O vinho mais caro não serve para nada se não sabe ter elegância com a vida
Diário da Manhã
Publicado em 10 de maio de 2018 às 00:43 | Atualizado há 4 meses
Ah!, o amor, este sentimento tão desejado e pouco compreendido que entre desencontros e encontros, voltas e descobertas, se apresenta inconfundível, se apresenta: amor! Querer amar é o mesmo que querer tocar, desejar eternizar cada momento e suas sutilezas marcantes, seus aspectos apaixonantes. E o vinho, ah!, o vinho, sempre presente nas noites.
Aqui na solidão da noite na minha cama com meus cachorros engalfinhados na minha perna, ouvindo minha playlist de jazz e, claro, com minha taça poética de vinho, começo rabiscando que é preciso que se embriaguem pela vida sem descanso. Com o quê? Com vinho, poesia, ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se nos sorrisos da vida.
Noites lúdicas, jogos de sedução eletrizantes, olhares trocados através das taças, erguidas para a saúde, para o bem, para a construção, para o amor, desejos, vitórias e conquistas.
Somos todos mortais até o primeiro beijo e o segundo copo, e qualquer um sabe disso. Por menos que saiba. O vinho transforma a indiferença em amor, o amor em sedução, corpos se entrelaçam em loucura nos lençóis brancos de uma noite sem fim.
Podemos nos comparar aos vinhos. Uns com a velhice se valorizam e só dão alegria; outros perdem as poucas qualidades que tinham e só dão tristeza, tornando-se chatos e insuportáveis.
M e u s leitores, claro, já sabem que sou apaixonada pelo vinho porque ele tem o poder de encher a alma de toda a verdade, de todo o saber e filosofia. Sou a verdade depois de duas taças, taí por que prefiro tomar meu vinho em segredo e admito no máximo um poeta compartilhar do mesmo cálice.
Que me perdoem os que não bebem, sem vinho não há amor. Ele revela os sentimentos. Vinhos, ligeiros, doces, encorpados, alegres, como o amor que se apresenta desvairado ou doente, imaginativo ou infértil, emocionante ou apático, alegre ou triste, verdadeiro ou falso. Nesta confluência dual, inspirados pela noite, iluminada pela luz do luar dos apaixonados, apaixonantes, desencorajados e felizes. Fazer amor sem amar, é como taça sem vinho, roupa sem etiqueta. A arte do amor é amar, amar com amor. Sem medida e sem pudor.
Sempre tenho um bom vinho, uma boa trilha sonora, meu canto, mas ainda sonho com minha alma gêmea. Sei que passar a amar e ser amado é como mudar a vida da água para o vinho. Mas corro o risco que o vinho possa ser amargo. Aí a minha preferência em querer vinhos nobres, complexos, suaves, jovens, com aromas de poesia e do luar. Exigente, não?
Sou um infinito de angústias. Isso supondo que seja eu mesma a protagonista para quem a felicidade só existe no minuto de uma boa gargalhada, um remédio que tem entre os efeitos, o mundo cheirando a uma chuva fina que cai sobre uma boa taça de vinho. Me sinto pilhada desde que nasci e que cansaço, pelo amor de Deus. Ainda bem que me recorro aos meus textos, a minha taça de vinho com medida. Fico triste quando alguém precisa de algo ‘que te tire de você’, que ‘te leve daqui”. Eu, hein?, só quero algo que me devolva a mim. Que me deixe ficar sentada, quieta, calma.
Muitos exibem uma carinha de vitimismo e histérica desenhada, preso por uma cordinha fraca que depende da boa vontade de quem segura. Aja paciência. Eu não, acho que alguém que estampa seu sofrimento no rosto e faz os outros à sua volta sofrerem também, é de uma arrogância egocêntrica sem limites. Sofro no meu silêncio, sempre, me deixo sofrer assim, choro em posição fetal na cama, completamente exaurida de mim mesma. Depois tiro sarro de mim mesma. O que me fez hoje ser uma pessoa leve? Vou contar um segredinho para você. Não compartilho o meu sofrimento,deixo para os ouvidos da minha psicanalista. Coitada dela. E também me procuro me cercar de pessoas que me fazem sorrir, estas sim, são especiais na minha vida.
Bebo vinho e de preferência sozinha, que é para ninguém me encher com o fato de eu ficar muito filosófica e um pouco solta no meu “sincericídio”. Costumo dizer para os meus amigos quando se encontram com problemas, beba vinho, é tudo o que a juventude lhe proporcionará. É tempo de vinho, flores e amigos soltos. Seja feliz nesse momento. Este momento é a sua vida.
Jesus transformou seis jarros de água (representando o princípio material) que foi transformada em vinho (que representa a espiritualização na matéria). Não nos transformaremos depois que morrermos. Nossa transformação começa agora, enquanto estamos encarnados, vivendo na matéria. A transformação da água em vinho é a transmutação da materialidade para a espiritualidade. Saber beber um vinho bom, sorrir, não exibir “sofrência” e não se embebedar, nós temos à nossa disposição uma doutrina condizente com as exigências do nosso grau evolutivo. Eis o mistério da fé e da leveza da alma.
