição de que ele sempre foi contra o PT e o recoloca como nome da direita no
cenário nacional. “Isso é para mostrar que o inimigo do meu inimigo é o meu
amigo”, disse Pablo Marçal, um dos que incentivaram o presidente a fazer a
reaproximação, após ter contatos com o senador eleito.