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OPINIÃO

DO ANTES E DO AGORA

Erico Curado formou-se em Direito. Foi poeta, escritor, jornalista, advogado e promotor público na Cidade de Goiás. Escreveu para vários jornais de Anápolis e da Cidade de Goiás. Seu primeiro livro Illvminvras (1913). Sua produção literária apresentava características de “nefelibatismo”, em que privilegia o conteúdo mais que a forma. Teve participação ativa no Congresso Nacional de Intelectuais, realizado em Goiânia, em 1953. Pertenceu à Academia Goiana de Letras, (Posse - 29/09/1957). Seu segundo livro Poesias (1956), considerado a maior expressão da corrente simbolista em Goiás, recebeu, em 1957, o Prêmio Bolsa de Publicação Hugo de Carvalho Ramos. É pai do escritor Bernardo Élis.

Erico Curado

Marli Gonçalves de Assis é formada em Artes Visuais e Artes Plásticas, com habilitação em pintura e gravura, pela Universidade Federal de Goiás - UFG. Foi professora da Universidade Estadual de Goiás - UEG, na cidade de Silvânia, onde reside. É professora no Centro Livre de Artes - CLA da Secretaria Municipal de Cultura, órgão da Prefeitura de Goiânia, há mais de 30 anos. No CLA, foi, durante muito tempo, coordenadora do curso de Artes Plásticas. Promove e participa, junto aos alunos, de exposições e mostras de pinturas e desenhos.

Marli Gonçalves de Assis

Poemas do escritor Erico José Curado (Pirenópolis-GO, 18/05/1880. Goiânia-GO, 11/01/1961). Telas da artista plástica Marli Gonçalves de Assis (Anápolis - GO)

INDA HOJE ME RECORDO


Inda hoje me recordo com saudade,

Ao rever essa casa em que habitamos,

Das carícias, da terna suavidade

Da tua voz, o os beijos que trocamos.

Que ternura de abril, que suavidade!

Azul de céu, trilhar de gaturamos...

E os soluços, - enchendo a imensidade

Da voz do campanário, onde rezamos...

E me lembro da alcova em que, assentados,

A cismar, eu e tu, no mesmo leito,

Eu mordia-te os lábios perfumados.

Foi um hino de luz o nosso amor...

Hoje, morto, em saudades já desfeito:

- Doce aroma sutil - de extinta flor.

AO ESPLENDOR DAS MANHÃS


AO ESPLENDOR DAS MANHÃS

Ao esplendor das manhãs, silencioso e contrito,

Como é belo e sublime - olhar-se a natureza:

Sentir-se dentro d'alma esse afago bendito

Que em perfume conduz de devesa em devesa!

Ver-se um céu sempre azul, perder-se no infinito,

E das aves ouvir-se um hino de pureza,

E o rumor da floresta e dos montes o grito,

Num concerto divino à suprema beleza...

E, além, o vale imenso e o rio que, disforme,

Das brumas vai seguindo o branco vulto enorme!

Desatam-se em perfume os brancos laranjais...

E o gado vem descendo em procura de aprisco,

Abre-se então o sol, em fogo, o flavo disco,

E, aqui e ali, se exalça a alvura dos casais...

SONETO


SONETO

Gusla maviosa - ou trêmulos violinos…

Luas de Maio, ó brisas vesperais,

Olhos que exalam sonhos levantinos,

Linhas quebrando em formas imortais!

Sinfonias da Luz, nênias dos sinos,

Lendas e sagas, noites medievais,

Lírios e rosas, níveos, purpurinos,

Fazei meus versos vagos, musicais!…

Fazei meus versos de um lavor sutil…

Rimas brilhando em cadencioso aceno,

- Murmúrio esparso de um rosal de Abril!

Fazei meus versos leves, como um trilo,

Como o sorrir de um bandolim sereno:

- Salmos de amor, - em blandicioso estilo!…

CHEGA RISONHA, LÂNGUIDA


Chega risonha, lânguida, cansada,

Ascende um cheiro tépido de rosas...

E erra na alcova agora iluminada,

Um suspiro de rendas vaporosas.

E assim risonha, tímida e assustada,

Deixa cair as vestes perfumosas...

E alva e excelsa de beijos circundada,

Tremem-lhe as formas lúbricas, nervosas!

E nua a espádua que de amor rescende

O ventre e os seios a ascender desejos

Sorrindo, as tranças, tremula desprende...

E a cabeleira que o seu corpo inunda,

- como uma noite tropical, profunda,

Veste-a de um manto rútilo de beijos.

QUANDO TU CANTAS


QUANDO TU CANTAS

Quando tu cantas nessa voz dolente,

Queixosa e amarga, - voz das elegias...

Quando tu cantas, minha alma de crente,

Benta na unção das velhas liturgias,

Parece que se evola brandamente,

Para as regiões da luz, das harmonias;

E, comovida e terna e reverente,

Fica absorta n'um sonho de magias...

Tarde. - Angelizam-se do poente as cores,

Sobe da Terra um salmo de amargores

E a noite cai povoada de fatigas...

Ah! Canta nessa voz abemolada,

- De dores, de saudades repassadas,

Cheia das mágoas das canções.

À TARDE, NUVENS DE ROSAS


À TARDE, NUVENS DE ROSAS

À tarde, nuvens de rosas

Franjam de sangue o horizonte,

Um monte além outro monte,

Entre sombras misteriosas.

As águas cantam ruidosas,

Luzindo à sombra da ponte.

São frescas águas da fonte,

Que vão cantando saudosas...

Em bandos passam morcegos,

As rãs coaxam nos regos

Geme o vento em disparada...

E entre as estrelas, no poente,

O arco-de-ouro do Crescente

É uma foice ensanguentada!

A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora e acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 221ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]

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