A transformação do pão e do vinho, o exercício da fé, a paz no coração por crer em um Deus vivo em seu coração, porque a vida pulsa, e o tempo, ah, este é o nosso melhor amigo. O passado? Não volta, então, se apegue às recordações que te fizeram feliz. Procure fazer do hoje o seu renascimento e recomece, viva intensamente a vida, aproveitando o seu melhor. Ninguém suporta gente chata, que só reclama e não tem atitude. Procure se cercar de pessoas com energia boa e vibrante. A luz é para todos, mas só alguns a irradia. Que nunca falte Deus em nossa oração. Amor em nosso coração, uma pessoa a quem amar. E, claro, um bom vinho para acompanhar.
O vinho caro de nada adianta se você não consegue complementar este sentimento profundo de sabedoria do que está bebendo e senti-lo. Se bebido com prudência, com comedimento, ajuda muito na socialização, no bom relacionamento, na saúde, mas sem aquela de ficar falando, falando tipo enochato, não suporto. Muitos pomposos enófilos procuram desfilar seus conhecimentos sem bem saber o que dizem. Sinto o vinho quando – ao lado de amigos e família – ele desenvolve em mim encontros das almas em sintonia, glorificados pela troca, consagrados pelo destino. Amores que vêm e vão, que coexistem, que se fortalecem, que se eternizam por vezes, que nascem e morrem rapidamente. Que permanecem e resistem na eternidade. Assim são os bons vinhos, eternizados na memória sensorial de quem os provou e direcionou à consagração do belo, em seu estado pleno de felicidade e elegância com a vida.
CAÇAROLAS E VINHOS DA SEMANA
PORTO CAVE
Cozinhar é como um espetáculo: é preciso muita organização, treino, dedicação, conhecimento e amor para que, no final, os cinco sentidos o aplaudam. Fico muito emocionada quando encontro um chef que consegue me fazer escrever poesia no local. E numa dessas minhas andanças me lembrei de um restaurante português que gosto muito e fazia um bom tempo que não ia ao local. Confesso que não entendo o porquê, amo bacalhau já fui a Portugal e provei muitas delícias por lá, mas nada se compara, por incrível que pareça, com as delícias da chef Edvania. O melhor bacalhau com natas da cidade, não ficando atrás de Lisboa, situado no país do verdadeiro bacalhau. Lá comi vários pratos além de bolinho de bacalhau e acho que a chef se aprimorou em muito e hoje nós temos o privilégio de viajar na poesia da Edvânia. Porto Cave é um lugar atípico, depois de anos ainda continua no centro de uma garagem de uma casa no Setor Marista. O que mais gosto é a chef ir ao salão com seu sorriso tímido perguntar aos clientes se estão felizes com sua iguaria, e fiquei observando a reação dos clientes e via um sorriso de enorme satisfação. Seu marido, José Pedro, um sommelier que entende muito de vinhos portugueses com sua simpatia e saberes pela bebida de baco nos oferecia uma carta infinita de vinhos. O espaço não tem um projeto de arquiteto, o que o torna atípico e nos remete a restaurantes em Lisboa das mamas portuguesas, mas é elegante na gastronomia e nos saberes de pratos portugueses. Super recomendo!!
VINHOS – PORTUGAL
Portugal é um dos mais tradicionais países produtores de vinhos do mundo, onde foram criados vinhos clássicos, como o Vinho do Porto e o Vinho Madeira. Com mais de 250 tipos de uvas nativas cultivadas em seus vinhedos, o país é responsável pela elaboração de vinhos que encantam os nomes mais exigentes da crítica especializada.
Até há alguns anos, os grandes vinhos portugueses estavam limitados aos vinhos fortificados (produzidos com acréscimo de aguardente vínica), mas hoje Portugal vive uma verdadeira revolução vitivinícola, apresentando ao mundo produtos de classe mundial, capazes de concorrer com o melhor produzido na Europa e no Novo Mundo.
O clima quente de algumas regiões, aliado ao terroir privilegiado e às modernas técnicas de produção utilizadas na elaboração de seus vinhos, tem garantido a Portugal vinhos concentrados, complexos e únicos, geralmente apresentando uma excelente relação qualidade/preço.
LAGOALVA TINTO 2016
Elaborado com um corte das melhores castas portuguesas, de modo a obter um vinho equilibrado e complexo. Com coloração ruby, é um vinho elegante, com intenso aroma de frutas vermelhas e notas de baunilha. No palato, é redondo e equilibrado, uma delícia de beber.
CONVERSA 2016
Elaborado com diversas castas portuguesas, incluindo Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, o Conversa é uma das recentes criações do genial Dirk Niepoort, feito em um estilo saboroso e convidativo, com ótima complexidade. O rótulo é uma atração à parte, com uma simpática história em quadrinhos. Fresco, equilibrado e incrivelmente saboroso, é um dos vinhos de melhor relação qualidade/preço do Douro na atualidade.