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OPINIÃO

Uma análise psicológica do perdão

Perdoar ou desculpar alguém é bom e saudável, porém viver desculpando indefinidamente os erros alheios pode ser muito perigoso. As emoções enterradas e não verbalizadas se manifestarão de forma negativa em outras situações e com diferentes pessoas em nosso dia a dia.

“Não julgue para não ser julgado” – Jesus, portanto, o julgamento precipitado pode vir a ser o “fracasso da compreensão”, porque perdoar é, acima de tudo, a habilidade de compreender dificuldades em si mesmo e em outrem.

O perdão não dever ser visto apenas pelo caráter religioso, mas numa dimensão bem maior que reflete em todo o psiquismo do indivíduo; pois pela falta do perdão se adoece o ser integral imbuído no sentimento de culpa.

O perdão e a culpa estão tão entrelaçados como o amor e o ódio, não apenas no indivíduo em si, mas em suas relações interpessoais; porém podemos afirmar que dificilmente perdoaremos alguém se não perdoarmos primeiro a nós mesmos.

O autoperdão se envereda em fazer o nosso melhor hoje, “lutando” interiormente dentro de nós para eliminação ou sublimação das mágoas do passado e curar as dores do presente e, ao mesmo tempo, legitimar nossos projetos de vida para o futuro.

Quando o passado não passa é porque insistimos e persistimos na culpa que sobremaneira acarreta o sofrimento destruindo o ser nos conflitos existenciais de todo matiz. O passado passou e o único momento que temos é agora. Nos fala brilhantemente Carl Rogers em sua abordagem psicoterápica: “Terapia Centrada no Cliente” ou viver o “Aqui e Agora”, pois somente podemos por em prática nosso livre arbítrio no momento presente. Portanto ao perdoarmos a nós mesmos libertamos do pesado fardo da culpa, vergonha e perfeccionismo, liberando sentimentos de alívio e conforto interior.

O primeiro passo para o autoperdão é admitir nosso erro ou falha, aguilhoada às nossas fraquezas e, em seguido, nosso fortalecimento e maturidade psicológica se fará presente. Desfazemos as técnicas defensivas e facilitamos a boa comunicação, evitando, assim, a morte do diálogo reconciliador.

O autoperdão é um estado da alma que emerge de nossa intimidade, fazendo-nos aceitar tudo que somos sem nenhum prejulgamento. É quando passamos a entender que nossos aparentes defeitos são, só e exclusivamente, potenciais a serem desenvolvidos. E à medida que perdoamos nossos desacertos, começamos também a perdoar as faltas dos outros.

Perdoar-nos leva ao cultivo do amor a nós mesmos e, por consequência, aos outros; enfim, é a base que mantém a humanidade íntegra e solidária. Quando aprendemos a perdoar a nós mesmo estamos comungando com a ideia de possuirmos potencialidades ainda não desenvolvidas – seja intelectual, psíquica ou emocional. Assim os erros se transformam em lições preciosas e deles retiramos as bases seguras para o êxito futuro.

Como nos diz Hammed: “Nada está errado conosco, porque o que chamamos de imperfeição na vida, são somente lições não aprendidas e não compreendidas que precisam ser recapituladas.”

Quando compreendermos que somos apenas Um, buscaremos melhores caminhos para perdoarmos uns aos outros, para seguirmos na prática as palavras do Mestre: “Amai-vos uns aos Outros...”, pois, impossível é, amar sem perdoar. Mesmo porque toda criatura deseja a paz e a felicidade e quer afastar de si o sofrimento e a amargura. Sem duvida, esse é o objetivo de todo seres humanos.

Quando tomamos atitudes baseadas em mágoas, rancores e ressentimentos, é porque supúnhamos que isso nos parecia “melhor”. Agimos de acordo com nossa maturidade psicológica (espiritual) do momento para decidir e resolver nossas dificuldades existenciais.

Podemos afirmar que quando alguém pede perdão ou desculpas é porque reconheceu seu erro e solicita reconciliação pelo ato impensado e pelo comportamento equivocado, embora sabemos que muitas decisões e caminhos são escolhidos de forma inconsciente ou precipitada, sem levar em conta as possíveis consequências.

“(...)Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras” – Livro dos Espíritos, questão 661. As palavras educam; o exemplo arrasta. O ato de perdoar ou desculpar verdadeiramente requer amadurecimento e crescimento espiritual e, por consequência, certo grau de evolução, pois só se pode dar aquilo que tem.

Tento ajudar meus pacientes a se perdoarem para perdoar o outro dentro do processo de psicoterápico, pois como estamos falando, o perdão não pode ser tomado apenas do ponto de vista religioso, pelo contrário, está diretamente inserido em nossa estrutura psíquica e emocional com a capacidade de nos libertar ou nos aprisionar no sofrimento e na dor.

Porém, Jesus o Psicoterapeuta por excelência, estava com Deus e Ele com o Pai; por isso amava, perdoava, estimulava e incentivava a todos sem distinção. O amor da Misericórdia Divina é incondicional – não depende de nenhum tipo de restrição ou limitação. Ama, simplesmente por amar. O amor é único caminho para libertação do Ser. Da alma que anseia por liberdade e luz, conforme esclarecimentos no livro: Psicoterapia: o despertar d’alma, de minha autoria.

O autoperdão nos traz paz de espírito, independente de nosso credo religioso, habilidade para amar e ser amado e possibilidades para dar e receber serenidade. Ele nos livra do cultivo de uma fixação neurótica em fatos do passado  o qual nos impede o crescimento no presente.

Perdoar-nos elimina a ideia fixa no remorso por algo que aconteceu ontem e a ansiedade do que poderá ser revelado ou vir a acontecer amanhã.

Finalmente, podemos afirmar que o perdão nos liberta e nos cura de doenças psicoemocionais oriundas de nossas culpas e erros de ontem, que podem e devem ser perdoados para aprimoramento do espírito imortal que habita todos nós, não importando nosso credo religioso, pois são nossos atos e atitudes que escrevem nosso destino. Devemos assumir essa responsabilidade sem culpa perante a nossa própria existência.

(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, artista plástico, prof. Educação Física, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante)

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